Quase completando seis décadas de carreira, Mauricio de Sousa realizará hoje, às 19 horas, uma palestra para alunos das redes pública e privada na Escola Elizângela Glória Cardoso, em Palmas. Pai de dez filhos, o cartunista criou em 1959 seu primeiro personagem, o Bidu. Nos anos seguintes vieram o Cebolinha, Piteco, Chico Bento, Penadinho, Astronauta... Até que, em 1970, lançou a revista da Mônica. Os sucessos mais recentes são a Turma da Mônica Jovem e a Mônica Toy. Também expandiu seu universo com projetos como as Graphics MSP, em que autores convidados reinterpretam seus personagens clássicos. Ele é um dos mais famosos e premiados autores brasileiros e já foi homenageado na 9ª edição do Salão do Livro do Tocantins, em 2015.

 

Qual foi o maior aprendizado ao longo de quase seis décadas de Turma da Mônica?

Ter certeza de que o aprendizado nunca termina. Sempre temos algo mais para aprender. Isso é que faz nosso trabalho um desafio constante e uma alegria em poder realizar novas ideias a cada momento.

Na sua visão, o que explica a longevidade da Turma da Mônica e de outros personagens?

O sucesso não só depende de uma boa criação de personagens e de histórias mas de poder criar uma estrutura para isso. No começo eu fazia tudo, inclusive visitar redações de jornais pelo interior de São Paulo para vender as tiras em formato de clichê (chumbo com o desenho em alto relevo para as impressoras). Quando a minha produção teria que ser de mais de 200 páginas por mês de historinhas (hoje mais de 1.400), ficou impossível sem montar uma equipe. Hoje desenhistas e roteiristas fazem esse trabalho mas nenhuma história é publicada sem passar por minha aprovação e algumas mexidas. Com isso consigo manter a qualidade original.

Como enxerga cenário nacional atual para os quadrinhos?

Apesar das novas plataformas de comunicação na área digital os quadrinhos impressos ainda estão ganhando novos leitores. Isso demonstra que as crianças e jovens são conquistados pelo conteúdo e não apenas pelo modo de comunicação utilizado. Nossa série de graphic novels MSP onde convidamos desenhistas para desenvolverem nossos personagens em histórias e estilos próprios é o setor que mais cresce. Além de trabalharmos nossos personagens como inspiração para esses autores, também colaboramos para firmar desenhistas mais no mercado. Basta ver o sucesso da dupla Lu e Vitor Cafaggi, que utilizaram a Mônica para uma história (Laços) que foi sucesso e agora está sendo transformada em filme com estreia em 2019.

Como trabalhar com os quadrinhos e tirinhas em um mundo cada vez mais tecnológico?

Eu estou ligado na parte de comunicação que a tecnologia proporciona para exercer uma interatividade com o meu público. Temos que seguir junto com a evolução e as novas plataformas de comunicação. Mas sem esquecer da base de nossa atividade que vai além disso. Mantenho, em meu estúdio, desenhistas que ainda desenham sobre papel e preservo essa forma quase que artesanal de trabalho. Um computador pode quebrar mas ainda teremos um lápis que não depende de software mas da criatividade pura do artista.

Com o tempo houve mudanças nos personagens que criou? Como manteve a essência?

As mudanças foram mais na parte estética devido às novas plataformas de comunicação que foram surgindo e também procurando a comunicação na linguagem da vez. Estamos com linhas diferenciadas com a Turma da Mônica Clássica, Turma da Mônica Jovem e agora a Turma Mônica Toy. Todas com sucesso absoluto. No caso da turma jovem é a revista de quadrinhos de maior vendagem no ocidente. Mônica Toy é um sucesso com mais de 5 bilhões de visualizações. Não nos acomodamos porque os leitores e fãs estão mais exigentes.

Seus personagens são redescobertos a cada nova geração. Como você vê esse legado?

É gratificante saber que além das crianças temos pais e avós que já leram as aventuras da Turma da Mônica. Procuramos estar antenados na linguagem do dia, nas preocupações e brincadeiras atuais. Conseguimos dialogar em tempo real e tudo isso em prol das nossas criações que se mantém próximas dos leitores por gerações.

O que pretende trazer para a palestra de hoje em Palmas?

Sempre que me encontro com os fãs da turminha começo falando de como tive que enfrentar os grandes obstáculos para poder viver de minhas criações. Tive que ser persistente. Acreditar em mim. Na realização do sonhos. Depois abro para perguntas porque cada um suas curiosidades que sempre me ensinam.

Qual a importância dos quadrinhos na formação das crianças e adolescentes hoje?

Sem dúvida no estímulo à leitura. Eu mesmo passei por isso. Meus pais traziam revistas em quadrinhos que eu lia rapidamente. Depois de um tempo já não bastavam os quadrinhos e comecei a ler livros. Acabei me tornando um escritor que também desenha. Hoje nossas revistas são como que uma espécie de cartilhas de ensino informais que ajudam na alfabetização.