Rodolfo Viana (Folhapress)
São PauloHá 15 anos, As Mentiras que os Homens Contam chegou às livrarias predestinado a ser um best-seller: seus textos curtos versavam sobre um tema saboroso – a falsidade cotidiana no universo masculino – e eram apresentados com a mais fina ironia. Quinhentos mil exemplares vendidos depois, Luis Fernando Verissimo volta a tratar de mentiras, mas agora aponta o dedo para o sexo oposto.
Nas pequenas e divertidas crônicas de As Mentiras que as Mulheres Contam, o escritor gaúcho destrincha as lorotas que tomam os dias delas. “Quando saiu As Mentiras que os Homens Contam, era comum perguntarem quando sairia um livro com as mentiras das mulheres”, afirma Verissimo, por e-mail. “Eu respondia que nunca, pois seria um livro grande e caro.”
A coletânea é composta por crônicas publicadas na imprensa nos últimos anos, mas uma delas é inédita e trata da mentira primordial: quando a mãe tenta alimentar o filho fingindo que aquela colher com papinha é um aviãozinho.
Desde então, a mulher não para mais: inventa um amante para o marido ter ciúmes, diz ter anos a mais para que seja elogiada pelas rugas a menos, mente sobre o preço inflacionado que pagou por uma bolsa para não parecer ingênua às amigas...
O lado bom
Verissimo garante: nunca mentiu em 79 anos de vida. “Esta é a primeira vez”, brinca. As personagens do seu livro, por outro lado, inventam as histórias mais improváveis para sair de uma situação. Uma delas é Maria, que, grávida, não sabe dizer quem é o pai da criança – e levanta suspeitas até mesmo sobre quem é a mãe. Outra é uma mulher que, entediada com sua rotina e sem amores nesta vida, escuta um homem cego chamar por Isabel e finge ser a própria – inclusive passa a morar com ele.
À parte o nonsense de alguns episódios, há na coletânea histórias que permeiam nosso cotidiano, em que pequenas falsidades são tanto comuns quanto úteis. O escritor acredita na função benéfica de uma mentira, quando “é usada para não magoar, para salvar um relacionamento ou para evitar uma briga”. E, por falar em relacionamento, o que sua mulher, Lúcia, achou de seu livro – um raio-x das mentiras femininas? “Ela leu as crônicas quando saíram na imprensa. Continuamos casados”, diz.
Oitenta anos
Verissimo lança As Mentiras que as Mulheres Contam a um ano de completar oito décadas de vida. É tempo de fazer um balanço de como as coisas foram até agora. “Quase me fui”, diz, referindo-se aos problemas de saúde do fim de 2012, quando foi internado após uma infecção generalizada causada por vírus da gripe comum. “Infelizmente, o ocorrido não me ensinou nada, não provocou nenhuma experiência mística. Felizmente, não me matou.”
Quanto à carreira nas letras, Verissimo se diz satisfeito: “Não acho que o que faço tenha muito mérito literário, mas não posso me queixar.” Ele enumera os marcos de sua carreira como cronista, que começou em 1969, no Zero Hora. “O Analista de Bagé foi o primeiro livro a ter repercussão. O Jardim do Diabo foi importante porque era o primeiro romance. Dos romances, O Clube dos Anjos teve boa carreira e foi traduzido até na Coreia e na Sérvia.”
Quanto a erros cometidos, “foram muitos palpites infelizes, como colunista”. Verissimo, contudo, não sabe citar um em particular, o que levanta dúvidas sobre a veracidade desta informação.
Serviço
Livro: As Mentiras que as Mulheres Contam
Autor: Luis Fernando Verissimo
Editora: Objetiva
Páginas: 184
Quanto: R$ 34,90
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