Os museus e centros de cultura têm papel de destaque no registro histórico e na garantia de que essa memória também seja acessada pelas gerações futuras. No Tocantins, o governo do Estado catalogou 18 locais, entre museus e casas de cultura, que estão distribuídos entre várias cidades.

Em Palmas, os turistas que aqui chegam em busca da história do Estado podem se deparar com problemas no Museu Histórico do Tocantins – Palacinho e no Memorial Coluna Prestes. A reportagem do Jornal do Tocantins visitou os dois espaços a fim de verificar a situação.

Construído em 2000 e inaugurado em 5 de outubro de 2001, o Memorial Coluna Prestes se refere ao movimento político-militar Coluna Prestes e a sua passagem pelo Tocantins entre os anos de 1920 e 1930, antes mesmo da criação do Estado. O primeiro problema constatado é logo na entrada, pela rampa de acesso, que está inutilizada e a entrada passou a ser feita pela lateral que dá acesso ao teatro de bolso.

Durante a visita chamou a atenção a presença de uma caixa para arrecadar fundos para manutenção do espaço. A caixa estava disposta em uma mesa, mas foi retirada após a reportagem questionar a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia, Turismo e Cultura do Tocantins, sobre a origem e o destino do dinheiro que teria sido arrecadado.

Outro problema constatado foi a falta de climatização no andar superior que recebe o acervo do museu. No local não havia refrigeração e estava quente e abafado, inclusive algumas fotografias e documentos apresentavam início de deterioração. Outro ponto visto foram as cadeiras do teatro. Algumas estavam quebradas e outras com reparos feitos com fitas.

A estudante de Arquitetura e Urbanismo Vívian Albuquerque Leite informou que teve a chance de estudar os dois locais. “A preservação é de suma importância e realmente percebe-se um descaso. A população não enxerga e não tem conhecimento da situação dos locais. Acredito que falta verba para garantir a manutenção e melhorias no Palacinho e no Memorial”, explica.

Palacinho

Já na visita feita ao Palacinho foram constatados alguns problemas quanto à manutenção e limpeza do local. A reportagem observou a falta de vidros em portas e em alguns locais a necessidade da substituição, já que estavam quebrados. Em uma das salas, o espaço em que deveria ter uma vidraça foi tampado com papelão e fita.

Outro problema constatado foi a falta de uma limpeza adequada do local, com luminárias sujas, resquícios de teias de aranhas e poeira nas paredes de madeira, que também precisam de reparos.

A reportagem também descobriu uma sala fechada no piso superior, que através de uma abertura na parede, foi possível ver uma espécie de depósito, com a presença do que aparentava ser uma pintura em meio a outros objetos.

No mesmo terreno do Palacinho funciona a Biblioteca do Autor Tocantinense composta por livros de autores tocantinenses, livros de literatura infantil, fotografias e reportagens publicadas e revistas citando assuntos pertinentes à história do Estado. No local, livros empoeirados e alguns ainda embalados e dispostos nas prateleiras com data de postagem da doação referente ao ano de 2014.

Além disso, a sala da Biblioteca do Autor Tocantinense estava com piso rachado e os aparelhos de ar-condicionado visivelmente quebrados. Também havia problemas na iluminação como a falta de lâmpadas e fios expostos.

Faltam políticas públicas

Para Junior Batista, professor, historiador, geógrafo e membro da Academia Palmense de Letras, a falta de renovação das memórias e informações também é um gargalo. “É preciso pensar nos museus em torno de três aspectos. O primeiro deles diz respeito à conservação do espaço físico; o segundo refere-se ao acesso dos públicos com a participação de escolas, turistas e tudo que facilite a população a usufruir desses locais e por último e ponto mais importante é a renovação. É preciso investir em novas pesquisas, pois a história se constrói a cada dia”, explicou o professor. Batista defende que essa renovação é o que torna os museus mais atraentes. “De lá para cá não mudou nada no Palacinho. Precisa ser atrativo. Faltam políticas públicas. Se o poder público não possui recursos financeiros, que trace estratégicas para conseguir parcerias com instituições privadas, nacionais e internacionais”, recomenda. 
Na visão do também historiador e professor José Gonçalo Mendes da Silva esses lugares fazem parte da memória coletiva de determinado grupo e as políticas públicas de preservação de bens históricos e culturais precisam ser pensadas e executadas. “Valorizando tudo que é relativo à identidade, a história e a memória de um povo, é preciso que haja sensibilidade e compromisso com a preservação do patrimônio histórico”, destaca. 

Secretaria afirma ter pedido reforma

Questionada sobre os apontamentos da reportagem, a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia, Turismo e Cultura do Tocantins, por meio da Superintendência de Desenvolvimento da Cultura (Seden-TO), informou por nota enviada por e-mail que o Museu Histórico do Tocantins realiza visitas guiadas e recebe alunos para atividades direcionadas de escolas e de Instituições de Ensino Superior. “Ainda desenvolve atividades em alusão à Semana dos Museus, realizada no mês de maio e a Primavera dos Museus, realizada no mês de setembro”, diz trecho da nota.

Entre os questionamentos estavam os problemas estruturais, de limpeza e também o pedido de data quanto à previsão de reforma do local, bem como o que foi realmente executado na última restauração do prédio realizada ainda em 2008, conforme Portaria Nº 009, de 13 de março de 2008 e um Extrato de Contrato para Execução de obra referente à reforma e paisagismo datado de 11 de setembro de 2013, ambos publicados no Diário Oficial. Quanto a esses pontos a nota informou apenas que um levantamento acerca da estrutura física já foi feito, bem como o processo de reforma do Palacinho já foi encaminhado à Secretaria Estadual da Infraestrutura e Serviços Públicos (Seinfra). “Paralelo à tramitação do processo, a Seden está fazendo um levantamento da demanda de reparos pontuais e emergenciais que possam ser solucionados pela própria Secretaria”. No que diz respeito ao acervo do Palacinho, a superintendência informou que “com a reforma, todo o acervo ficará alocado apropriadamente para exposição ao público”, diz a nota.

Em relação à sala que aparentava ser um depósito, a superintendência não explicou do que se tratava, nem que peças estão no local. Sobre a origem dos recursos para a manutenção e funcionamento tanto do Palacinho quanto do Memorial, a superintendência informou que os prédios não dispõem de uma fonte de recursos exclusiva para a sua manutenção ou funcionamento. E que também não é cobrada nenhuma entrada ou qualquer valor para a utilização dos espaços por terceiros. “Os recursos para manter seu funcionamento fazem parte do orçamento da Secretaria do Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia, Turismo e Cultura (Seden), que, devido ao contingenciamento de gastos, também foi reduzido”. Na resposta não foi informada a origem da caixa de arrecadação vista no Memorial.
Sobre a mudança no acesso ao Memorial, a superintendência justificou que ocorre devido ao problema na refrigeração do espaço, mas que isso não está prejudicando a visitação.

Ainda segundo a superintendência, um levantamento referente a estrutura física já foi feito e que, assim como o Palacinho, o processo para a reforma já foi encaminhado à Seinfra, bem como o fato de que a Seden está fazendo um levantamento da demanda de reparos pontuais e emergenciais que possam ser solucionados pela própria secretaria, não deixando claro quanto tempo o ar-condicionado na parte superior está danificado e nem o prazo para resolução do problema. A superintendência também não se posicionou sobre os danos ao acervo fotográfico, nem sobre a situação das cadeiras que necessitam de reparos ou até mesmo troca por novas peças