A música brasileira tem parcerias musicais consagradas. Vinícius de Moraes-Toquinho, Tom Jobim-João Gilberto, João Bosco-Aldir Blanc, Roberto Carlos-Erasmo Carlos, Ivan Lins-Vitor Martins e Raul Seixas-Paulo Coelho são algumas delas. 

Regionalmente também há trabalhos consistentes. Há registros clássicos, por exemplo, no Tocantins e em Goiás, onde se despontam parcerias como as de Genésio Tocantins-Juraíldes da Cruz, João Caetano-Tavim Daher, Gustavo Veiga-Carlos Brandão, Fernando Perillo-Carlos Ribeiro-Nasr Chaul e Marcelo Barra-Rinaldo Barra-Luiz Junqueira.

João Caetano e Otávio Daher (Tavim Daher) formam, seguramente, uma das mais consagradas parcerias musicais goianas que fizeram sucesso, romperam fronteiras, emplacaram em trilhas de novelas e ganharam leituras e releituras de vários intérpretes.

As relações de amizade e musicais do médico, músico e empresário João Caetano com o arquiteto, letrista e empresário Tavim Daher começaram no tempo-espaço geográfico entre Mossâmedes e Vila Boa, interiores de Goiás onde nasceram.

Tavim faleceu em julho deste difícil 2020 pondo fim a um casamento musical de quase cinco décadas com João Caetano, que em meio à tristeza e a saudade, resolveu fazer um disco-tributo ao amigo e parceiro de tantas canções, tantas histórias e tantas lembranças.

Marcada por forte emoção pelo momento de despedida, a produção do CD “Parceria” acabou trazendo explícitos sentimentos de nostalgia, amizade e até de celebração por tão profícua parceria. João se acercou de, mais que músicos, amigos e pessoas que têm afinidades com ele e com Tavim.

Neste disco em que ele divide produção musical com Ivan Lins, Ricardo Leão, João Castilho e Gilson Peranzzetta, estão músicas inéditas em sua voz e outras que o próprio Tavim achava que mereciam novas leituras, outras roupagens. 

E entre os seus seletos parceiros musicais, Tavim Daher foi sua alma gêmea como traduz na música-tema que abre este álbum e emocionalmente interpretada por ele: “...De nossas mãos / nasceu parceria / Minhas palavras / seu violão / É quase igual a nascer / do ventre de uma canção / Letra por letra / Nota por nota / Minhas palavras /  Seu violão / É quase igual a morrer / No fim de cada canção / E se eu viro João / Você vira Otavinho / e um espaço vazio /Vira redemoinho / Sua música abraçou / Minha angústia  falada / Sua música levou / Sonhos, palavras / Pra alguém ouvir...”. 

Já no disco anterior – “João”, lançado em 2019 -, Tavim escreveu no encarte abaixo da letra da música “Porta Retrato (dos dois): “Não tinha escapatória. Ele estava, junto a tantos, na parede da sala de som. Bem na minha frente. Eu fiquei tão à vontade na música que tive a certeza de que João e eu somos parceiros de nascença”. 

Reforçam o repertório os letristas Nasr Chaul e Carlos Brandão, que não escondem a emoção ao homenagear Tavim em duas canções. Chaul já era parceiro do Tavim e neste disco assina com João a emblemática “Velho amigo”, que já tinha melodia ainda não letrada e passada para o Chaul em abril deste ano, mas só concluída em julho depois da partida do Tavim.

“Otávio”, a outra canção-póstuma neste disco, é uma parceria de João Caetano com o experiente Carlos Brandão nascida de forma muito emocional. Ele lembra das muitas manifestações sobre a partida do parceiro, entre as quais uma que o Brandão lhe mandou falando de sua admiração pelo Tavim.

João havia provocado Brandão a fazerem uma música pra Mossâmedes, terra dos dois, mas depois de muito conversarem madrugada adentro sobre Tavim, Brandão resolveu escrever sobre ele e não sobre a cidade onde nasceram e o resultado está em “Otávio”.

O CD traz 12 faixas. Abre com “Parceria” e segue com “Luas”, “Cantiga”, “Um rio”, “Beira rio”, “És amiga”, “Nada a perder”, “Otávio”, “Índios”, “Procissão do Fogaréu”, “Velho amigo” e termina com “Colheita”. Claro, ficaram de fora “clássicos” da dupla como “Roda Gigante”, “Pega”, “Moldura Velha”, “Guardião”, “Triste Papel” ou “Novilha”. 

Algumas delas ficaram conhecidas nacionalmente ao embalarem tramas de novelas como “O direito de amar” (Guardião, com Ivan Lins na parceria), “Fera Radical” (Pedaços), “Salvador da Pátria” (Tá na terra) e “Pão pão, beijo beijo” (Doçura – esta na interpretação do grupo “Quarteto Em Cy” e as outras na voz de João Caetano), todas na Globo, além de “Pantanal” (Meu coração) na extinta Manchete e “Bicho do Mato” (Retratos do Brasil, esta, parceria de João com Nasr Chaul) na Record.

O CD é carregado de emoção. João teve todo o cuidado de ressaltar o trabalho e a importância do Tavim, destacando uma relação de amizade, admiração e respeito. No encarte do disco, fotos do Tavim, da esposa Magali, das filhas Luisa e Anna Paula, do irmão Teteto, dos outros parceiros, músicos, textos carinhosos do João e da Anna Paula e o traço marcante do chargista e cartunista Jorge Braga. Uma homenagem à altura de uma rica e sensível parceria.

Lançado neste dezembro em meio às restrições de uma dolorosa pandemia, o disco vem sendo distribuído a familiares, amigos e fãs, mas a ideia de João é, quando possível, fazer shows de lançamentos presenciais para homenagear, celebrar e lembrar Tavim Daher. 

Das músicas, contextos e lembranças

Faixa a faixa, João Caetano fala sobre o processo criativo com o amigo Tavim Daher e com os novos parceiros.

1. PARCERIA (João Caetano-Tavim Daher)
João abre o repertório com uma releitura emocionante de “Parceria”, que Tavim escreveu para registrar as construções de tantas canções maravilhosas que fizeram juntos em mais de 40 anos: “De nossas mãos / Nasceu parceria / Minhas palavras / Seu violão / É quase igual nascser / Do ventre de uma canção”. 

2. LUAS (João Caetano-Tavim Daher)
Canção feita no final dos anos 1990, João destaca a facilidade poética de Tavinho nos versos de “Luas”. Primeiro ao falar que “e a noite então por trás das nuvens / Vai deixar que os vaga-lumes / Sejam guias na floresta / E iluminar o meu caminho / Pois quem anda assim sozinho / Não tem pressa de chegar” e conclui dizendo “Pra depois sair por trás das nuvens / E mostrar pros vaga-lumes / Que é a rainha na floresta / E iluminar o meu caminho / Pois quem anda assim sozinho / Não tem pressa de chegar”.

3. CANTIGA (João Caetano-Tavim Daher) 
A viagem continua com a nostálgica “Cantiga”, fruto das histórias que João contava pra Tavim sobre os finais de tarde lá na fazenda Buriti, onde o pai e a mãe sentavam e cantavam coisas bem sertanejas, tipo Tonico e Tinoco, Silveira e Barrinha, coisas que o influenciaram muito. Esta gravação ficou bem com o pé na roça, do jeito que Tavim achava que deveria ficar, realçada com a viola caipira de João Castilho e o acordeon de Marcos Nimrichter.

4. UM RIO (João Caetano-Tavim Daher) 
Segundo João, essa canção tem um sabor muito especial. “Depois dos festivais e das vitórias no início dos anos 1970 e já finalizando o curso de Medicina, influenciado pelo Teteto para ir pro Rio ou São Paulo, fomos aprovados, arrumei as malas, mas na hora ele deu pra trás”. 

“Eu tinha irmão que fazia Medicina no Rio, o Zé Caetano, me animei e na hora de arrumar apartamento, o Teteto deu pra trás por causa da família. E como eu já estava disposto a vir, achei quem ia pro Rio, quem dividia apartamento e vim. Tavim sabia o quanto fiquei magoado e triste por tá vindo sozinho”, lembra João.

O diálogo com o parceiro na época foi melancólico: “Sabe quando você tá perdido, vou atravessar uma fronteira, Minas Gerais, que talvez tem mais a ver com a gente, mas Rio de Janeiro....Meu irmão tá formando, mas já vem embora e eu sozinho naquela cidade. Enfim, pelo menos é um rio, um outro rio que vai descambar no mar...Rio de Janeiro”.

E Tavim não perde o tom e fala: “João, vou fazer uma música chamada “Um rio” e vou dizer o quanto você vai caminhar pra uma cidade que tenho certeza, com seu jeito de ser, você vai adoçar aquela cidade, o sal, o salitre do mar, você vai levar uma água doce pra ele”. 

João achou a história incrível, recebeu a letra que já vinha com uma melodia pronta: “Essa não era melodia e letra. Ele fez a letra e acabei fazendo uma melodia. E quando ela foi gravada no 2º LP – João Caetano (Velas) – tinha tanta gente querendo participar, o Ivan (Lins) dando palpite, chamaram o Chiquinho do Acordeon, Robertinho Silva na bateria, uma gravação maravilhosa. Tavim sentia que a letra ficou como coadjuvante, o que mudou nesta gravação com arranjos do João Castilho. João cita:“...Ah, eu adoro o mar! / Ah, eu adoço o mar! / Ele que sabe me abraçar / E deixa eu descansar assim” e diz que isso é o mais bonito dessa letra.

5. BEIRA RIO (João Caetano-Tavim Daher) 
No LP que Ivan Lins produziu e que inaugurou o selo Velas, “Beira rio” recebeu tratamento especial de um grupo musical muito especial e que tinha nomes como Arthur Maia (baixo), Heitor TP (violão), as baterias de André Tandeta e João Cortez e Gilson Peranzzetta comandando tudo e fazendo um piano muito erudito com arranjo incrível, mas que era difícil reproduzi-la nos shows. 

O desafio agora, segundo João, era fazer um registro mais simples pra realçar a letra de uma música que surgiu inspirada nas enchentes do Rio Vermelho que deixava Goiás Velho em polvorosa, as águas encostavam na ponte, levava livros e doces da Cora Coralina, desarrumava tudo.  

Tavim achava que a canção merecia uma nova gravação e foi o próprio Peranzzetta quem deu essa roupagem de agora. “Tenho certeza que ele deve tá muito feliz de recebê-la como ela foi concebida, a letra é a artista principal”, comemora João. 

6. ÉS AMIGA (João Caetano-Tavim Daher)
Essa é uma declaração de amor à esposa de Tavim, Magali. Sucesso na arquitetura e apaixonado pela noite, o poeta se entregou a ela com o amigo Walmir Araújo (o Tuca) com quem abriu o badalado bar Dom Quixote, ponto de encontro seleto naquela Goiânia boêmia e musical. 

Se de um lado Tavim encontrava ali um ambiente que lhe rendia versos inspirados, o mesmo não acontecia no aspecto comercial, onde tudo deu pra trás. “E Magali sempre ali forte com ele, companheira maravilhosa. Ai falei que ele devia uma música pra ela e em meados dos anos 1990 saiu essa canção gravada no mesmo disco que tinha “Fronteiras”, “Cantiga” e “Novilha”, relembra João. 

Mas Tavim tinha reparos naquele primeiro registro: “João, você cantou a música empostando, mas você canta no violão assim mais simples, mais minimalista”. E João acha que Castilho conseguiu chegar onde o parceiro queria: (“...És amiga, boa amiga, vivendo comigo assim, corajoso seu rosto...”). Como isso é bonito, meu Deus! Incrível”.

7. NADA A PERDER (João Caetano-Tavim Daher) 
No registro anterior, arranjada por Eduardo Souto Neto, o bolero “Nada a perder” ganhou ares de grandiosidade sonora, mas os dois parceiros acharam que ficou um pouco distante da maneira de João cantar.  Para João, nessa gravação de agora o Castilho conduziu de forma a ressaltar a beleza da letra do Tavim e respeitando seu jeito de interpretar. 

“Falei pro Tavim que essa canção não vai ser essa coisa de moda, ela tem uma frase que pra mim é atemporal: o amor desistiu de nós dois. Pra mim, ele não tinha essa história de escrever coisas que outros já falaram, Guimarães Rosa, Mário Palmério...Tavim tem uma identidade impressionante. A história do “meu coração já sabe que o seu não quer mais me amar, não bate mais junto....”, incrível isso”, diz.

“Então você percebe que isso é novo, é totalmente dele. Não que seja novo, é personalizado”, diz João, que se emociona de novo ao destacar duas frases de Nada a perder: “Nessa música eu sempre achei muita coisa bacana nela, eu achava lindo essa história: o amor desistiu de nós dois, o amor insistiu em nós dois...São duas frases: na insistência e também no desânimo. E tem tudo a ver com bolero. Acho que o Tavim também gostaria demais dessa gravação, ela ficou limpa, a letra é o principal”.

8. OTÁVIO (João Caetano-Carlos Brandão)
Em “Otávio” tudo foi muito carregado de emoção. Afinal, a notícia da partida de Tavim se espalhou, pegou a todos de surpresa. João lembra de muitas manifestações, de um texto que Nasr Chaul mandou pro jornal, de uma mensagem que o Carlos Brandão lhe mandou. “Caí em prantos, aquela maneira mais vagabunda do Carlão desaforadamente dizer as coisas, ele dizia: puta que pariu, perdemos o gênio da música, da letra”.

“João, tiraram o tapete das letras, da poesia goiana. Tavim tinha uma autenticidade, um jeito de ser, pra mim era o maior letrista...você pode até falar de Aldir Blanc, não sei quem, mas Tavim foi um exemplo que eu sempre segui porque ele fala de nossas coisas, com nosso cheiro, nosso tempero, da nossa solidão”,  escreveu

Carlos Brandão depois de provocado por João de que ele estaria parado, deixando o Gustavinho Veiga sem letra.

Brandão salienta versos de “Pedaços” para reforçar sua opinião sobre Tavim: ´Quem vai saber / se solidão quer um ou dois / pra se instalar de vez /...você gostando eu também / ninguém errou / a vida que se enganou”. E desabafa: “João, eu fui tão filho da puta que eu nunca falei isso pra ele, o quanto eu amava ele”. 

Com a quarentena e a tristeza pela morte do Tavim, João entrou num processo de fazer muitas canções, falava com Chaul, falava com Carlão: “Você mesmo é testemunha disso, porque foi na quarentena que fizemos a nossa parceria linda (“Razão de tudo”, minha e do João)”. 

Ele havia provocado o conterrâneo pra fazerem uma música pra Mossâmedes. Era 11h da noite quando mandou uma melodia pro Brandão depois de ouvi-lo falar tanto de sua tietagem pelo Tavim. “Às 4h30 ele ligou e disse que não ia fazer a canção pra Mossâmedes, que ia fazer pro Tavim e queria que ela se chamasse ´Otávio`. Choramos e conversamos até quase 5h”.

“E o Carlão então construiu essa grande letra sobre o Tavim. Tem uma frase que eu adoro: “olha eu, Tavim, eu sei lá se a vida tem bis, me ensina a andar por aqui”. E quando ele termina a canção, eu acho demais: “que você é o cara pra mim, eu preciso só dessa canção pra dizer que você não tem fim”. 

Contei essa história pro Castilho e ele fez um arranjo com o Ricardo Leão no piano, um quarteto de cordas. Aí saiu essa canção, parecem aquelas canções épicas de filmes. Canção de julho de 2020”, explica.

9. ÍNDIOS (João Caetano-Tavim Daher)
A melodia de “Índios” é de 1972, tinha uma letra e chegou a participar de um festival, mas Tavim não gostava tanto da letra (“Foi na volta da ribeira que eu te vi por trás, foi no fecho da porteira que eu não quis ficar...mês de julho é muito frio sem te ter por cá, e a fogueira se findando, cada um por si”. 

“Tinha essa letra, mas não rolou, não entrou no disco, ficou no canto. Foi quando Maria Eugênia ouviu e gostou da música. E conversando com Tavim, falamos sobre aquela época de Serra Pelada, aquela confusão dos homens invadirem territórios indígenas, muito mercúrio contaminando rios, o povo deixando o asfalto, as cidades para irem pra aquelas regiões de minérios”. 

Tavim disse que ia estudar sobre os índios e veio com essa letra: “Cada quilo desse ouro vale mais / Que as florestas, rios, índios, animais / Carajá, Tupiniquim, Tupinambá / Botocudo, Caiapó, Krahô, Goyá....”. E depois ele faz uma segunda parte que é: “E o rio vai indo, se esquece, / Se lava da destruição / Inchado com todas as chuvas / Levando os garimpos pro mar...”.  Maria Eugênia viu o resultado da letra e gravou a canção, que era inédita na voz de João, que gostou desse registro em homenagem ao parceiro.

10. PROCISSÃO DO FOGARÉU (João Caetano-Ivan Lins-Tavim Daher)
“Procissão do Fogaréu”, parceria de João, Tavim e Ivan Lins, foi gravada naquele LP de estreia do selo Velas produzido por Roberto Menescal e Luís Avelar (João Caetano, 1990) e que trazia canções que ficaram conhecidas em novelas: “Guardião” (O direito de amar), “Pedaços” (Fera Radical) e “Tá na terra” (Salvador da Pátria). 

Foi a partir deste disco e das inserções das músicas em novelas que o pessoal do folhetim “Pantanal” (Manchete) o procurou e escolheu “Meu coração” pra uma trilha sonora que tinha também Almir Sater, Maria Bethânia, Sérgio Reis, Renato Teixeira, Caetano Veloso, João Bosco, entre outros.

João conta como a música surgiu: “O Ivan Lins ia com frequência a Goiás Velho e ficava na casa da família do Tavim, como aconteceu em uma Semana Santa, quando participamos e olhamos a Procissão do Fogaréu e eu tinha uma melodia que não foi feita para a procissão, mas tinha um tempero barroco”. 

“Mas a melodia não saía, ficou só na primeira parte, o Ivan fez a segunda parte e Tavim falou que aquilo era uma procissão saindo, fez a letra e é lindo quando ele diz: Quase meia noite/ na cidade velha / Pela Boa morte / Uns mil archotes / Ardem”. E arremata: “Há em cada voz / A voz de todos nós / A reza pra mostrar que só / Com fé na procissão / A tocha em cada mão / Tudo vai muda. Em que pese a primeira gravação ter ficado magistral, Tavim não escondia um desejo: ´Ah, João, o quanto é bonito você cantar essa canção ao lado do Ivan na sala, na chácara!”. 

Este disco-tributo já estava sendo feito quando inesperadamente Ivan Lins volta de Portugal, onde mora, fica sabendo da homenagem, coloca máscara, vai pro estúdio e divide com Peranzzetta os arranjos e com João os vocais. Do jeito que Tavim queria. “Ficou emocionante e a letra tá ali presente como ator principal”, comemora João. 

11. VELHO AMIGO (João Caetano-Nasr Chaul)

Essa canção tem letra iniciada em abril e finalizada em julho de 2020 depois que o Tavim se foi, conta João: “A melodia é da época de “Roda Gigante” (início dos anos 1970), quando eu explorava muito uma sequência de acordes. Quanta coisa bonita veio....”Ajutório”, “Colheita”, “Pega”, “Roda Gigante”...Tudo tinha essa coisa de ter uma sequência harmônica”.

E lembra que Tavim começou uma letra para essa melodia com muita dificuldade e chegou a falar: “Pô, parece eu eu tô num objeto espacial, parece que eu tô numa alegria contagiante...”.  

E nessa quarentena revendo seu passado musical pra ver se tinha alguma melodia que poderia ser aproveitada, alguma letra que não tinha lembrança pra ver se lembrava da música (“Eu tinha um caderno com letras dele”, revela), João viu que essa melodia não tinha letra. 

“Liguei pro Tavim em abril e falei: olha, eu tô passando pro Chaul, que sempre a gente quis fazer uma homenagem a você, então o Chaul vai fazer uma letra. Tavim disse que nem se lembrava mais dessa melodia e que tudo bem”. 

“Chaul começou a fazer a letra, mas com a morte de Tavim, ele voltou a mexer com ela, ficou meio póstuma. Uma melodia do início de 1970 e letra entre abril e julho de 2020. Tem arranjo do Ricardo Leão com toda essa emoção de conhecer o Tavim citando incidentalmente “Roda Gigante”, “Pega”, “Meu Coração” e “Tá na terra”. Ricardo foi muito feliz no arranjo, Marquinho (Nimrichter) tocou acordeon, Castilho no violão....Eu agrado da voz que deixei lá, é emocional”.

12. COLHEITA (João Caetano-Tavim Daher) 

Uma das canções preferidas do Ricardo Leão, João achava que a primeira gravação de “Colheita” não tinha ficado boa: “Primeiro quando gravei essa canção eu tinha uns 27, 28 anos, quase 30...A voz tímida e pra cantar no estúdio piorava muito mais e ela tem um alcance muito grande, começa numa nota muito grave e explode num agudo muito alto. Nunca teve uma interpretação boa, os instrumentos sempre muito altos em relação à voz quando ela tá no grave. Tavim gostava”.

Dessa vez João disse que ia gravar quase que falando e Ricardo se mostrou muito feliz em fazer o novo arranjo. “Ricardo, essa música é uma comunidade, são várias pessoas agradecendo a Deus pela chuva ´porque nossa reza te agradou`.  Então a escolhemos pra fechar o CD e tem essa coisa bem comunitária, com muita alegria, uma festa chamada ´Colheita`”.

“Interessante como “Colheita” é semente de “Fronteiras”. Tavim sempre achou a gravação do Wagner Tiso linda, mas é hermética, difícil de chegar até o grande público. Não o grande público, não é esse o almejo, mas entender melhor a música. E aí quando Chaffin, de maneira encantadora, fez “Fronteiras” com aquele sacode do violão que eu sempre fazia aquilo, mas não conseguia reproduzir e ele é o papa da nossa música em Goiás”, elogia. 

“Chaffin fez o arranjo e abre o CD ´Canto da Gente` (projeto que João dividiu com Pádua, Fernando Perillo e Maria Eugênia em 2002), que eu amo, aquela reunião foi muito festeira, muito bonita. Então eu digo que ´Colheita` é o primeiro ´Fronteiras`. Como ele fala: Você pode cantar / modinhas que nunca aprendeu...`. Convidando as pessoas pra irem, um louvor a Goiás. Então no ´Fronteiras` ele fala muito bonito: “E o sol não castigou / e a chuva não falhou / meu Deus do céu / a nossa reza te agradou”. Êi, Tavim!“, louva o amigo.

E “Parceria” termina em clima de celebração com João dividindo as vozes com Marcelo Barra, Fernando Perillo, Maria Eugênia, Tom Chris, Pádua, Xexéu, Henrique de Oliveira, Cláudia Vieira, Marcos Antônio, Ricardo Leão, Larissa Moura e Cristina Guedes. (Tião Pinheiro)

Ficha Técnica
Gravado
no Jaula do Leão Studio (RJ) por Guga Lima em setembro e outubro de 2020
Vozes gravadas no Estúdio Up Music (Goiânia) por Léo Bessa
Produção Executiva: João Caetano
Produção Musical: João Caetano, João Castilho, Ricardo Leão, Gilson Peranzzetta e Ivan Lins
Mixagem: Léo Bessa (Up Music)
Masterizado por André Dias (Post Modern Mastering)
Fotos: Cristina Dourado, Paulo Chaffin e Luis Augusto
Caligrafia: Lia Siqueira
Direção de Arte e Design Gráfico: Cristina Cruz (www.studioazuldesign.com)
Revisão de Textos: Gigi Silva

 

De estradas e de caligrafia do coração

 

João Caetano e Tavim Daher têm uma trajetória incrível. Da fazenda Buriti lá no então distrito de Mossâmedes onde João nasceu fruto do amor do seo Geraldo Caetano de Almeida e de dona Quita (Maria Alves Caetano) à Campininha goianiense que revelou o Tavim do inusitado encontro do libanês Said Daher com a clássica vilaboense Nice, a inspiradora Vila Boa (Cidade de Goiás) foi ponto de encontro e de vôos. 

“O meu pai tinha vínculos comerciais com muita gente lá em Goiás, a história da fazenda, do leite, do queijo...Eu fui até a casa do avô do Tavim (o dentista Otávio Monteiro Daher) aos cinco anos de idade, cabelinho “espiga de milho”, lourinho.....E incrível, dez anos depois eu estava em Goiânia começando parceria com Tavim”, relembra João.

Aos cinco anos João se mudou com os pais para a Cidade de Goiás, onde além da educação, do saber, o menino tímido de origens sertanejas passou a conviver com as modinhas e  valsas que ouvia às escondidas nas serenatas de Euler de Amorim e Julinho de Alencastro Veiga e a admirar à distância aquela família de cultura diferenciada, os irmãos Otávio Daher e Luiz Alberto (Teteto) que estavam sempre por ali vindos de Goiânia. 

Esse mergulho a que João se dedica em “Parceria” traz à tona lembranças de efervescências culturais da Cidade de Goiás, de Goiânia e de um Brasil diferentes.  
Coisas do destino. No final dos anos 1960 João termina o Ginásio e vai pra Goiânia fazer o Científico no consagrado Ateneu Dom Bosco, onde logo no primeiro dia de aula se vê na mesma sala em que estudava Teteto, irmão do Tavim.

Já com algumas melodias na bagagem, João começou a ser letrado pelo Maurício Palmerston, de quem Teteto também se aproximou e vendo o nascimento da parceria, conta que seu irmão Tavim também fazia letras, convida-o para conhecê-lo e à sua família.

Foi o começo do que viria a se transformar na mais harmônica e profícua parceria musical de Goiás, um casamento que chegou ao ponto do que Tavim disse certa vez à filha Anna Paula, de que sempre achava todas as letras esperando as músicas que João fazia. 

E nasceram músicas, vieram os festivais, vitórias. Com “Roda Gigante” ficaram em segundo lugar e ovação popular no Festival Universitário em 1971, no ano seguinte ficaram entre os cinco primeiros no revelador Comunicasom, que ganharam em 1973 com “Pega” e em 1974 com “Moldura Velha”, levando também como prêmio a gravação de um compacto simples lançado pela RGE. Esse festival era comandado pelo jornalista Arthur Rezende e revelou muitos músicos de Goiás e o surgimento de uma sintonia criativa que só terminou em julho deste ano com o adeus de Tavim.

A produção dos dois continuou mesmo quando João foi pro Rio de Janeiro fazer internato em Medicina em 1977. Da safra foram saindo canções e mais canções até João voltar já cardiologista para Goiânia em 1980 e reencontrar o arquiteto Tavim, que enveredou com os irmãos Tuca e Walmir Aguiar pelo empreendedorismo noturno, onde prestigiaram a música do MPB 4, João Bosco, Ivan Lins, Edu Lobo e uma série de outros artistas que passaram pelo palco, por exemplo, do Sancho Pança, vindo depois o badalado Dom Quixote.

Eles movimentaram ainda mais a noite goianiense ao abrirem o bar Dom Quixote, point de boêmios como eles próprios ao som da música com nomes como Ricardo Leão e tantos outros e onde Tavim dava vazão com maior facilidade à sua verve poética.  Nasceriam novas canções da parceria, mas também problemas de saúde que o álcool potencializava e lhe cobraria mais tarde. 

Suas músicas iam caindo no gosto popular e o primeiro estouro se deu em 1980 quando, pelas mãos de Maurício Roriz e Peninha (Jonas Pires Filho), a Rádio Araguaia colocou a vitoriosa “Roda Gigante” nas paradas de sucesso. 

E a sintonia entre João e Tavim só aumentava e vieram “Ajutório”, “Doçura”, “Moldura Velha”, “Beira Rio” e “Triste papel” (essa com Ricardo Leão também na parceria), algumas das que fizeram do LP produzido por Ivan Lins e arranjado por Gilson Peranzzetta em 1981 uma verdadeira coletânea de sucessos aplaudidos em um Teatro Goiânia lotado no show “Doçura” de lançamento em 1982. 

João relembra que o show foi uma das coisas mais maravilhosas de sua carreira. Com direção musical de Ricardo Leão, convidaram a “Ciclone”, uma consagrada banda de baile comandada por Ringo, Julson Henrique com seu grupo de dança coreografou quase todas as músicas, Lourenço Tomazetti cuidou do vídeo, o artista plástico Fernando Costa Filho do cenário e Nando Cosac da iluminação, uma super produção para a época. 

Era pra ser um ensaio aberto na quinta e o show pra valer mesmo seria na sexta e no sábado. O sucesso foi tão grande que mesmo a apresentação do ensaio provocou um comentário arrebatador do jornalista Leonardo do Carmo: “Poetas, seresteiros e namorados, correi, não deixem de ver João Caetano no Teatro Goiânia”. 

A onda pegou, a casa lotou e na transmissão de uma partida de futebol na tevê no sábado o narrador avisou: “Não se esqueçam, o sucesso foi tão grande que o João Caetano vai reprisar o show no domingo”. E o que seriam apenas duas, finalizou com cinco apresentações de “Doçura”.

A noite goianiense era uma festa e oferecia excelentes opções musicais. Casas como o Zero Bar, Cavalhadas, Degrau 94, Dom Quixote e Jotas eram animadas por músicos do quilate do próprio João Caetano, Ricardo Leão, Gustavo Veiga, Anete Teixeira, Bororó, Xará, Napa, Odilon Carlos, Fafá e outros tantos.  
Conciliando a Medicina com a música em Goiânia, João ia colhendo os frutos do sucesso das parcerias com Tavim, dos festivais e das apresentações na noite. Com um LP na mão e várias composições, ele retorna em 1986 para o Rio de Janeiro em busca da projeção nacional que a capital goiana não oferecia na época. 

E logo começam a colher novos frutos da parceria entrando para o mundo mágico da teledramaturgia ao emplacar em 1987 a música “Guardião” na novela global “O direito de amar”, de Walter Negrão e protagonizada por atores como Glória Pires, Lauro Corona, Carlos Zara, Carlos Vereza e Ester Góes. 

Com isso os horizontes foram se alargando e Roberto Menescal e Luís Avelar convidaram João para gravar um novo LP, que acabou inaugurando o selo Velas de Ivan Lins e Vitor Martins. 
Nele estavam, segundo João, canções expressivas de sua carreira e que cravou o nome dele e de Tavim nas novelas. Depois de João cantando “Guardião” em “O direito de amar” vieram “Pedaços” (em Fera Radical), “Tá na terra” (Salvador da Pátria), “Doçura” com o grupo “Quarteto em Cy” e arranjos de ninguém menos que César Camargo Mariano (em Pão pão, beijo beijo) – todas na Globo –, “Meu coração” (em Pantanal, na extinta Manchete) e “Retratos do Brasil” (em Bicho do Mato, na Record). 

Com uma banda formada por Luís Avelar, Nico Assunção, Paul Lieberman e Jurim Moreira, João pegou a estrada e fez shows em cidades como o Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Brasília e Goiânia.

O início dos anos 1990 foi muito próspero. Com a ajuda de Ricardo Leão, João formou um grupo com os instrumentistas Mateus Signorelli, Marcos Nimrichter, Luiz Chaffin e Alexandre Mendes, com quem fez mais de 150 shows e com quem trabalha até hoje. Cantou de sua Mossâmedes a palcos como o Mistura Fina, no Rio de Janeiro, passando por cidades do interior de Goiás como Vila Boa, Pirenópolis, Rio Verde, Quirinópolis e Gurupi (hoje Tocantins).
Mas depois do rock, a década foi marcada por gêneros e estilos como a lambada, o axé, a música de entretenimento tipo “boca da garrafa” reduzindo os espaços para a música de introspecção, a chamada MPB, de onde só se salvaram medalhões consagrados como Chico Buarque, Caetano Veloso, Djavan e outros. Chegaram a sugerir que João se adaptasse à onda, com o que ele não concordou em fidelidade às suas raízes.

Já sem exercer a Medicina e com a mudança do cenário e a dificuldade de sobrevivência através da música, João entrou para o mundo da moda abrindo uma franquia da Forum em 1992 e em 2000 já eram dez lojas. Comercialmente estava tudo certo, mas ele se sentia infeliz sem contato com o público, com a música. 

Deixou o segmento e enveredou pelo ramo do mobiliário brasileiro assinado com a sua Arquivo Contemporâneo atuando no Brasil e no exterior, o que lhe dá condições de se dedicar à música sem fazer concessões como mudar de estilo e mantendo a criação com o parceiro da primeira hora e outros que vieram depois: “Agora sim, isso me dá condições, subsídios pra poder mostrar as composições que continuo fazendo, não mudei o meu estilo, bebo da mesma fonte e Tavim seguiu comigo”, alegra-se.

E olhando para o retrovisor, João fala sobre outro disco significativo em sua carreira: “Porque na verdade existe um CD chamado “O melhor de João Caetano”, com curadoria do Ricardo Leão e Peninha (Jonas Pires - que trabalhava na Rádio Araguaia com o Maurício Roriz e com o Fábio Roriz), era um grupo muito querido ali, Júnior Câmara, Tadeu Câmara, enfim, resolveram fazer este disco lançado em 1999 pela Discos Anhanguera)”.

 “Este, na verdade, foi o primeiro CD, saiu pela Organização Jaime Câmara (hoje Grupo Jaime Câmara), que realmente proporcionou tudo”. O CD traz suas principais canções, uma espécie de hit parade. Nele estão, por exemplo, “Roda Gigante”, “Pega”, “Moldura Velha”, “Tá na terra”, “Pedaços”, “Triste Papel”, “Guardião”, “Ajutório”, “Novilha”, “Peão Viramundo”, várias delas que só tinha registros em LPs. Mas ficaram de fora, por exemplo, “Beira Rio” e “Mascate”. 

Sobre “Peão Viramundo” (de autor desconhecido e que faz parte do primeiro LP), ele conta que foi resgatada graças ao Ivan Lins sob o argumento de que é uma música ensinada quando ainda menino pelo pai de João: “Faz parte de minha formação, “Peão Viramundo”, “O menino da porteira” (Teddy Vieira), Tonico e Tinoco, Silveira e Barrinha,  com aquelas canções de Eli Camargo, os cânticos de igreja de Goiás, participava de coros, de noite eu juntava com Orion, João Demétrio, com os amigos de Goiás em serestas onde cantávamos Renato e seus Blue Caps, Roberto Carlos, Chico, Caetano, Vinicius, Tom Jobim, Geraldo Vandré, Ivan Lins (grande amigo até hoje e presente em quase todos os meus discos)”, essa mistura em minha vida”.

João fala de “Fronteiras”, o segundo CD, produzido por Ricardo Leão, que divide arranjos com Wagner Tiso, Eduardo Souto Neto, Luís Brasil e recheado com um repertório que o coloca como um disco muito importante pra ele. Lá estão “Novilha”, “Parece”, “Nada a perder”, “És amiga”, a faixa-título – da safra com Tavim (“Do lado de cima tem o Tocantins / E do lado direito as Minas Gerais /Um pedaço da Bahia e nada demais /Falta o barulho do mar / Parando de desenhar / Mato Grosso do Sul / Mato Grosso sem sul...” - e “Outro azul” (com Orlando Morais).

Foi nessa época, quando a cidade de Goiás concorria a Patrimônio da Humanidade, que surgiu Nasr Chaul, até então parceiro mais frequente de Fernando Perillo, Gustavo Veiga. “Como secretário de Cultura, ele foi para Paris, onde com os olhos marejados viu Goiás como candidata, cidade onde vivi 15 anos e onde frequento até hoje, e mesmo sabendo que eu não colocava melodia em letra, me mandou um fax com uma mensagem assim: ´Você sabe onde fica Goiás? E a deficiência do meu francês não dava pra responder, eu só colocava a mão no peito e dizia: fica aqui, no meu coração”.

João conta que Chaul fez a letra e ele muito emocionado a melodia quase que inteira e nasceu “Sempre no coração”, a primeira canção deles. Chaul se aproximou muito do Tavim, tornaram-se parceiros. 

“Foi na época em que o Tavim tinha descoberto várias patologias, tinha recuado do álcool pela mulher, pelas filhas, uma sede de viver, ele ficou abstêmio, nunca mais colocou álcool na boca. E o Chaul sempre do lado dele, às vezes fazia uma frase, ele completava. 

O CD “Retratos do Brasil” (2005), produção de Marcos Nimrichter, trouxe uma série de composições nossas com Chaul, a começar pela faixa-título. A letra mais importante do Chaul pra minha carreira é “Saudade de nós”, feita pro seo Geraldo e dona Quita, meus pais, e me emociona muito. 

No disco estão também parceiros como Pádua (que divide com ele e Chaul a música Se Deus quiser), Fernando Perillo (que assina Manduzanzan com os dois), Marcos Nimrichter (em “Ponto de parada”, com João e Tavim) e, claro, o parceiro-mor Tavim.
E “Duetos” surgiu a partir de observações do Ivan Lins sobre tanta gente cantando músicas do João. “O “Duetos” é um tesouro em minha vida. Convidei pessoas representativas pra mim como o Orion, amigo de infância, a minha querida professora Honorina Barra e outros queridos”.  

Com produção dele e Luiz Chaffin, “Duetos” traz participações especiais de Ivan Lins, Maíra, Pádua, Marcelo Barra, Grupo Essência, Bel Maia, Fernando Perillo, Cláudia Vieira, Gustavo Veiga, Juraíldes da Cruz, Maria Eugênia, Larissa Moura, Tom Chris, Zé Renato, Orion, Honorina Barra. Com João, eles dividem vocais em cada faixa do disco e, todos juntos, cantam “Fronteiras”.

E João foi ampliando suas parcerias. A partir da participação do “Grupo Essência” neste disco, ele conheceu David Isacc, com quem começou a compor e surgiram “Amarelinha” e “O tal”. No ano passado, 2019, lançou,  no Teatro Goiânia (Goiânia),  “João”, um disco já com forte presença de Chaul, que assina nove das 14 faixas com João e outra com Tavim e João. As outras têm parcerias de João com Tavim, Ricardo Leão e David Isacc.

Como bem traduz o título do CD, a faixa de abertura traz Chaul descrevendo a própria história do parceiro, da fazenda Buriti lá em Mossâmedes para andanças mundo afora. “Chaul consegue falar dos meus ofícios e da minha gratidão pela arte de cantar, de compor”, define. “Maria dos sonhos” chegou a ser cogitada para integrar a trilha sonora de outra novela, o que não se concretizou. 

A previsão era que um novo disco só saísse entre três e quatro anos, o que mudou com a partida do amigo. “Tavinho se foi em julho e me deu a sacudida, inspiração, tudo que se possa chamar pra poder construir ´Parceria`. Aos moldes de muitas palavras que ele sussurrou no meu ouvido: “Vamos gravar ´Índios`, Maria Eugênia já gravou, mas eu queria ouvir na sua voz. O Ivan Lins é parceiro em ´Procissão do Fogaréu`, essa canção tem que ser gravada, com Ivan principalmente. Seria muito bom vocês dois. O ´Beira Rio`, eu queria tanto, lá do primeiro CD, no LP o Peranzzetta fez um piano lindo...”. 

“Como tinha outras canções inéditas e solicitações que ele tinha comigo de regravar umas e outras inéditas, me embrenhei pro lado deste CD. Por isso quis fazer algo mais acústico agora e usei o João Castilho, que não era participante daquela época, pra fazer algo bem intimista pra evidenciar as letras do Tavim. Castilho traz na bagagem trabalhos com gente como Roberto Carlos, Djavan, Maria Bethânia...”, conta João sobre o álbum “Parceria”, que reúne os arranjadores João Castilho, Marcos Nimrichter, Luiz Avelar, Luiz Chaffin e Ricardo Leão. 

E em meio à saudade do amigo e parceiro, João celebra uma vida de tantas canções, momentos importantes e também esse em que pode se dedicar à música e, como diz, “poder propagar essas coisas que são feitas, primeiro na melodia, depois recebe uma letra” e cantarola trecho de “A razão de tudo”, primeira parceria dele comigo). 

“Existe isso, esses presentes que há em minha vida, como foi essa parceria nossa e que se Deus quiser estará em outro CD, porque na verdade eu e Chaul já tínhamos canções pra fazer o novo CD, eu tinha dado quatro canções pro Tavim por volta de abril, maio e falei pra Chaul que até o final do ano íamos fazer outro disco e aí surgiu essa história do Tavim”. 

E assim os dois construíram essa trajetória rica e linda de tantos momentos, tantas canções. De um lado, Tavim e Teteto, e do outro, João e seus sete irmãos que os pais levaram  pra Goiás, onde “apresentou as escolas todas, passamos a ser pessoas com escrita, ginásio, científico e se formaram vários dos filhos: dois médicos, engenheiro, arquitetos, economista, administrador de empresa. Tem de tudo em minha família, e é uma família abençoada. Meu pai se foi em 1990”, conta. 

E João revela a importância do pai em sua carreira artística. “Ele via ´Pantanal` (a novela da extinta Manchete que o tinha cantando ´Meu coração`, dele e Tavim), se identificava lá na pele do Leôncio (personagem vivido pelo ator Cláudio Marzo) e falava: ´Meu filho fez a canção que emociona o Brasil. João, você não pode deixar a música, pode seguir adiante`. Isso foi a palavra de um pai, isso é muito forte”, emociona-se. (Tião Pinheiro).