Entre versos, rimas e cantoria, a literatura de cordel, registrada como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil na última semana, é uma expressão cultural popular que abrange não apenas as letras, mas também a música e a ilustração.

Apesar de ter começado no Norte e no Nordeste do país, o cordel hoje é disseminado por todo o Brasil. Com cerca de três décadas escrevendo cordéis, o cordelista Toninho de Arapapá Barbosa lembra que foi o gênero o primeiro que se arriscou a colocar os versos no papel. “Desde a minha infância cresci ouvindo cordel”, conta lembrando-se das visitas de repentistas à sua casa. Hoje, poeta convicto, se arrisca a inovar e apostar em um cordel metafísico. “É uma proposta um tanto inusitada, em que a linguagem é desconstruída e reconstruída sem sair da essência”. Maranhense de nascença, mas morador tocantinense há muitos anos, ele afirma que o espaço para a literatura vem se abrindo nos últimos dez anos no Estado. “Instituições, entidades, universidade e escolas estão proporcionando espaços para os cordéis, que é a linguagem poética mais popular”.

Um exemplo disso é Com Cordas do Cordel, um dos projetos desenvolvido pelo professor e cordelista Valdemar Rodrigues sobre a literatura. Ele atua em escolas da rede de ensino da Capital levando a linguagem escrita e oral. “Apresentar na parte oral como funciona a métrica e a rima, já na escrita mostrar como fazer uma quadra ou sextilha e o modelo da literatura em si. Mas não foco no cordel somente nordestino, o tradicional, apresento linguagens modernas, em especial na música, que utilizam os elementos dos cordéis para a juventude”. Em suas aulas, Rodrigues que há mais de dez anos no Tocantins trabalha com ações voltadas ao cordel, leva nomes da literatura para contar suas histórias, como Genival Nicolau nordestino que desde novo conviveu com as rimas. “Eu ajudava guiando um cego, na época, e andando pelas feiras conheci nomes da literatura cordelista e trabalhei com eles. Meu pai também foi figura da época do cangaço. Toda essa vivência me influenciou e há dez anos escrevo cordéis para publicação”, conta.

Origens

A literatura de cordel é um gênero poético que resultou da conexão entre as tradições orais e escritas brasileiras e carrega vínculos com as culturas africana, indígena, europeia e árabe. É um fenômeno vinculado às narrativas orais, poesia e adaptação. O cordel se inseriu no País em fins do século XIX, forjado como a variação escrita da poesia musicada por cantadores de viola de improviso (repentes). Inicialmente, a expressão cordel não se referia a uma forma escrita específica, mas ao modo como os livros eram expostos, em cordéis.

Com o tempo, devido ao modelo de edições de baixo custo, adaptações de textos de diferentes fonte os poetas passaram a definir o cordel como um gênero que obrigatoriamente possui três elementos: métrica, rima e oração na composição.