Tradicionalmente conhecida e apreciada em todo o Brasil, a carne de sol é também associada aos costumes históricos nacionais. Principal ingrediente consumido em longas jornadas como romarias e tropas, a iguaria, provavelmente difundida a partir do nordeste brasileiro, desde muito tempo é consumida no sudeste do Tocantins seja em forma de paçoca, na fronteira do estado em Arraias, seja na tradicional Maria Isabel ou Arroz Sirigado. O sucesso é tanto que o produto já está sendo exportado para os estados vizinhos da Bahia e de Goiás.

Chegando à região no início dos anos 2000, o chef de cozinha Osmane Silva, que comanda um dos restaurantes que integra o complexo de lazer do Rio Azuis, localizado em Aurora do Tocantins, a cerca de 500 quilômetros de Palmas, encontrou na carne de sol a possibilidade de implementar o costume local dando um toque de requinte a um produto bastante apreciado. O Rio Azuis é considerado o terceiro menor rio do mundo e principal destino turístico do sudeste tocantinense.

Autodidata, Silva afirma que experimentou frutos e produtos da região como queijos, tubérculos e castanhas para elaboração de pratos. “Fomos testando maneiras de cozimento com os produtos da região. Para se ter uma ideia não se vendia a castanha de baru e com o aumento da demanda do restaurante, já chegamos a consumir 170 quilos do produto em um ano. Isso preserva a vegetação porque o pequeno agricultor chega a ganhar cerca de R$25 por quilo da castanha”, ressaltou.

O resultado são pratos que encantam não só pelo sabor, mas também pela beleza e aparência. Prova disso é que o chef, representando o Tocantins, foi premiado no ano passado no Prêmio Dólmã de destaque dos profissionais que se destacam na área gastronômica e que contribuem para o aquecimento da economia brasileira. “Nossa intenção é desenvolver pratos requintados com preços acessíveis, mas sempre utilizando os produtos da região”, afirmou.

Novos mercados através da culinária

Acompanhada da maioria dos pratos com carne de sol, a manteiga de garrafa é muito apreciada na culinária nordestina. Para adaptar os pratos, o chef de cozinha Osmane Silva chegou a incentivar a produção da manteiga junto aos agricultores familiares de Aurora. “As pessoas não tinham o hábito de consumir a manteiga de garrafa”, lembra. Quem encontrou uma nova forma de renda foi o agricultor Alex Rodrigues do Nascimento, que produzia apenas para consumo familiar. “Eu demoro cerca de quatro dias para conseguir um litro de manteiga. Com a procura tivemos que aumentar a produção”, ressaltou. Aproveitando o impulso da atividade turística aliada à construção de uma rodovia federal na região, o comerciante Antônio José resolveu montar um açougue em Taguatinga, município vizinho. “A carne de sol é muito procurada. Vem gente de Luís Eduardo Magalhães na Bahia atrás. Isso é muito bom porque fortalece o comércio na região”, afirmou. Já em Natividade, o casal Alvecino Rodrigues e Márcia Araújo resolveu reforçar o orçamento doméstico produzindo paçoca de carne de sol e atualmente chega a vender cerca de R$ 200 nos finais de semana. “O fluxo de turistas tem aumentado muito na cidade e aproveitando o sucesso da carne de sol e da paçoca e resolvemos investir. O resultado está sendo bem satisfatório”, afirmou Márcia.

Saiba Mais

Engana-se quem pensa que carne de sol, charque e carne seca são a mesma coisa. Diferenciadas do processo de maturação, desidratação e conservação, cada uma tem as suas características diferenciadas. A primeira, também conhecida como carne de vento, é levemente maturada no sol. Já o charque, comumente utilizado no Sul do País, aproveita-se parte da gordura da peça de carne para garantir o sabor e textura. Por fim, a carne seca recebe o aditivo de grandes porções de sal para durar meses ou anos se bem conservada e armazenada.