Agricultor, compositor e cantor, o novoacordino Edmilson Pereira Magalhães, 48 anos, confecciona, desde 2019, o instrumento musical tradicional viola de buriti.  Mas não é a versão arcaica e tradicional. Ele aprimorou a fabricação e criou um modelo elétrico, com a mesma lógica das guitarras e violões, a partir de um captador dentro do instrumento e plug para conectar a um amplificador. 

Com a viola modernizada, virou compositor. Ele conta que as composições são inspiradas no cerrado tocantinense. “Frutas, como o pequi e buriti, fervedouro, cachoeiras, Jalapão”. A ligação com o instrumento lhe rendeu o nome artístico “Missim da Viola de Buriti” e um canal no Youtube onde se exibe com o instrumento.

O agricultor conhecia o instrumento e também tocava desde a juventude, dom herdado de seu falecido pai, que ele diz ser a inspiração para dar continuidade à paixão pela música. "Toda vez que ele pegava a viola eu sentava perto dele e o observava tocar, e quando ele ia fazer a viola, eu também observava e fazia perguntas, assim aprendi".

Missim conta que seu pai tocava apenas para alegrar na ‘boquinha da noite’ (anoitecer). “Naquela época não tinha televisão, não tinha rádio, então, depois da janta, a gente sentava na porta da casa e ele tocava a violinha e cantava, apenas para alegrar, por amor, pra não ir dormir muito cedo”. 

Após a morte do pai ele parou com o instrumento. A história recomeça em 2019 por volta das 4h30 de uma madrugada em que ele sonhou que fazia uma viola de buriti. “No dia seguinte após o sonho, eu ia para a cidade. Na estrada tinha um córrego que chamamos de brejo, com o nome ‘viola’. Ao voltar da cidade encostei nesse buritizal, cheguei em casa e comecei a fazer. No outro dia terminei, coloquei ela dentro de casa e fui para roça trabalhar”.

Ao chegar em casa, por volta das 17h, ainda com a roupa de serviço, Pereira conta que pegou a viola e começou a afinar. “Foi o momento em que a minha filha filmou. Minha intenção era fazer a viola para mostrar para meus filhos, porque eu falava para eles, mas eles não conheciam”.

Embora o compositor já conhecesse a viola, a ideia de fazer elétrica veio depois. Ele conta como surgiu a idealização em fazer a viola elétrica.

“Ainda criança, fui tocar numa igreja e lá tinha um violão, que não era elétrico. Tive a ideia de fazer um sistema elétrico com uma bobina de microfone, então, pra eu fazer a viola, lembrei quando consegui fazer também no violão naquela época. Aprendi sozinho, testei na viola e deu certo”.

Primeira composição e a vida após a viola

A primeira música que o compositor escreveu, chama-se “Coisa boa quem tem aqui é nois”. Conforme Missim, a inspiração é a natureza. “Fiz depois que fui ao Jalapão, no morro que é conhecido como Catedral. Tive a ideia de escrever a música para homenagear a serra e é a música que eu mais gosto, pois foi a primeira e me fez ser reconhecido”.

O agricultor afirma que a viola mudou completamente sua vida e trouxe mais felicidade, assim como o seu pai, que tocava por amor e para levar alegria às pessoas.
“Entendo que minha viola é um projeto de Deus, me tornei mais feliz, com o som da viola trago felicidade para as pessoas. Toco nas igrejas evangélicas e eventos, então, entendo que foi um despertar para eu fazer o instrumento”.

Todo ano Missim confecciona uma viola para aprimorar a qualidade do som, mas, a sua preferida é a primeira, feita em 2019. “Essas outras violas da primeira pra cá, são mais bem trabalhadas, mas a viola que mais gosto e a primeira, é com ela que faço os vídeos caseiros, que faço ensaio em casa. Me ofereceram dinheiro nela, e não vendo por dinheiro nenhum”.