Em junho do ano passado, a escritora Lya Luft, que morreu nesta quinta-feira (30/12) aos 83 anos, deu uma entrevista ao jornal Folha de S.Paulo. Na ocasião, ela lançava seu novo livro "As Coisas Humanas", composto por crônicas sobre afetos e o luto pela morte do filho. "Em última análise, escrevi, talvez, para mostrar que o amor é mais importante do que a morte", diz. Lya também disse que estava arrependida de ter votado em Jair Bolsonaro. "Te confesso que votei e me arrependi. Votei na falta de coisa melhor e me arrependi muito. Não conhecia direito. Queria uma trégua do PT, era muita esculhambação, corrupção, não foi uma fase boa. Votei nele e me arrependi em seguida", disse a escritora, ao telefone, enquanto cumpria quarentena na sua casa em Gramado, na serra gaúcha.SAIBA MAIS• Veja as perdas da cultura em 2021"Muita gente da minha família, que jamais votaria nele, porque ele não se portava bem mesmo como deputado, queria mudar. Alckmin estava muito sem possibilidade. Queria outro Brasil e deu no que deu", acrescenta."Meu editor recentemente escreveu que existe o 'gênero Lya Luft'", afirma no texto em que se apresenta, "frente a frente". Boa parte dos textos rememora o filho André, morto aos 51 anos, em 2017, depois de uma parada cardiorrespiratória."Parece que vivemos uma ditadura branca, uma coisa estranha, onde ele [Bolsonaro] decreta e tem que ser como ele quer. Mesmo em assunto em que ele não entende [novo coronavírus], quando estão morrendo milhares de pessoas. Essas distrações dos líderes na sua própria cobiça, a distração do sofrimento das pessoas, estão me deixando muito muito entristecida, é preciso cuidar das pessoas", opina.A escritora ainda falou sobre a pandemia do coronavírus, que ainda estava no início. "É como se o globo terrestre estivesse coberto por uma nuvem escura, meio pegajosa, se arrastando por cima de tudo. É quase incompreensível que Ásia, Europa e Brasil estejam passando pela mesma coisa [ao mesmo tempo]. Parece um grande animal, com tudo parado", disse."Muita gente ainda não está fazendo isolamento ou anda na rua sem máscara, mesmo quando cientistas recomendam. É possível reparar, em parte, a economia. Mas não pode reparar uma vida. São assuntos difíceis, filosóficos e éticos."