O quesito Alegorias e Adereços costuma chamar a atenção tanto do público quanto dos críticos de carnaval, por reunir notas dos jurados para os carros alegóricos, elementos cenográficos e complementos, apresentados pelas escolas no desenvolvimento dos enredos. Esse é o quesito que está mais diretamente relacionado ao trabalho do carnavalesco da agremiação. Com o desenvolvimento de novas técnicas e a necessidade de aprimorar os acabamentos das alegorias, as escolas buscam contratar os profissionais mais especializados em diversas áreas.

A Imperatriz Leopoldinense, por exemplo, tem há quatro anos um escultor. Daniel Soave está na escola há dez anos, desde quando foi contratado como pintor. A mudança de função ocorreu dentro do barracão. “Eu fazia pintura de arte e me interessei em fazer as esculturas dos carros, tive oportunidade de ser chamado e estou aqui hoje [como escultor]”, contou.

“O artista no Brasil tem poucas oportunidades para trabalhar com arte mesmo, esculturas e pintura. Essa é uma chance de mostrar o nosso trabalho, junto com os carnavalescos que também passam os serviços para a gente. Estou superfeliz de poder executar este trabalho”, completou Daniel.

O escultor explicou que, na maioria das vezes, as esculturas são realizadas em isopor, mas podem ser feitas em ferro ou com espuma. De acordo com o tipo de material, um escultor diferente executa o serviço. “Cada um tem uma especialização. Dependendo do que o carnavalesco quer, cada um fica com um carro”, disse. Depois de prontas no isopor, as esculturas recebem os acabamentos em pintura ou de revestimentos com outros tipos de materiais.

Daniel consegue se manter com o que recebe nos meses em que está na escola. Para o carnaval deste ano, o trabalho no barracão começou em julho de 2015. No resto do ano, ele faz outros serviços. “[Em 2015], trabalhei com o artista plástico Damián Ortega. Fizemos uma exposição bem bacana e trabalhamos com isopor e fizemos reprodução de várias esculturas.”

E quem trabalha durante tanto tempo no barracão não perde a oportunidade de desfilar com a escola. “Eu costumo desfilar com a minha esposa. A gente não vai em cima do carro não. Vamos no chão. Gosto de ficar ali próximo da escultura que eu gosto mais. Todo ano tem [uma]”, acrescentou.

Enredo
Neste carnaval, a escultura que reproduz a dupla sertaneja Zezé de Camargo e Luciano, enredo da Imperatriz, está entre as favoritas. “Gostei muito de executar a escultura do Zezé e do Luciano. Tem também um anjo caipira que vai tocar uma viola. Foram as que mais gostei de fazer”, disse, com esperança de conquistar o campeonato. “A gente quer que seja campeã. Nosso objetivo é esse e acho que este ano está tudo muito bonito. As cores estão muito vivas”, acrescentou. Em 2015, a Imperatriz ficou em 6º lugar e com isso teve direito de participar do Desfile das Campeãs, no sábado seguinte ao carnaval.

Mocidade
Na Mocidade Independente de Padre Miguel, escola da zona oeste do Rio, Alan Silva Duque é o diretor operacional e comanda a equipe de ferragem, que tem dez profissionais. Ele já trabalha na Mocidade há dez anos. “A ferragem é o início e o princípio de todo o carnaval. Tudo está baseado na ferragem, o suporte do peso, o cálculo estrutural. A ferragem acompanha tudo, até a fantasia, o eixo do carro, a estrutura total. A ferragem é muito importante e, às vezes, não é vista, porque a decoração esconde”, explicou.

Alan adiantou que no caso da Mocidade, como o carnavalesco Alexandre Louzada gosta muito de ferragem aparente, o trabalho do ferreiro fica mais evidente. “O nosso abre-alas tem bastante ferro à mostra e, então, se consegue visualizar bem o trabalho do ferreiro.”

Para ele, as exigências do serviço exigiram a especialização profissional. “Todos voltaram a estudar e as caraterísticas de montagem mudaram. Eu mesmo sou técnico em construção naval, até para poder fazer o cálculo de dimensão do carro. A tendência é só aumentar. As alegorias nunca mais foram como antigamente.”

Os carros que tinham 12 metros de comprimento, segundo ele, atualmente, chegam até a 30 metros. Alan destacou, que por isso, é necessário também que as equipes de ferragem e de mecânica atuem juntas para garantir a movimentação perfeita das alegorias.

Com a crise financeira, para o carnaval de 2016, o trabalho dele no barracão começou cedo para tentar aproveitar o material e reduzir os custos. Segundo Alan, foi possível fazer uma economia de 20% nos gastos com ferro. “Acho que a média é R$ 400 mil que se gasta. A gente conseguiu salvar boa parte da ferragem”, contou, ao acrescentar que duas das alegorias que vão para a avenida usaram o material aproveitado. “Estou confiante de que a gente vem para brigar nas cabeças. Vai impressionar quando os carros entrarem e apontarem na reta.”

As informações são da Agência Brasil