Na noite de ontem, a atriz e diretora Leandra Leal esteve em Palmas, no Cine Cultura, para participar de uma sessão de debate sobre o filme Divinas Divas, seu primeiro filme como diretora, e que vem conquistando o público por onde é exibido. Premiado em vários festivais, o filme conta a história de oito travestis e sua trajetória artística nos anos 60 e um dos primeiros palcos a abrigar homens vestidos de mulher foi o Teatro Rival, dirigido por Américo Leal, avô de Leandra. Confira abaixo entrevista exclusiva com a atriz para o Jornal do Tocantins.

Como foi estrear dirigindo com o Divinas Divas? Era com isso que você queria estrear como diretora?

Eu não tinha outro tema e acho que o Divinas foi o projeto ideal para ser o meu primeiro filme, porque como atriz me sinto muito feliz e realizada e para sair desse lugar, extrapolar esse lugar, só sendo esse projeto, que fosse algo que me mobilizasse de forma completa, como criadora, como artista, cidadã. Ao mesmo o Divinas é um filme muito pessoal, que fala sobre artistas que eu admiro, pessoas que eu convivi desde cedo. Acaba falando sobre o teatro da minha família, sobre a história da minha família.

Quanto tempo durou a produção do longa? E quais as maiores dificuldades?

Durou quase dez anos. E na verdade eu demorei um tempo fazendo uma pesquisa inicial, formatando esse projeto até entender o que ele seria mesmo e depois a gente teve dificuldade foi de financiamento mesmo. A gente mexe em dois tabus que são gênero e velhice. (...) Filmamos no final de 2013 e começo de 2014.

O filme destaca o pioneirismo e a audácia dessas travestis. Como você vê essa discussão chegando justamente nessa época?

Acho que o filme está sendo lançado num momento muito oportuno, porque é um momento que a gente está vendo uma crescente de ódio, de intolerância, de preconceito. (...) Então é muito contraditório, porque elas começaram durante a ditadura quando você tinha uma impossibilidade do governo legal para elas serem quem elas eram. (...) Então eu acho que é um filme que ao mesmo tempo escolhe mostrar elas de uma forma muito humana e que pode sensibilizar quem ver ele a olhar o outro.

Quais foram as maiores lições que a história delas passou para você?

Tem uma lição que quem vê o filme sai com isso, de como é importante você escolher como vai encarar a vida, se vai ver a vida de uma forma positiva, negativa. (...) Você escolher que tudo vai dar certo, é uma escolha delas assim. E acho que é a coragem de você ser quem você é, e é tão difícil você ser quem você é, imagina para elas nos anos 60. Mas elas conseguiram e são admiradas.

O filme já foi premiado em vários festivais no Brasil e fora dele também, e alguns por voto popular. O que significa essa resposta do público para você?

É muito bonito. A gente ganhou prêmio de público no Rio de Janeiro, em João Pessoa e no Texas. Para mim é muito especial você ter retorno de um público que não tem a mínima referência minha ou delas. Foi muito bonito ver como o filme toca as pessoas e como elas realmente são incríveis e como elas doaram as suas vidas e colocaram o coração exposto.

Quais são seus próximos projetos como atriz e como diretora?

Tenho um filme que vai ser lançado agora em julho, o Love Film Festival, que foi rodado meio documental em seis anos, tem o Bingo – Rei das Mãos que vai ser lançado em agosto e estou desenvolvendo projetos na minha produtora, mas nada que eu possa falar agora.