Patricia Lauris
contato@jornaldotocantins.com.brPode ser um dom, sina ou mesmo a vontade de colocar para fora um sentimento que não cabe no peito. Juntar palavras e arranjos para formar uma canção e encantar as pessoas é o oficio comemorado neste 15 de janeiro: o Dia Mundial do Compositor. E essa profissão encantou Luana Bogo Monteiro da Silva, ou Lua Bogo como é conhecida, aos sete anos, quando compôs sua primeira música e ganhou um concurso, mesmo sem saber direito o que ocorreria no futuro.
“Minha primeira composição foi para um concurso de talentos aqui na Capital, e eu venci. Mas como eu era mais nova, não fui tanto para o lado da música. Mas um dia, por acaso, conheci Vinícius de Moraes e para mim ele juntou muito bem poesia e melodia, e assim enveredei para o lado da música”, conta Lua.
A compositora, que tem 26 anos, lembra que só começou a compor com mais frequência depois dos 20, quando aprendeu a tocar violão. Hoje a composição de músicas virou parte de sua rotina, que a faz juntamente com seu parceiro de banda, o músico Igor Flor. “No começo nem passava pela minha cabeça viver de música, porque é complicado e eu sempre fui muito de estudar. Música para mim era um hobby. Mas um dia uma mulher me viu cantar e eu tive que criar uma banda do nada para fazer um evento e ganhar uma grana”, relembra o início da carreira da banda LuaOdara. Desde então, a veia artística falou mais alto dentro do seu peito, e com ela a participação em diversos eventos da capital palmense com seus parceiros Igor Flor, na voz e violão; Passio Roberto, no baixo; Lucas da Costa, na percussão e Alexandre Figueras na bateria e produção.
Lua destaca com carinho a participação no Festival Sonora em 2017, em que somente mulheres apresentavam seus trabalhos. “Fui com a banda e levei minhas composições. Foi muito legal”.
Sobre suas inspirações para compor suas letras, Lua conta: “Comecei a compor pela beleza da poesia. Alguns anos depois virou uma terapia, e eu sempre gostei muito de observar as pessoas, pelas histórias delas, sentimentos e como cabiam em poesia, e tudo pode ser transformado em música, seja o amor, vida, decisões, política... Qualquer coisa vira música”, explica, ressaltando que seu processo de criação geralmente começa com a escrita da letra, depois pega seu violão e arrisca alguma melodia. Após isso se junta com a banda para elaboração dos arranjos.
O estilo da LuaOdara é a Música Popular Brasileira (MPB), mas o processo de criação perpassa por diversos ritmos, conta Lua. “Tem músicas minhas que começaram com uma bossa, passaram por um bolero e hoje em dia é um fado. Tudo meu meio que começa com a bossa, mas tenho influências do jazz, blues, forró, fado, de qualquer coisa”.
Mercado e dificuldades
Sobre o mercado para compositores ou bandas que tocam sons autorais, Lua explica que o espaço está se expandindo. “De uns tempos para cá, começou um movimento de produtoras independentes em Palmas para fomentar essa coisa do autoral, tanto que nosso primeiro vídeo para o YouTube foi gravado por uma delas, que fez um custo baixo para nós. Festivais também, como o Sonora ou o Bem Ali estão proporcionando esse espaço para a música autoral”, comemora, ressaltando que até o público vem preferindo ouvir nos shows as produções das bandas.
Entre as dificuldades de viver da música e em ser uma compositora, Lua destaca o próprio preconceito contra o sexo feminino. “Tive sorte porque na minha banda as pessoas me respeitam muito, mas não é todo mundo que respeita. Já aconteceu de estarmos em um bar e ao invés de uma pessoa querer falar comigo para usar o microfone, se dirigiu ao Igor, por exemplo. Mas é uma coisa que no dia a dia se vai combatendo, é um espaço que se vai conquistando”.
Sobre o Dia Mundial do Compositor, Lua deixa seu recado: “Vamos para cima! A arte é importante, por mais que às vezes nos façam acreditar que não é. A arte é necessária e se não fosse ela, a sociedade já estaria à beira de um caos. É importante que a gente não desista!”, finaliza.
Voz e letras da experiência
Natural do município de Filadélfia, distante 457 km de Palmas, o compositor Lucimar, que hoje mora e mostra seu talento na Capital, atuou por mais de 20 anos com música em São Paulo. Já teve letras interpretadas por artistas de renome. “Meu primeiro grande sucesso foi nas vozes da dupla Rick & Renner, depois compus três grandes sucessos de Daniel, Zezé & Luciano, Leonardo, Chitão & Xororó, Padre Marcelo Rossi, Milionário & José Rico, Peninha e tantos outros. Tenho aproximadamente 600 canções gravadas no Brasil, Índia, Portugal” conta.
Sobre suas inspirações para compor, ele explica: “Não tenho um método ou fórmula, em geral, espero ser tocado por aquilo que chamamos de inspiração, a partir daí uso um trecho melódico pra provocar uma melodia e vice-versa. Adoro compor sobre o amor e a natureza”.
Ele conta ainda que sua experiência como músico traz vantagens para compor, como “mais segurança pra vivenciar e ousar e ser ao mesmo tempo mais espontâneo, e por outro lado um pouco racional”.
Lucimar também destaca que as percepções que teve ao logo dos anos sobre como as pessoas recebem a música. “A boa música está cada vez mais distante das percepções atuais. Entretanto, você consegue tocar ainda mais fundo àqueles que sentem e entendem sua obra”.
Levando em consideração sua experiência em grandes centros, como São Paulo, e também em seu estado natal, ele explica: “As duas situações se parecem muito, mesmo sendo apostas. Há muito mais oportunidades de se mostrar uma canção num grande centro, ao passo que num lugar menor você alcança quase toda a população com poucas janelas abertas”.
Para quem está começando a compor suas próprias canções, Lucimar orienta: “Além de ser cronista da vida, ser compositor é ser feliz. E àquele que queira ser compositor, diga da sua verdade, seja o mais próximo do coração”.
Data
O Dia Mundial do Compositor, comemorado em 15 de janeiro, surgiu no México em 1945, quando a Sociedade de Autores e Compositores do país passou a comemorar sua fundação. Essa data foi incorporada em todo o mundo em 1983, quando passou a ser comemorada. O Brasil ainda celebra, em 7 de outubro, o Dia do Compositor Brasileiro.
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