Acordada às 5:30 da manhã. Protagonizando uma cena nada habitual, odeio acordar cedo, porém, hoje é necessário. É dia de tomar café com os meus pais, ou seja, uma daquelas raras ocasiões para quem mora só, e para quem nunca toma café da manhã, como eu. No estacionamento, pessoas dentro dos carros esperando as portas da padaria se abrirem. Três homens bêbados ao nosso lado falando sobre a incapacidade de mulheres entenderem de negócios e da capacidade em esconder o valor de suas aquisições. Longa espera até que as portas se abrem. Um rápido pensamento me veio à mente: eu acordada antes mesmo da padaria ser aberta, este dia promete!

O estabelecimento logo se enche de pessoas que acabaram de sair de festas. No balcão onde tem pão de queijo, avisto um rapaz fantasiado de Arlequina. Além da companhia dos meus pais, levantar cedo valeu mesmo a pena pela simples façanha de presenciar uma integrante do Esquadrão Suicida tomando tranquilamente seu café da manhã. Em outra direção, uma moça com uma bolsa vermelha que parecia comum até um cachorro minúsculo colocar a cabeça para fora dela. Mais pessoas chegando de suas noites pré-feriado, com figurinos impecáveis e mulheres com maquiagens exigindo demaquilante com urgência.

No caixa, uma moça suando frio, mãos trêmulas, atos confusos, é o seu primeiro dia de trabalho. Descobri por acaso enquanto pesava a minha refeição. De relance, ela me lembrou eu mesma em tantos primeiros dias de trabalho, onde minha vontade era voltar para casa por não saber lidar com tanta insegurança, ainda bem que nunca cumpri o que desejei.

Café com leite, gosto imediato da infância, de quando tomar café com meus pais estava longe de ser evento raro. Pratos e xícaras vazias, hora de nos despedirmos. Mais uma vez vejo meus pais seguirem o rumo deles enquanto eu fico. Volto para a minha casa, meu quarto, minha vida, minha solidão de sempre, mas hoje com a sensação nova de uma manhã cheia e inusitada. Então é isso que acontece enquanto eu resolvo dormir até tarde? Muitas emoções para uma manhã, muitas cenas para refletir durante o dia, ainda estou pensando no nervosismo da moça do caixa. Poderia ficar acordada e prestigiar o restante do potencial desta manhã, contudo, decidi continuar aquele sono que eu interrompi por uma boa causa. Qualquer dia desses eu abandono minha cama e vou viver todas essas histórias que as manhãs aparentam permitir, até lá eu vou continuar processando todas as cenas de hoje durante meu sono.