Thiago Darin, é amanuense
Era uma vez um czar naturalista
que caçava homens
Quando lhe disseram que também
se caçam borboletas e andorinhas,
ficou muito espantado
e achou uma barbaridade.
Carlos Drummond de Andrade, Anedota Búlgara
Justo no momento em que é pivô de um litígio conjugal entre Goiás e Minas Gerais para decidir a paternidade da criança, o pequi - verdadeiro patrimônio cultural e gastronômico do Cerrado - acabou por tornar-se o centro de um tremendo quiproquó político nos últimos meses.
Em meados do ano passado, a caminhar furtivamente pela cidade, deparei-me com um outdoor, no mínimo, inusitado. Nele podia-se vislumbrar uma comparação entre o atual ocupante da presidência e a iguaria presente em pratos e compotas de milhões de lares goianos, mineiros e, para fazer a devida justiça, tocantinenses.
Particularmente, achei a querela aberta pela analogia algo injusto e de muito mau gosto. Afinal, em nenhum momento foi dada a chance de defesa nem tomado o depoimento do maior injustiçado nessa história: o coitado do pequi!
Ninguém sequer perguntou a esse indefeso fruto - em sua modalidade carcomida - o que acha da associação à sinistra figura que incansavelmente vem sabotando esforços para combater a catástrofe sanitária que se abateu sobre o país.
Ou mesmo o que sente ao ser equiparado a alguém cuja total falta de empatia por milhares de famílias enlutadas lhe tornou alvo de um pedido de investigação ao Tribunal Penal Internacional por crimes contra a humanidade.
Ademais, quem disse que pequi roído não tem serventia?? Se chegou a tal ponto é porque já saciou a fome, rendeu guloseimas e foi cantado por inúmeros menestréis do sertão.
Pequi que se preza não aceita meio-termo. Desperta paixões ou repúdios. De minha parte, devo confessar que nunca morri de amores pelo dito-cujo. Contudo, obriga-me o dever cívico a prestar profundo respeito e a reconhecer o que o "Ouro do Cerrado" significa para muitos. Do atual ocupante do Planalto, infelizmente, não posso dizer o mesmo...
Meus amigos, meus inimigos, salvemos o pequi!
P.S.: Toda a solidariedade a Tiago Costa Rodrigues.
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