O empresário e agropecuarista Olavo de Castro foi um dos grandes investidores de Goiânia. Natural de Uberlândia (MG), ele foi responsável pela construção do primeiro hotel cinco estrelas da cidade e onde morava com a sua mulher Norma Cunha de Castro.

Olavo mudou para Goiânia ainda na juventude, e, em junho de 1986, abriu o Castro’s Park Hotel, no Setor Oeste.

Ele estava internado no Hospital do Coração Anis Rassi e faleceu nesta quarta-feira (25).

O Castro's Park Hotel teve um papel fundamental para mudar a impressão ruim e atrair turistas a Goiânia, que tinha passado na época pelo acidente com o Césio 137. 

Na sua última entrevista ao O POPULAR, Olavo falou um pouco da sua paixão pela cidade e de como foi construir o hotel que leva o nome da sua família. Confira:

O senhor construiu o Castro's mesmo com pesquisa que apontava que não seria indicado para a cidade ter um hotel 5 estrelas. Por que escolheu Goiânia e não outra cidade?
Eu era rapaz em Uberlândia quando Goiânia foi inaugurada. A cidade era a vedete da época, um local para se investir. Vim como pecuarista e, passados os anos, eu senti que precisava diversificar minhas atividades. Quando resolvi construir o hotel, procurei o melhor arquiteto do País em hotelaria, o Paulo Casé, que fez o projeto, já com estrutura para um hotel 5 estrelas. Eu já tinha o lote onde fica o hotel hoje, mas a prefeitura não liberava a construção de um edifício de 15 andares nessa região, mesmo já tendo dois prédios residenciais com esse porte próximos. Por isso comecei a procurar áreas no Rio de Janeiro. Achamos bons locais em Copacabana e na Lagoa Rodrigo de Freitas. Mas eu realmente queria construir em Goiânia, essa foi a cidade que me acolheu, tenho amor por essa cidade. Depois de dois anos, conseguimos aprovar na prefeitura a construção do hotel.

Precisou trazer mão-de-obra de fora do Estado?
O primeiro engenheiro foi de Uberlânia, que trouxe uma equipe de 20 trabalhadores. Na época faltavam pessoas e equipamentos no Estado. As máquinas para fazer o estacamento tiveram de vir de Brasília e o acabamento, de São Paulo. Por indicação do arquiteto, o gerente operacional veio de São Paulo e o financeiro do Rio de Janeiro. Era muito difícil contar com mão-de-obra de garçons, recepcionistas, camareiras e o restante da equipe operacional. Então decidimos formar nossa equipe. Criamos 11 salas no hotel para treinamento. Acabou sendo um local de capacitação na cidade. Filhos de muitas pessoas conhecidas da cidade vieram fazer os treinamentos e trabalhar no hotel. 

O hotel mantém funcionários que estão na empresa desde sua obra. Eles já são parte de sua família?
Temos funcionários na empresa que estão desde a construção. Eles já são grandes amigos. No dia 2 fizemos um comemoração para os funcionários que têm mais de 15 anos de empresa, foi um momento muito especial, eles trouxeram a família para comemorarmos todos esses anos na empresa. Eu e minha família fizemos questão de recepcionar e agradecer um a um. 

Um ano após a inauguração do hotel, Goiânia sofreu com o acidente com o Césio 137 e os preconceitos contra a população. Como vocês contornaram essa resistência dos brasileiros em visitar Goiânia? O que fizeram para reverter essa imagem negativa que crescia? Quanto tempo durou essa aversão à cidade?
Foi a pior coisa que poderia ter acontecido. Ninguém vinha a Goiânia. A imprensa nacional incentivava que as pessoas não viessem à cidade. Lembro de um piloto que pegou um táxi no aeroporto até o Castro's. Quando chegou ao hotel, ele se recusou a pegar o troco, pois poderia estar contaminado. Isso foi marcante, era a forma que as pessoas viam Goiânia. Junto com o governo da época, trouxemos vários artistas para mudar a imagem da cidade. O governo pagava o transporte e o hotel custeava a hospedagm para tentar reverter a impressão da cidade nacionalmente. Foi um ano que o hotel ficou praticamente sem hóspedes.

O senhor é um agropecuarista e decidiu construir um hotel para suas filhas administrarem. Como elas se prepararam para o cargo?
Na época da construção do hotel uma filha foi fazer administração e a outra foi estudar dois anos na Suíça, um ano em Londres e depois Hotelaria em São Paulo.

O que fazem para se manterem na liderança de mercado na classificação de cinco estrelas?
Procuramos sempre manter o padrão de atendimento internacional. Um hotel cinco estrelas não nasce do dia para a noite. Desde o início já foi projetado para ser cinco estrelas: levando em consideração tamanho dos quartos e área de lazer, por exemplo. Desde a abertura até hoje, sempre treinamos nossa equipe com grandes profissionais, isso faz toda a diferança.

O que trouxe de sua experiência na administração de fazendas para a rede hoteleira?
Eu sempre fui muito organizado e exigente, além de contar com uma excelente equipe. Isso tenho nas fazendas e no hotel. A honestidade sempre está comigo nos meus negócios. Nunca aceitei atrasar um dia o salário dos meus funcionários. Se eu pegasse financiamento poderia ter outras empresas, mas preferi sempre trabalhar dentro das minhas posses. Para mim é muito difícil fazer o nome, e quase impossível refazê-lo. Essa responsabilidade de pagamentos é imprescindível na minha vida.

O senhor mantém residência no próprio hotel. Em que ponto sua vida pessoal se confunde com a profissional?
Eu vim morar no hotel provisoriamente e aqui permaneço por todos esses anos. Prefiro ficar aqui pela comodidade e segurança. Eu sempre consegui separar o profissional do pessoal. Nunca me ligaram à noite para falar sobre qualquer problema do hotel. 

Como Goiânia se situa hoje no turismo brasileiro?
Goiânia é uma cidade muito agradável. Quem vem aqui sempre quer voltar. Falo que é uma cidade pequena com vida de cidade grande. É uma cidade para trabalhar, onde ninguém tem tempo de falar da vida dos outros. O turismo de negócios na cidade está crescendo e ainda tem muito a crescer.