Nascida no Brasil, mas com moradas em Portugal e na Suíça, a professora doutora e tradutora Stella Maris Rosselet lança hoje, em Palmas, o livro Morada da Memória. A obra reúne as suas vivências no Brasil e no exterior e é, para ela, um modo de dividir experiências e estimular outras pessoas a se lançarem na escrita, a estudarem. “Eu me senti estimulada graças aos professores maravilhosos que chegaram lá (Assis, interior de São Paulo, onde nasceu), eu tenho que fazer a minha parte”, destaca a escritora, que lança sua primeira obra literária, mas que tem grande contribuição no universo didático no País e na Europa. Stella Maris divide um pouco dessas histórias do livro na entrevista abaixo.

 

 

O que o leitor vai encontrar em Morada da Memória?

Esse livro conta passagens importantes da minha vida onde eu quis ressaltar os bons contatos, as pessoas maravilhosas que eu sempre encontrei. Como eu morei muito no exterior, ele faz uma ponte entre a minha vida anterior aqui no Brasil, a minha longa vida na Suíça e a volta ao Brasil, onde trabalho. Gosto de estar em contato com as pessoas. Gosto de gente e gosto de palavras. Então, o livro conta as minhas experiências e as mudanças na minha vida.

 

 

Por que a senhora resolveu escrever as suas memórias?

O que costumo responder às pessoas que me fazem esta pergunta é: por que eu não escreveria um livro, se tenho uma vida tão cheia de coisas maravilhosas para contar?(risos)

 

 

Uma frase do seu pai que está na contracapa do livro é emblemática para sua história, uma vez que fala da transitoriedade da vida. Nos fale um pouco dessa experiência.

A casa é um grande símbolo para todos nós. Todos queremos ter a nossa casa. Eu vi a luta dos meus pais para construir a própria casa. E bem, é uma frase muito importante para mim, porque, quando o meu pai faleceu, eu tinha 13 anos, e, quando menina, fui muito influenciada por ele. No livro, eu falo muito do meu pai e da minha mãe. No fim, é um tributo de agradecimento. E quando papai faleceu eu era muito jovem e foi muito influente na minha vida. Eu guardei sempre esta frase na minha memória e, quando decidi publicar uma parte das minhas lembranças, eu lembrei justamente desta frase e desta expressão “Morada da Memória”.

 

 

Como foi viver esta experiência de vida em outros países?

Eu fiz a faculdade de Letras em Assis, interior de São Paulo, onde nasci, e depois ganhei uma bolsa de estudos para fazer a minha tese de doutoramento em Portugal. Eu já saí com uma certa idade, mas sempre sonhei em viajar e foi através dos estudos que eu consegui sair do País. Depois, trabalhei um pouco aqui, mas estava noiva e voltei para a Suíça há exatamente 50 anos, eu e meu marido vamos completar agora em abril bodas de ouro e bem, o resto está contado no livro (risos).

 

 

Como foram as suas vivências no Brasil antes de se mudar para Europa?

Eu morei sempre em Assis, a minha cidade natal, 25 anos antes de mudar para a Europa. E eu conto no livro que tudo que eu quis estudar veio para o Brasil, até a faculdade eu sou da primeira turma criada e é uma historia de fé. Eu sonhava em sair de casa e minha mãe dizia que não. Então, eu tive a benção de fazer essa faculdade. Sou privilegiada, mas no Brasil eu não tive outras casas, mas fui sempre tentando me adaptar a tudo e foi sempre uma experiência maravilhosa. E para fazer amigos todo lugar é bom. Esse problema físico da casa não existe para mim. É uma questão mais de onde eu me sinto bem, onde eu moro é a minha morada.

 

 

E a senhora disse que sempre escreveu. Há tempos desenvolve esta obra então?

Eu gosto de escrever. Eu acho que o tempo passa muito rápido. Hoje em dia somos muito consumistas. O jornal, por exemplo, a gente lê e já joga fora. Às vezes, a gente consome as notícias e, às vezes, até as amizades. Eu, como vivi fora, foi uma forma de transmitir à minha família aquilo que eu estava vivendo e depois mais tarde transmitir às pessoas que estavam à minha volta. Eu sempre quis fazer a ponte entre as pessoas que eu quero bem. Então, é mais ou menos neste sentido. Eu conto o que eu vivi na Suíça, aquilo que pode dar aos outros um momento de reflexão, de alegria ou uma lembrança.

Por exemplo, o livro já foi lançado na minha cidade e em Divinópolis (TO), e distribuído para vários amigos no exterior. E o retorno é justamente esse. Fazem um elogio da minha obra, não como uma obra literária, mas porque sempre encontram alguma coisa que lembrou a vida deles e esse é o meu objetivo. E isso tem me dado muita alegria porque tenho tido muito retorno das pessoas que leram no Brasil e outros países. Não é uma história literária, mas é uma história de vida que toca no coração das outras pessoas para que se lembrem das delas. Quando a gente conversa com as outras pessoas dizem: a minha vida daria um livro, então eu digo, escreva, escreva.

 

 

No Brasil existe uma cultura de que escrever é prerrogativa de intelectuais. O que a senhora acha disso?

Eu penso que talvez eu nunca publicaria um livro se tivesse ficado no Brasil e lá em Assis, onde eu morava. Era uma elite de alunos intelectualizada e penso que muitos seguiram carreiras diferentes, fizeram livros de crítica e tudo isso vai nos dando medo de escrever, porque você sabe que a crítica existe. Então, se vai escrever um livro pensa: meu Deus, quem vai ler? Então o que você falou é mais ou menos uma coragem que eu tive. E eu tive essa coragem de publicar porque estou aqui no Tocantins. Se eu tivesse ficado no Estado de São Paulo talvez não tivesse escrito nada. Na Europa eu publiquei livros didáticos, de línguas, de ensino de português pelo computador, mas nunca escrevi um livro meu pessoal. E o que me deu coragem foi justamente estar aqui no Tocantins, onde parece que tudo é possível e tudo é necessário. Eu morei em Divinópolis, no interior do Tocantins, e dava aulas no quintal da minha casa, dava aconselhamentos, porque acho que é por aí.

Se eu vim de uma cidade pequena, no interior de São Paulo, onde não havia quase possibilidade, eu me senti estimulada graças aos professores maravilhosos que chegaram lá. Eu tenho que fazer a minha parte. Onde eu estou eu procuro ver se posso ajudar, orientar. E acho que não vou publicar nenhum livro a mais, mas digo que para mim foi a minha chance de entrar em contato com as pessoas, de empurrar as pessoas a fazerem alguma coisa, estimular os outros, porque estou numa fase da vida que não estou nem atrás de honra e nem de dinheiro, preciso de coisas que me deixem livre e o que posso fazer é justamente estimular as pessoas a se lançarem, não terem medo de escrever e publicar.

 

 

E o que a trouxe para o Tocantins?

Eu também não sei (risos). Como me disse o professor Antônio Cândido (crítico literário): mistérios da vida que fazem com que uma menina saia do interior de São Paulo, vá para a Europa e depois para o Tocantins. Bem, tenho uma filha que mora aqui, casada com um brasileiro e quando nós nos aposentamos a gente queria voltar para o Brasil e viemos correndo atrás das filhas. Uma mãe faz isso.

 

Serviço

O quê: Lançamento do livro Morada da Memória

Quando: Hoje, às 19h30

Onde: Salão de Eventos - Hotel Rio do Sono

Entrada gratuita