Em entrevista a Claudio Leal, da Folha de S.Paulo, o músico Caetano Veloso, que nesta quinta (21) lançou "Meu Coco", seu primeiro álbum de inéditas em quase uma década, comentou o atual cenário político do país, declarações recentes de políticos como Ciro Gomes (PDT) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a ascensão extrema direita no mundo e suas perspectivas para o futuro brasileiro.

CIRO VS. LULA

Apoiador da candidatura presidencial de Ciro Gomes, em 2018, o músico afirma que não se sente bem com os atuais ataques do pedetista ao ex-presidente Lula.

"Não me sinto à vontade, não me sinto muito bem. Não me parece que venha a ser tão eficaz como ele e talvez João Santana pensem. E depois não me agrada a agressividade contra Lula, porque Lula é uma figura na história do Brasil que eu não consigo não admirar e não sentir afeto. Acho que tem uma beleza nessa manifestação da maioria do povo brasileiro de querer elegê-lo", diz Caetano.

"Agora, isso não quer dizer que a melhor coisa que poderá acontecer com o Brasil será Lula voltar à presidência. Não sei. Há um pouco de volta ao passado, gostaria que o Brasil desse passos pra frente. O próprio Lula, o próprio PT podia ter outra atitude. Mas o tom do Ciro nesse último período a mim não me agradou", continua o músico.

"Eu tinha divergências estratégicas com Lula, às vezes sutilmente políticas, mas não tão nitidamente porque Lula era politicamente estratégico, mas estrategicamente ele não era tão bom político."

Com cara de hit, a canção "Não Vou Deixar", de "Meu Coco", tem um fraseado de briga amorosa e um sentido político explícito ao alvejar os retrocessos do governo Jair Bolsonaro.

"O disco é todo de afirmação, mas é, na verdade, dentro de um momento de negação do que pode haver de bonito no Brasil", diz Caetano. "A gente está passando por um período difícil, que nega muito tudo o que pode ser bonito numa canção ou na vida. E, quando a pergunta vem, é feita por um eu lírico que ainda está ligado à ideia de missão salvacionista do Brasil."

A EXTREMA DIREITA

"Está havendo no mundo inteiro o fenômeno da extrema direita chegar ao poder em vários países. O que eu vejo nisso, também, é uma demonstração de uma certa fragilidade do conservadorismo. Porque eles eram a maioria silenciosa. Não podem mais ser silenciosos, não querem mais e não podem mais", diz o músico.

"É perigoso, muita turbulência tem acontecido e acontecerá, mas uma vitória de uma atitude conservadora no mundo que seja estável não é possível. Isso é o momento em que a maioria silenciosa deixou de ser silenciosa, precisa gritar e é um tanto histérica demais. Pode causar muitos horrores."

O cantor ainda diz que no momento de deixar sua "cabeça solta para as canções [de 'Meu Coco'] saírem não poderia deixar de aparecer esse tema do Brasil como que liderando uma mudança".