Um notebook, microfone, fone de ouvido e muita pesquisa e criatividade para tirar ideias do papel e leva-las ao público. É dessa forma que muitos têm investido na produção de podcasts, programas de conteúdos variados gravados em áudio e que, diferentes dos veiculados em rádio, estão disponíves na internet para acesso a qualquer momento após sua publicação.Em Palmas, inspirado por diversos estilos musicais distintos e em alta, principalmente na cena independente, Philipe Ramos, 26 anos, produz o podcast ‘Boto Fé Nesse Som’ desde 2017, focado em música brasileira do cenário atual. No mesmo ano, passou a ouvir e se interessar cada vez mais por conteúdos neste formato e disponibilizar o primeiro episódio do seu próprio podcast em dezembro.“Na época eu não tinha uma referência sobre o assunto, mas para produzir a minha inspiração é ouvir muita música, pesquisar sobre ela, sobre aqueles que gravaram um álbum e acabaram não recebendo muita atenção, mas que mesmo assim tem muita qualidade”, explica.A partir das músicas, o processo de elaboração do conteúdo envolve entrevistas com os artistas por vídeo-chamada, o que leva Ramos a entrar em contato com diversas assessorias de imprensa e às vezes com os próprios músicos pelas redes sociais.“Nem sempre é fácil porque muitos não têm assessoria, outros preferem dar entrevista para veículos maiores, diferente do meu que está bem no início. Eles têm uma certa resistência. Mando dez, vinte solicitações para ser respondido por um, essa é uma dificuldade”, conta.Segundo ele, a audiência do Boto Fé nesse Som está crescendo e muito da receptividade desse formato de fazer conteúdo no Tocantins se deve pela popularização de podcasts por meio das emissoras de televisão nacionais.“O fato da televisão se envolver nisso acaba atiçando a curiosidade das pessoas e é um meio importante para que o formato seja popularizado e chegue aqueles que não ouviriam podcasts anos atrás por não saber o que era”, afirma.Mesmo apaixonado pelo que faz, Ramos, que trabalha como servidor público, afirma que, para ele, ainda não é possível viver de podcast. Mesmo com exemplos de podcasts brasileiros que conseguiram patrocínios de bancos e empresas de cosméticos, por exemplo, o produtor conta que os que trabalham de forma independente ainda sofrem com essa situação.“Porém, fui em um evento da maior empresa de streaming de música em São Paulo e eles anunciaram que investirão milhões em podcasts no Brasil e vão tentar chegar principalmente nessas áreas do país em que o podcast ainda é pouco ouvido, e buscar também a representatividade de mulheres, negros, LGBTs. O cenário é animador, mas ainda é uma realidade distante viver de podcast”, pontua.Mover dos sentidosUma realidade diferente, mas que segue o mesmo caminho é a do podcast Cultura em Movimento, produto das ideias de um trio de amigos jornalistas formado por Thuanny Vieira Silva, Fernanda Veloso e Samuel Daltan, que também é músico. O primeiro episódio foi gravado em janeiro deste ano Capital.Disponibilizados semanalmente em duas plataformas de streaming, além de gravados em áudio, também são filmados e costumam ocorrer em ambientes diferentes a cada programa. Segundo a produtora Thuanny, 28 anos, a ambiência varia de acordo com a manifestação cultural e é uma forma de trazer proximidade do ouvinte.“Quando o episódio for sobre cinema vamos conversar dentro de uma sala de cinema, quando for falado sobre rap e hip hop iremos em um espaço que lembre o ambiente de rua, onde começa os principais palcos desses estilos. É para ilustrar um pouquinho e tentar fazer com que os ouvintes também consigam visualizar o nosso podcast de certa forma”, descreve.O programa segue o formato de entrevista aberta, em que cerca de três perguntas são elaboradas e o entrevistador tem a liberdade de explorar mais os assuntos de acordo com a fala do convidado.Sobre financiamento, a equipe capta recursos de um edital promovido pela Fundação Cultural de Palmas. De acordo com Thuanny, a intenção é produzir algo que mostre o quanto a cultura movimenta a rotina de qualquer pessoa.“Já pensamos em fazer isso de forma independente há algum tempo, só que acabávamos vendo algumas limitações em relação à captação de áudio. Um gravador bom para fazer um programa com mínimo de ruído possível custa em média R$ 1.500 e a qualidade do áudio em um podcast é muito importante, porque caso contrário é uma distração para quem ouve e escuta o programa”, pontua.Em nome da equipe, Thuanny afirma que produzir conteúdo para a área cultural é um trabalho necessário e que o trio ama fazer. “Somos produtoras culturais antes de sermos jornalistas, é algo que vem antes da nossa formação acadêmica e acreditamos que o formato é tendência. Em São Paulo, Rio de Janeiro, a galera em vez de colocar rádio está escutando podcast, ele é um meio por onde as pessoas mais estão se informando hoje”, finaliza.-Imagem (1.1977721)