Atualizada às 15h37

Compositor e cantor querido no Tocantins, José Bulhões Padilha, o J. Bulhões, era conhecido por desenvolver projetos em parceria com diversos artistas tocantinenses que prestam homenagem e lamentam a morte do amigo.

Bulhões morreu nesta quarta-feira, 30, após sete dias internado no Hospital Geral de Palmas (HGP) devido a um aneurisma sofrido na última quinta-feira, 23. O corpo será velado na Assembleia Legislativa (AL) em Palmas a partir das 15h30 e, posteriormente, será levado para ser enterrado em São Paulo.   

Nas redes sociais o jornalista, poeta e compositor Tião Pinheiro (editor-chefe do JTo) publicou um poema em homenagem a J. Bulhões.

“Perder o J. Bulhões é um desses petardos da vida e que, por mais que isso seja algo natural e já sabido, jamais vamos nos acostumar. Principalmente quando a partida é de gente como o Bulhas, um ser humano raro hoje em dia, alma levíssima e que faz – e fará sempre – parte de nossas vidas”, relatou Tião Pinheiro.

Bulhões era parte de um grupo de artistas palmenses conhecido como Abacateiro. “Ele era a leveza maior do nosso Abacateiro, um grupo de arte e de amigos que de certa forma, junto com nossas famílias, é nossa base de apoio, nosso alimento pra seguir mesmo em um mundo chato, triste e com tanto desamor. O consolo é que vivemos intensamente o amor, a amizade e a solidariedade com o Bulhas. E sua obra fica aqui eternamente com a gente, como suas maravilhosas lembranças, lições e alto astral”, contou Pinheiro.

O também cantor e compositor Léo Pinheiro, parceiro de vários trabalhos de Bulhões expressou sua tristeza pela perda de um amigo e também de um grande nome da música. “Difícil. Bulhões era um grande amigo, irmão. Vai fazer muita falta na música como um grande parceiro. O que fica é sua vida e seu legado cheio de alegre e honestidade”, lamentou.

Outro artista companheiro de Bulhões, Dorivã escreveu "Adeus Bulhões" e falou sobre a personalidade despojada e a alma pura do artista. "J. Bulhões é um espírito de alma pura e despojada. Um ser humano lindo, cordial e sensível. Seu olhar quis dizer. Dentre os momentos de convivência que tivemos quero cultuar, in memoriam, o Bulhas dealma leve, o Bulhas do sorriso farto e o parceiro de composições que se tornarão poeira cósmica no andar de cima desse universo que um dia proverá esse nosso reencontro de almas, assim como  fomos aqui na terra. Minha crença permite crer quecontinuaremos a canção em parceria iniciada por aqui. Vai com Deus, Bulhas! Que a terra lhe seja leve, parafraseando Belchior", escreveu. 

Personalidades 

Quem também lamentou a morte por meio das redes sociais é o antigo subsecretário de Comunicação e Secretaria de Cultura, Melck Aquino de Araújo. Na publicação, ele lembrou da passagem do artista pela Banda Veiétu e toda a carreira do artista “descolado, músico, interprete, arranjador e diretor musical” encantando com o seu talento. Araújo também lembrou diversos momentos com Bulhões em momentos recheados de música.

“Vá em paz amigo. E em sua homenagem posto aqui a música que você escolheu para encerrar o show daquela agora longínquo 01º de outubro de 2009, “(I Can't Get No) Satisfaction“ de Rolling Stones. Até porque você sempre foi aquele que não conseguia se satisfazer com a excelência e beleza de sua arte e, por isso, continuava sempre tentando, tentando e tentando se satisfazer. Véi Bulhas, muito rock´n´roll na veia, onde quer que você vá cantar e balançar o cabelão meu amigo”, disse.

A presidente da Academia Palmense de Letras (APL), a escritora Francisquinha Laranjeira, em nota, também lamentou a morte. " Peço a Deus que dê força e sabedoria a família de J. Bulhões. E que sua voz não se apague, para que as gerações futuras tenham a oportunidade de conhecê-la", disse. 

Ao Jornal do Tocantins, o presidente da Fundação Cultural de Palmas (FCP) Giovanni de Assis lamentou a morte. "A música, a cultura e a arte de Palmas e do Tocantins perde um de seus grandes expoentes. J. Bulhões era cantor, compositor, ator e gestor de cultural. Ele fez, lutou a sua vida inteira para levar e elevar o jazz, o country e o rock para um nível mais alto no Tocantins. Estamos mais tristes e esperamos que Deus o receba lá no céu, que se enaltece recebendo essa grande pessoa, esse grande cantor e gestor”, disse.  

Mais despedidas 

Direto de Dublin, na Irlanda, o jornalista e músico Sandro Petrilli

Zé, já falamos tanto sobre isso: sempre achei que a vida foi um pouco injusta contigo. O seu talento pra compor tanto, tão bem e com tanta facilidade deveria ter sido muito mais recompensado. Você tem, sei lá… dezenas, centenas de canções extraordinárias que o mundo deveria conhecer. Você é genial e tanta gente nem imagina porque você é humilde demais, bro! Tinha que ser mais cheio de panca, sabe…

Fora tantas e quantas canções que fizemos juntos. Eu ainda vou te mostrar os vídeos da gente compondo. Tenho vários. É muito bacana ter uma canção pronta, mas desenvolver o tema, achar juntos as melhores palavras, isso é o melhor. Quantos cigarros desperdiçados, presos nas cordas da cabeça do violão, queimados até o fim sem um só trago enquanto a gente pensava, ria, pensava, ria. E até cantava.

Zé, até acho que foi sacanagem te acordar naquela segunda-feira pra ser nosso padrinho de casamento. Mas sabe, amigos são pra essas coisas… e foi lindo ter você e a Roberta lá conosco.

Tá bom, Zé, desculpe também por pegar no seu pé tantas vezes pelo seu talento no futebol, como ponta direita liso de rara habilidade que você sempre foi. Espero ser perdoado por isso.

Sei que deve ser um saco ter que cantar “The Long and Winding Road” milhões de vezes, porque eu sempre peço. Mas é sério o que eu lhe digo sempre: me emociona muito mais ouvindo você cantar do que o próprio Paul. Acho que é essa sua voz e esse seu violão doce, bro.

Mas, pensando bem, fora um perrengue ou outro, fora a dureza da vida, você é um cara de sorte. Você passou duas semanas numa Kombi toda esfumaçada, indo do Sudeste pro Nordeste, só pra tocar num baile. Deve ter sido muito engraçado! Como deve ter sido também sensacional passar tanto tempo convivendo com Gil e Caetano, indo nas festas quando os caras estavam no auge, participando de turnê na Europa e até fazendo ponta em filme. Aquela bitoca na Regina Casé deve ter sido impagável, bro!

E entre nós, posso contar: eu queria muito ter nascido 20 anos antes, quando o mundo era bem menos chato, e ainda ter um EP com nome em inglês: Joe Bulls! Porra, isso é pra poucos! Você saiu de Oriente, pegou o trem pra Corumbá, chegou em Mairiporã, foi dono de pub em Campos do Jordão e ainda foi cair em Palmas. Não é pra qualquer um! Na verdade, Bulhas, acho que eu queria ter nascido esses 20 anos antes pra viver mais tempo com você, irmão. Mas tá valendo. Porque o tanto que gente se divertiu nos últimos anos em tanta roda de viola, vale por muito.

Bom, Zé, eu sei que você precisa ir. Vai lá, a gente se vê em breve. Certeza. Ou não. Mas sei que onde quer você vá, arruma um violão e faz a sua mágica. Onde quer que você vá, quem quer que você encontre, é só você começar a tocar, bro… aí vira festa.

Um beijo. Fica bem.

 

Veja também um poema de Marcelinho Roriz, amigo de longa data de Bulhões.

Ao amigo Bulhas

Uma Alma leve

Como Ademar Visionário

Que De Passagem

Embalado pelo Sol da Madrugada

Encheu Rios e Homens

Tocou Rock

No cerrado

Valseado

 

Palmas

Amou e cantou

Quis Cruzar

Um Rio

E cantou uma Rósea Canção

 

De Cacos fez rimas

Em sua Missão Viver

Quis

O querer do outro

Era o seu querer

Era querer de dois

De Garras

De Crenças

 

Vá, meu amigo

Voa Longe

Mas cuida do que é seu em mim