Um misto de amor, felicidade e medo definem os sentimentos das mulheres que se tornaram mães durante a pandemia da Covid-19. Com mais de um ano de registros de infectados pela Covid-19 no Tocantins, em lembrança ao Dia das Mães, o Jornal do Tocantins conversou com mulheres que geraram uma vida em meio a um período de incertezas, dúvidas e muitas perdas. Mulheres, essas que trouxeram a esperança em forma de vida!“Foi um período de muita aflição, de muito medo, não por mim pela minha vida, mas sim pela vida da bebe, pela integridade dela evolução e formação, medo de complicações na gestação”, lembra a enfermeira Priscila Hoffmann da época da gravidez. Hoje a pequena Melina já chega aos seus 3 meses e 21 dias, conforme conta a orgulhosa mãe de primeira viagem. Priscila engravidou em maio do ano passado em meio ao cenário que os casos somente aumentavam. “Tomamos todos os cuidados necessários, porém o que mais foi difícil foi a aflição de não poder nos isolar por completo em casa. Mesmo afastada da área insalubre, eu precisava trabalhar. Meu esposo também continuou trabalhando. Ainda tinham as consultas mensais de pré-natal, necessárias então. Era uma aflição a cada dia que se passava”, conta. Por trabalhar na área da saúde, assim que descobriu a gravidez, já com nove semanas, a enfermeira comunicou a secretária municipal e foi afastada do trabalho na linha de frente. Priscila passou a atuar somente no administrativo a partir de junho até o final do período de gestação. No dia a dia, os cuidados eram maiores, o uso da máscara não falhava, o álcool em gel era constantemente utilizado. “As compras de supermercado eram todas higienizadas antes de guardar e evitamos sair de casa, apenas para o necessário”, conta. Moradora de uma cidade no interior do Tocantins, Priscila conseguiu evitar o contágio e seguiu com uma gravidez tranquila. O nascimento de Melina também foi tranquilo. “Deu tudo certo graças a Deus não tive problema com questão de restrições a acompanhante. Meu esposo conseguiu acompanhar tudo, desde o internamento, cirurgia, e quarto”, conta lembrando que todos os cuidados e orientações dos órgãos de saúde eram redobrados no centro cirúrgico e já no pós-operatório. Agora, comemorando seu primeiro Dia das Mães, Priscila fala sobre a correria e o cansaço, além da responsabilidade de cuidar de uma vida “nem sei explicar o tamanho”. “Porém o mais engraçado de tudo, é que em meio a tudo isso existe um amor, mas um amor tão grande que chega doer sabe, a felicidade em saber que logo serei chamada de mamãe não tem tamanho”, se emociona. Sem planejamento...Engravidar neste momento de pandemia não estava nos planos da corretora de seguros Vanessa Sousa Magalhães, de 29 anos. Ainda mais por ter perdido uma amiga gestante para a Covid-19 pouco tempo antes de descobrir que seria mamãe. A cesariana para o nascimento da pequena Maria Eduarda ocorreu na última quinta-feira, 6, mesmo dia em que Vanessa conversou com o Jornal do Tocantins para falar sobre como é se tornar mãe neste período pandêmico. “Eu não estava preparada para engravidar neste momento, mas foi algo que Deus providenciou na nossa vida e é uma benção. No momento em que eu soube da minha gestação fiquei bem aflita, pois sete dias antes eu tive uma amiga que estava grávida de sete meses e ela pegou covid e não resistiu. Ela ficou mais de um mês internada e o filho nasceu graças a Deus está bem. Fiquei muito abalada”, conta a corretora.Vanessa ainda relata sobre as dificuldades que enfrentou durante toda a gestação. “Em muitos exames e ultrassom não é permitido a entrada do companheiro ou marido. Então você está sozinha e é um momento de vulnerabilidade muito grande. Você é alguém para estar contigo e, por conta da segurança, não ter seu companheiro do lado é bastante frustrante”, lamenta.O fato de poder contar com a presença de seu marido na hora do parto acalmou o coração de Vanessa, já que sua bebê nasceu na rede privada. Mas ela tem consciência de que as mães que têm bebês na rede pública estão completamente sozinhas nesse momento tão mágico e, ao mesmo tempo, preocupante. “Eu fico pensando que naquele momento mais importante e difícil, de ansiedade e medo, você não ter alguém para te acompanhar é muito triste”. Sobre o que espera para o mundo em que a pequena Maria Eduarda conheceu na última quinta-feira, Vanessa relata:“Eu queria muito que minha filha nascesse quando todo mundo estivesse com a vacina em dia, com os casos menores. Essa segunda onda nos preocupou demais e me deixou mais aflita ainda e presa dentro de casa. Então eu esperava muito que ao final da gestação as coisas estivessem em um cenário melhor. Infelizmente essa não é a nossa realidade, mas eu espero que com a graça de Deus isso vá melhorar com a vacina chegando para a gente”, lamenta a corretora.Apesar dos problemas enfrentados, Vanessa está radiante em passar seu primeiro Dia das Mães com a Maria Eduarda em casa. “No domingo já vou estar com ela em casa, no meu colo, e não tem alegria maior que eu possa passar na minha vida”.Já era mãe.... Já a bombeira militar Naiane Alves da Silva Menezes ainda passa por esse processo de encarar a gravidez em meio a uma pandemia. Gestante de 17 semanas de um menininho, Naiane já é mãe de outro garoto de 3 anos. “Achei tudo muito diferente”, relatou a bombeira sobre a diferença entre as duas gestações. “Na primeira gravidez eu enjoei uma semana apenas. Já nessa eu tenho enjoos até hoje, mas no primeiro trimestre foram bem mais fortes. Eu atribuo isso ao período de pandemia. A gente fica muito mais atenta a tudo que sente, e tudo também se intensifica, com relação aos sintomas, tive tonturas, gastrite, azia... Acredito que por estresse emocional, com todas as alterações hormonais envolvidas, somado as inseguranças do período que vivemos”, afirma. A bombeira também conta que os sentimentos mudaram, já que durante sua primeira gravidez tudo era novo e mais leve. “O misto de emoções constantes intensificou a vivência desse momento pra mim. Saber que o milagre da vida se faz em mim, em meio a tantas tragédias, é um sopro de esperança, de alegria. Uma bênção que Deus me permiti viver mais uma vez, e em meio a tudo isso. Sinto-me muito agraciada por Deus por isso”, se emocionou. Ao mesmo tempo em que relata sua felicidade, Naiane fica alerta aos cuidados sanitários, pois tem consciência que nesse momento faz parte de um dos grupos de risco. Com a descoberta do período gestacional, a bombeira informou a corporação e deixou o serviço operacional, nas viaturas, e seguiu para o trabalho em home office. “Temos essa opção na corporação, de acordo com um decreto estadual, por sermos grupo de risco”, explica. Em meio aos cuidados diários, Naiane conta que estava planejando uma nova gravidez, mas a notícia da gestação a deixou surpresa e imensamente feliz. “Dizem que o amor de mãe não se divide, se multiplica, e de fato é verdade. Eu já amo muito o João, assim como também amo o Augusto, meu primeiro filho. Apesar de ser bastante diferente essa gestação, querendo ou não, já é uma viagem conhecida, e eu não sou mais tão ingênua como na primeira vez. A maternidade do meu primeiro já me forjou e já me fortaleceu e eu já vivo o amor materno todos os dias, só que agora é multiplicado”, finaliza.