A terra indígena Iny Webohona (lê-se inã ué borronã) do povo Javaé, mais conhecida como Aldeia Boto Velho, na Ilha do Bananal, iniciou nesta semana, o ritual do Hetohoky, a festa cerimoniosa mais importante entre os povos iny (Karajá, Javaé e Xambioá) e que marca a iniciação dos meninos de cada etnia no mundo adulto e nos segredos dos Aruanãs (espírtios) e do universo masculino indígena .O chefe de cerimônia é o Edivaldo Idioriwe Javaé, de 59 anos, que habita na aldeia Canoanã, e é detentor de conhecimento sobre a história e cantoria dos povos iny, notadamente o worosy-tyhy (ou espírito principal) do ritual, como explica o cacique da aldeia, Wagner Mairea Javaé, de 49.“Havia mais de 20 anos que a aldeia Boto Velho não realizava Hetohoky e Aruanã”, destaca o cacique.Nesta terça-feira, os cerca de 200 indígenas que estão na aldeia para a festa concluíram o levante da casa grande e que marca o início da festa, que marca o ritual de iniciação de 13 meninos entre 10 e 15 anos.Na próxima quinta-feira, um dos rituais mais esperados está previsto para a festa, quando os “Aruanãs”, os principais seres da cosmologia dos povos da Ilha do Bananal, e responsáveis pela cantoria, a dança e os adornos característicos, que estão entre os pontos fortes da festa.Pela tradição, os espíritos surgem do fundo da água e da mata para educar os adolescentes que passam pela iniciação, quando eles são chamados de jyre (lê-se djiré). A partir deste momento, os adolescentes recebem autorizado a ir na casa do aruanã (a casa grande), onde os homens ficam reunidos para contar histórias dos ascendentes, seus mitos e as músicas que são repasados somente para os iniciados.