A Secretaria Estadual de Cultura foi extinta, a Fundação Cultural do Tocantins não tem presidente, o cargo de diretor de Cultura está vago, a pasta de Educação e Cultura mudou de gestão e a última Feira Literária Internacional do Tocantins (Flit) foi cancelada por falta de orçamento no governo do Estado.

É nesse cenário que o cantor Rick, da dupla Rick & Renner, assumiu (em janeiro) a Secretaria de Promoção Cultural do Tocantins, criada em caráter extraordinário pelo governo do Estado.

O cargo não exige que Rick permaneça em Palmas, apesar do artista afirmar que está na Capital três vezes por semana para despachar assuntos relacionados à pasta, mas, segundo revela nesta entrevista exclusiva ao JTo, o governo ainda não lhe deu estrutura física para desenvolver seu trabalho. Ressaltando que não é político, mas artista, Rick afirma que a classe deve ver a sua nomeação “com bons olhos“, garantindo que não assumiu o cargo só pelo salário (cerca de R$ 13 mil). “Na primeira oportunidade que eu tiver em relação à cultura, muita coisa a gente vai fazer“, garante

 

O que para você é ser secretário de Promoção Cultural do Tocantins?

Na verdade, eu ainda estou me acostumando com esta ideia porque a gente assumiu o cargo, mas como este cargo é uma secretaria extraordinária, ela não tem uma pasta definida. Então, existem vários assuntos que podem ser abordados dentro desta pasta. Mas a gente pretende fazer, dentro desta indefinição, um trabalho de promoção cultural do Estado, sem que, necessariamente, tenha que ser aqui dentro de Palmas, mas por onde eu passar. Afinal, foi uma coisa definida pelo governador.

 

Como é a sua rotina no Estado?

A partir do momento que eu assumi o cargo, eu comecei - não vou dizer que viverei em Palmas - mas a pelo menos vir de três a quatro vezes por semana ficar aqui. Eu estou sempre viajando, mas às segundas, terças e quartas-feiras, eu estou em Palmas.

 

A sua secretaria tem uma estrutura própria?

Pelo fato da minha secretaria ser extraordinária, atrasou muito a questão de ter gabinete para despachar e essa coisa toda. Mas está sendo providenciado um lugar para despachar. Está sendo providenciada toda esta estrutura, mesmo sendo uma secretaria extraordinária. E eu estou agora aguardando este local que, aparentemente, será no Palacinho, que hoje é um museu cultural e eu acho que seria um local adequado para gente tratar de cultura. A primeira coisa que eu fiz, quando eu assumi o cargo, foi pedir o calendário cultural para conhecer, na verdade, o que já é realidade cultural no Estado e o que está por ser feito.

 

Na sua posse, você disse que a prioridade era dialogar com os segmentos da cultura regional. Isso já está acontecendo?

Eu ainda não consegui fazer isso porque eu ainda não tenho uma sala, um gabinete específico para fazer isso. Tempo e disponibilidade eu tenho de estar aqui, mas infelizmente eu ainda não tenho estrutura para trabalhar, ainda não consegui esse espaço pronto. Mas eu acredito que, no momento que estiver tudo organizado, isso vai ser possível. Acredito que em outros momentos nós poderemos ter esse diálogo mais aberto com os artistas locais.

 

Quais as responsabilidades e demandas de uma Secretaria de Promoção Cultural do Tocantins?

A minha secretaria, por ela ser extraordinária, não tem essa pasta definida como é a Secretaria da Cultura. Mas não tem como, na verdade, fugir desses assuntos. Tanto que a gente já se reuniu com a secretária Adriana Aguiar (secretária de Educação e Cultura) e despachou sobre os editais. Procuramos saber todos esses assuntos e a gente procurou saber até que ponto a Secretaria Promoção Cultural precisa estar literalmente ligada à Secretaria de Cultura. Foi quando nós chegamos à conclusão de que as duas precisam praticamente andar juntas. Principalmente pela visibilidade que eu tenho como artista. Eu, como artista e acima de tudo como conhecer do Estado, que nasci no Tocantins, a partir do momento que o nosso gabinete for montado, terei condições de mostrar realmente para as pessoas o que é cultura e falar com propriedade sobre o assunto.

 

Você já procurou saber em que pé estão as demandas culturais do Tocantins?

Eu estou procurando muito me inteirar dos assuntos culturais. Tem essa coisa dos editais que existem, mas muitos setores da própria sociedade ainda não sabem o que significa um edital cultural, então a gente imagina que precisava ter tido uma divulgação melhor para as pessoas saberem a quem esses editais culturais podem beneficiar. Então, a gente está procurando se inteirar bastante desses assuntos culturais e até para saber até que ponto a minha secretaria pode se envolver diretamente nesses assuntos. Apesar da força de vontade de realmente fazer um trabalho, a gente pode se esbarrar em coisas do tipo ‘não porque a sua secretaria é extraordinária’, mas a gente entende que se uma coisa estiver junto com a outra, a tendência de andar melhor é muito maior.

 

No ano passado foi extinta a Secretaria de Cultura, neste ano o diretor de Cultura deixou o cargo e o Estado não tem sequer um presidente para a Fundação Cultural. Essas e outras questões têm deixado a classe muito insatisfeita com os rumos da cultura local. Como é para você assumir um cargo na área da cultura em meio a este cenário de insatisfação da classe?

Eu acho que a classe artística tem que ver a nomeação do Rick como secretário com bons olhos. Porque eu sou artista, eu sou filho da terra. Na verdade, a gente não começou a fazer um trabalho realmente porque não tem essa estrutura até agora. Eu fui nomeado, mas infelizmente não me deram estrutura até agora para trabalhar. É tanto que disponibilidade eu tenho. Minha intenção é colocar em evidência a minha classe, a cultura, os artistas. Afinal de contas, a gente não fala só de artista no sentido de falar só de cantores. A gente tem Folia de Reis, Congada... Cultura é o legado de um povo, é a identidade de um povo. Então eu acho que os artistas podem ver essa mudança toda com bons olhos porque eu não sou político, eu sou artista.

 

Mas você agora é remunerado (salário de R$ 13,5 mil) para assumir tal função.

A minha visão é a de que eu não dependo de um salário do governo para viver. Logicamente que quando a gente trabalha, a gente precisa ter o nosso salário. Eu não seria hipócrita para dizer que eu estou vindo aqui para o Estado e fazendo um trabalho sem ganhar nada. Mas eu não estou aqui por causa de um salário, estou aqui para fazer um trabalho bem feito pelo meu Estado e principalmente pela cultura do meu Estado. Então, na primeira oportunidade que eu tiver em relação à cultura, muita coisa a gente vai fazer.

 

Qual a sua relação o Tocantins?

Eu sou tocantinense mesmo. Nasci na região de Monte do Carmo. Na verdade, eu não nasci na cidade de Monte do Carmo, mas em uma fazenda próxima dali. Não fiquei aqui por muito tempo. Eu vivi aqui até os meus dez anos de idade e depois eu fui morar em Brasília (DF), onde morei durante até quase 20 anos e acabei me mudando para São Paulo. Eu voltei para o Tocantins depois de um bom tempo, quando eu já tinha uma boa posição melhor no mercado, porque apesar de eu ter sucesso na música, toda a base da minha família continuou aqui.