Quem assiste a Getúlio e se surpreende com a beleza das imagens do filme - mesmo que sejam assinadas por um fotógrafo tão grande como Walter Carvalho - não imagina as dificuldades que ele enfrentou. Numa visita ao set de filmagem, o Palácio do Catete, em que o ex-presidente Getúlio Vargas viveu confinado seus últimos dias, o repórter ouviu de Carvalho o desabafo. “Nunca enfrentei tantas restrições. Isso aqui (o Catete) é um museu. Não se pode tocar em nada. Não podia pregar um prego nas paredes para sustentar um cabo. Não podia arredar os móveis nem carregar na luz.”

 

A produtora Carla Camurati acrescenta, numa entrevista por telefone: “Ajudou muito na negociação o fato de eu ser diretora do Teatro Municipal (do Rio). Há toda uma burocracia para se filmar em lugares públicos. No caso do Catete, que é um museu, somam-se as dificuldades que todo mundo que já foi a museu sabe. Veja na tela - se algum ator se apoia num móvel, usa uma cadeira, nenhum desses objetos é do acervo. É da produção”. A exceção é justamente a cama em que Getúlio Vargas se suicidou, bem como o revólver com o qual disparou o tiro fatal.

 

Tony Ramos contou ao repórter que foi a cena mais difícil de fazer. “A gente podia sentir a carga do gesto trágico, como se a ficção estivesse virando realidade.” Carla conta: “Tive de convencê-los (os administradores do museu) que era fundamental o acesso à cama, ao revólver. Além de muito conhecidos, por fazer parte da história do Brasil, havia essa coisa da solenidade, que eu sabia que ia ajudar o João”. Carla refere-se ao marido, o cineasta João Jardim.