Engana-se quem acredita que a tecnologia e o uso da internet são limitados às gerações atuais. Pesquisa do Instituto Locomotiva aponta que o número de brasileiros conectados desde 2008 teve um crescimento geral de 113%, sendo que, entre os internautas da terceira idade, o crescimento foi de 940%. Isso representa 4,8 milhões de novos usuários nessa faixa etária. Ao todo, são contabilizados 5,2 milhões de idosos que utilizam a internet no Brasil.

Nenhuma outra faixa etária teve avanço tão rápido nos últimos anos. Mundialmente, são mais de 26 milhões de idosos internautas. Conforme a Ebit, empresa especializada em comércio eletrônico, o consumidor com mais de 60 anos já movimenta R$ 15,6 bilhões no e-commerce.

A curiosidade e vontade de se inserir nesse mundo tecnológico levam esse grupo a buscar cada vez mais informações e formas de se manter conectado com amigos e familiares. É o que afirma o técnico em tecnologia da informação e professor Israel dos Santos, de 33 anos. “A demanda vem dos próprios alunos movidos pela curiosidade pela tecnologia do cotidiano. As dúvidas levantadas sobre smartphones e smartTVs nas aulas de informática fizeram com que disponibilizássemos a disciplina novas tecnologias”, pontua Santos. “O primeiro questionamento dos alunos foi se seria possível aprender, mas, assim como o computador, eles quebraram paradigmas e se permitiram”, afirma.

Aos 67 anos, o fotógrafo e militar reformado Celso Borges de Carvalho já está em seu segundo relacionamento pela internet. Pai de cinco filhos e avô de oito netos, ele explica que, após a separação do casamento que durou 36 anos, ele ficou muito só. Em um programa de rádio, em 2012, consegui o telefone da Eliane Pereira, sua primeira namorada pós-separação. “Ela morava em Porto Nacional e eu em Palmas. O WhatsApp foi a nossa principal ferramenta de contato durante um ano e seis meses”, relembra. Eliane veio morar com Carvalho em 2013, mas um ataque cardíaco resultou em sua morte em maio de 2014.

Apesar da frágil situação, Carvalho continuou acreditando e, dois anos após a fatalidade com sua ex-namorada, conheceu Lidiane Gonçalves. “Nosso relacionamento tem sido 100% por internet já que ela mora em Passos, em Goiás”, diz ao explicar que um amigo que reside em Goiânia os apresentou. “Ainda não a conheço pessoalmente, mas trocamos fotos pelo WhatsApp. A tecnologia ajuda nesse encurtamento de distância”, pondera e revela: “Gosto da função videoconferência porque você fala direto com a pessoa”, anima-se.


Conexão

Segundo Israel dos Santos, a tecnologia vem auxiliar na qualidade de vida do idoso, uma vez que ele não se sente sozinho por estar mantendo contato constante com as pessoas. Quando a depressão acomete nessa faixa etária, geralmente se dá devido à solidão que se encontram.

Um estudo da Universidade de Michigan (USA) demonstrou que há uma redução em 30% do idoso desenvolver depressão quando conectado à internet. A redução está ligada à capacidade que esse grupo passa a ter de se comunicar utilizando a internet, navegar em redes sociais e trocar informações.

Diagnosticada com depressão, a cabeleireira Maria Urânia Silva, de 69 anos, se agarra à internet para manter contato com as duas filhas e quatro netos que moram em outro estado e, no caso da caçula, no exterior. “Tenho uma filha e três netos em Brasília que, de vez em quando, vêm me ver. A minha filha mais nova e minha netinha estão em Miami, nos EUA, e essa só mantenho contato por internet”, destaca. Além do WhatsApp, Urânia utiliza o Facebook para acompanhar o crescimento das crianças. “Gosto do face porque posso acompanhar fotos, não só das minhas filhas e netos, mas de toda a família”, afirma.

Questionada sobre seu quadro clínico e como a internet auxilia nesse processo, ela afirma que a proximidade proporcionada pelas tecnologias a mantém firme e que, quando está falando com seus netos e filhas, não se sente tão só. “É uma companhia virtual, mas é uma companhia. Antigamente dificilmente utilizávamos telefone por ser cara a ligação”, relembra.

“Eu moro só, mas o WhatsApp é meu companheiro 24 por dia”, destaca o fotógrafo Celso Carvalho. “Os aplicativos de celular estão cada vez mais acessíveis e simples de usar, o que acaba sendo uma companhia para eles”, finaliza Santos.