Ramis Tetu

Ramis Tetu
ramis.tetu@gmail.com
Jornal do Tocantins - Sustentabilidade
Reflexões sobre a prevenção do fogo

Vamos mal no enfrentamento das queimadas, não pelo esforço e boas intenções dos órgãos envolvidos, mas pela estratégia errada. Governos e sociedade tratam o problema como menor, afeto apenas ao meio ambiente e defesa civil (que agem isolados), sendo que ele vai muito além. O enfoque criminal leva ao uso de remédios errados, pois trata-se de doença social de falta de cidadania e conhecimento, que exige pacto e educação. E se desconsideram estratégias, visões e recursos técnicos, operacionais e gerenciais de outras áreas. As atuais medidas de prevenção e controle são insuficientes e ineficazes. Sem o engajamento de todos e olhares ampliados, o país vai continuar a queimar no atraso.

Assistencialismo

O modelo atual parte de uma premissa burocrática e assistencialista, onde tudo cabe ao estado “pai”: da decisão de colocar fogo ao seu combate com brigadistas. É preciso deslocar o protagonismo do estado para o cidadão e os setores: nas decisões, deveres e ações.

Uma nova visão

A responsabilização tem de ser pactuada, ampla e prévia; educativa, não punitiva. Ela deve chamar os mais diversos setores e atividades ao dever de não queimar e não deixar queimar os territórios sob sua responsabilidade (salvo exceções técnicas); não tentar punir os “culpados” depois dos incêndios e seus efeitos e prejuízos.

Vilão à solta

O capim andropogun, com sua enorme massa, facilita e potencializa as queimadas e dificulta seu controle. Planos de Controle Integrado de Invasoras Nocivas (PCIIN) para cidades e rodovias devem ser parte da política de prevenção de fogo. Risco não existe só pelo ar seco, mas pelo tipo de vegetação.

Incompleto

É gritante a ausência nas discussões, planejamento e engajamento, do setor de infraestrutura elétrica, de estradas e edificações; e das áreas de economia, saúde, comunicação, educação, arquitetura, engenharia civil, elétrica e agronômica. Pelos recursos operacionais, atuação territorial e setorial, olhares distintos de cada um. E mais, o problema não é só rural, mas também urbano.

Destruição

As queimadas são a maior causa de poluição das nossas cidades, a cocaína da agropecuária, um gravíssimo atentado contra a natureza, a saúde e a economia. Destroem solos, vegetações, animais; mas também nossa produtividade agrícola, infraestrutura e riquezas.

Ranking

Alguns do mundo oficial tentam minimizar o problema com números, quer seja da redução dos focos, ou a posição do ranking (e neste, fala-se em focos por estado, e não por km² de território). Não é melhor reconhecermos logo os custos e a vergonha que são de todos, como começo da solução?

Evolução

A mesma proposta (e crítica nela embutida) para a gestão de águas brasileira, feita pelo Professor José Tundisi (uma das maiores autoridades mundiais na questão), serve muito bem para o combate às queimadas, aliás, para toda a gestão pública: deixar de ser atrasada por reativa, pontual e setorial; evoluir para preditiva, sistêmica e integrada.

- Leia e reflita sobre “a história de quatro pessoas: todo mundo, alguém, qualquer um e ninguém”;

- veja as fotos das matérias sobre o tema no online deste jornal e nelas a presença do andropogun;

- amplie a discussão sobre queimadas em sua cidade, envolva todos os setores possíveis.

Navegue pelo assunto:

Os comentários publicados aqui não representam a opinião do jornal e são de total responsabilidade de seus autores.

Comentários