Ramis Tetu
Vamos mal no enfrentamento das queimadas, não pelo esforço e boas intenções dos órgãos envolvidos, mas pela estratégia errada. Governos e sociedade tratam o problema como menor, afeto apenas ao meio ambiente e defesa civil (que agem isolados), sendo que ele vai muito além. O enfoque criminal leva ao uso de remédios errados, pois trata-se de doença social de falta de cidadania e conhecimento, que exige pacto e educação. E se desconsideram estratégias, visões e recursos técnicos, operacionais e gerenciais de outras áreas. As atuais medidas de prevenção e controle são insuficientes e ineficazes. Sem o engajamento de todos e olhares ampliados, o país vai continuar a queimar no atraso.
Assistencialismo
O modelo atual parte de uma premissa burocrática e assistencialista, onde tudo cabe ao estado “pai”: da decisão de colocar fogo ao seu combate com brigadistas. É preciso deslocar o protagonismo do estado para o cidadão e os setores: nas decisões, deveres e ações.
Uma nova visão
A responsabilização tem de ser pactuada, ampla e prévia; educativa, não punitiva. Ela deve chamar os mais diversos setores e atividades ao dever de não queimar e não deixar queimar os territórios sob sua responsabilidade (salvo exceções técnicas); não tentar punir os “culpados” depois dos incêndios e seus efeitos e prejuízos.
Vilão à solta
O capim andropogun, com sua enorme massa, facilita e potencializa as queimadas e dificulta seu controle. Planos de Controle Integrado de Invasoras Nocivas (PCIIN) para cidades e rodovias devem ser parte da política de prevenção de fogo. Risco não existe só pelo ar seco, mas pelo tipo de vegetação.
Incompleto
É gritante a ausência nas discussões, planejamento e engajamento, do setor de infraestrutura elétrica, de estradas e edificações; e das áreas de economia, saúde, comunicação, educação, arquitetura, engenharia civil, elétrica e agronômica. Pelos recursos operacionais, atuação territorial e setorial, olhares distintos de cada um. E mais, o problema não é só rural, mas também urbano.
Destruição
As queimadas são a maior causa de poluição das nossas cidades, a cocaína da agropecuária, um gravíssimo atentado contra a natureza, a saúde e a economia. Destroem solos, vegetações, animais; mas também nossa produtividade agrícola, infraestrutura e riquezas.
Ranking
Alguns do mundo oficial tentam minimizar o problema com números, quer seja da redução dos focos, ou a posição do ranking (e neste, fala-se em focos por estado, e não por km² de território). Não é melhor reconhecermos logo os custos e a vergonha que são de todos, como começo da solução?
Evolução
A mesma proposta (e crítica nela embutida) para a gestão de águas brasileira, feita pelo Professor José Tundisi (uma das maiores autoridades mundiais na questão), serve muito bem para o combate às queimadas, aliás, para toda a gestão pública: deixar de ser atrasada por reativa, pontual e setorial; evoluir para preditiva, sistêmica e integrada.
- Leia e reflita sobre “a história de quatro pessoas: todo mundo, alguém, qualquer um e ninguém”;
- veja as fotos das matérias sobre o tema no online deste jornal e nelas a presença do andropogun;
- amplie a discussão sobre queimadas em sua cidade, envolva todos os setores possíveis.
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