Ramis Tetu

Causa de doenças, acidentes e violência

O uso abusivo de bebidas alcoólicas é uma doença social que provoca graves impactos humanos e econômicos. Causa básica e evitável de doenças, acidentes e violência, ele consome da ordem de 7% do PIB brasileiro (372 bilhões de reais em 2014), segundo a OMS, por suas consequências nefastas de várias ordens e basicamente pela nossa falta de responsabilidade e cidadania. A sua aceitação tácita e complacente por governos e pessoas custa aos brasileiros não só esta montanha de dinheiro perdido, mas outra pior, uma infinidade de tragédias humanas, agudas e crônicas, a maioria irreparáveis. O correto enfrentamento deste mal, em toda a sua magnitude e complexidade, exige o engajamento de todos, em torno do tripé saúde, segurança e educação, e pela discussão, aperfeiçoamento e implantação de várias pautas. 

Potencializador das várias formas de violência

O consumo abusivo de álcool está associado, em altos índices, aos vários tipos de acidentes: de trânsito, trabalho e domésticos; náuticos e afogamentos. E também de violência: doméstica, brigas, mortes, agressões sexuais, entre outras. Ele, ao mesmo tempo, alimenta-se do machismo, egoísmo e narcisismo e os potencializa; anula a consciência e liberta o pior do ser humano.

Desastre socioeconomico

O abuso do álcool prejudica a economia de várias maneiras: no trabalho, está associado a desemprego, faltas, afastamentos, acidentes e baixa produtividade. No setor público, compromete recursos vultosos  de setores como saúde, segurança, logística e Judiciário. Tudo na conta dos nossos maus hábitos.  

Tragédia juvenil

A facilidade do acesso e consumo de álcool por adolescentes; o beber como capital social simbólico, rito de passagem ou prova de “valor”; a glamourização da bebida pela propaganda; a omissão ou cumplicidade de pais, instituições e governos: estamos comprometendo seriamente o futuro da nossa juventude. 

Margem pequena para erros

Frequência muito baixa e doses muito leves de consumo – associado ao lazer e cultura, à gastronomia, ao encontro com amigos, à descontração, à boa conversa. Ingestão constante ou doses pesadas – associadas a provar algo (falso) para si ou para os outros, à perda da consciência e do equilíbrio. A diferença entre saúde e doença, prazer e sofrimento, você senhor e escravo da bebida. Com margem muito reduzida para erros. Então, beba como uma garota, beba como homem: beba como exceção, com consciência e muita moderação.   

A pauta do enfrentamento

O enfrentamento deste mal exige o endurecimento do jogo, quer seja por comando e controle (regulamentar a propaganda de bebidas, dificultar o acesso à bebida pelos jovens, implantar penas alternativas para delitos ligados à bebida, aplicação da “lei seca” em situações e territórios específicos, entre outras medidas restritivas e punitivas; fazer cumprir as leis existentes...); ou por prevenção, com a  educação social e conscientização das pessoas em geral e de grupos específicos, via comunicação e propaganda inteligente, eficaz, multimodal. E principalmente, pela reflexão e mudança de atitudes de cada um.

Grandes aliados

Para fazer frente ao encantamento que o álcool provoca, é preciso colocar também a magia do esporte, do lazer e da cultura, e suas muitas tribos, na linha de frente desta guerra de corações e mentes, com o prazer, as boas emoções e os momentos especiais que eles proporcionam. Para sacudir a inércia dos governos e das famílias, é preciso fazer uso da frieza dos números absurdos para emoldurar as perdas sociais e econômicas e o calor das boas narrativas para mostrar as muitas tragédias humanas por trás da questão. 

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