O secretário de Estado da Saúde, Marcos Musafir, concedeu entrevista exclusiva ao JTo para falar sobre as dificuldades enfrentadas pela gestão durante este ano e falou também das perspectivas para 2017. Mesmo com problemas divulgados diariamente em relação à falta de medicamentos, leitos e várias decisões judiciais, o secretário apontou que a maior dificuldade é em relação à falta de repasses dos recursos estaduais. Falou sobre as dívidas com as empresas terceirizadas e disse que há um déficit de receita do Tesouro no valor de R$ 8.309.394,44 por mês.

Reconheceu que faltam especialistas no Estado e condições técnicas. Em relação à lista de espera na realização de cirurgias eletivas, Musafir atribuiu à falta de especialistas e também às greves dos servidores da saúde. Enquanto concedia a entrevista, na tarde de sexta, um oficial de Justiça o aguardava do lado de fora para notificá-lo sobre mais uma ação judicial.


O Denasus constatou dezenas de irregularidades no Hospital Maternidade Dona Regina. Que medidas foram tomadas pela Sesau?

Nós fizemos um novo plano de trabalho dos hospitais, onde foi redimensionada a carga horária dos profissionais. Temos que especificar, é igual um relógio, temos que olhar cada pecinha, a gente não pode olhar só o relógio temos que olhar lá dentro, e na saúde é assim, e essa é uma dificuldade que poucas pessoas entendem e percebem e nós temos a obrigação de fazer isso. Mas existem situações dentro das unidades que precisamos ter um cuidado maior para não desmontar o que foi construído e para ampliar, melhorar e qualificar.


E sobre o HGP, qual é o atual cenário hoje do hospital? A cada nova vistoria dos órgãos de fiscalização mais irregularidades são descobertas.

Eu não concordo com essa afirmação. Temos uma equipe fantástica, tem gente trabalhando, não morre ninguém por falta de assistência e atendimento, mas a gente está tentando aprimorar, estamos com 80% do nosso quantitativo de insumos necessários para o bom funcionamento. Estamos com protocolo no HGP, estamos com rotina, com a reorganização do centro cirúrgico, das UTIs, com normas de regularização. Se você for no corredor vai ver que está muito mais vazio, a tenda ainda existe, mas tentamos fazer uma reforma em outro setor e não deu, a obra não acabou ainda, mas retomamos e foi um passo importantíssimo.


Quem procurar atendimento receberá a devida atenção e medicamentos necessários?

Vai. Se eu sofrer um acidente aqui no Tocantins eu quero ir para o HGP e confio no hospital.


E sobre os laboratórios, o problema da falta do serviço foi resolvido – novos laboratórios foram contratados? Qual valor dos contratos?

O laboratório que estava, estava cometendo várias falhas, parava um dia de fazer um exame e isso causava um transtorno enorme para o hospital e para nós. Decidimos fazer uma nova licitação para dar oportunidade ao laboratório a todos os outros que queriam prestar serviços no Estado, bem transparente. Ganharam dois laboratórios dos cinco hospitais que a gente fez. Aqui em Palmas ganhou uma empresa chamada Neolab e em Porto Nacional foi uma empresa que já presta serviço em Araguaína. Em Palmas, o valor do contrato é de R$ 3,552 milhões para os três hospitais e em Porto Nacional R$ 402 mil para os dois hospitais.

Desde a saída da Litucera dos hospitais, o que mudou? Quais melhorias podem ser elencadas nos hospitais?

A secretaria mostrou a sua responsabilidade e rapidamente com o apoio de todos os nomes do governo conseguiu colocar alimentação para os pacientes e acompanhantes dentro da lei, menores de 18 anos e maiores acima de 60 anos. Mas os problemas não acabaram, porque a Litucera fornecia uma alimentação enteral que é de um fornecedor da empresa dela que a gente não pode comprar, então temos que buscar fora e é isso que dificulta, mas está sendo solucionado. Mas tem que ter uma licitação, porque esse não é um serviço que foi feito para a saúde, assim como a limpeza e rouparia.

Vemos ainda como um grande gargalo a realização das cirurgias eletivas. O que está sendo feito para resolver esse problema?

A fila é grande, não é grande proporcional à população, mas é para quem está na lista de espera. Têm acontecido cirurgias eletivas, não no volume que a gente precisa. E quando houve a greve, com apenas 30% das pessoas trabalhando, esse quantitativo não fez as cirurgias eletivas, só as de emergência, então isso também ajudou a atrasar. Nós temos um plano de cirurgias eletivas, e temos apoio. Por exemplo, está vindo o Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into) no ano que vem para fazer as cirurgias eletivas de quadril, joelho, ombro, coluna e vamos esvaziar uma quantidade grande nessa fila, e outros que estão na lista de espera nós encaminhamos para outros estados ou compramos esses materiais, porque a maioria delas são por ordem judicial.

E as cirurgias pediátricas? Por que o Estado não oferece ou não envia as crianças para outros estados?

Envia. O problema é que o outro estado tem que dar a vaga. Além disso, a gente pode mandar para hospitais privados também, mas sempre é uma fortuna e eles querem o dinheiro na frente, o Estado não pode pagar na frente, a vida não tem custo, mas a gente quer tentar resolver isso. Temos apenas três cirurgiões pediátricos no Estado e a gente está contratando mais um. Mas é uma especialidade que tem muito pouco no Brasil e a gente já ofereceu oportunidade para outros profissionais e eles não querem vir. Mas esse projeto que a gente conversou com o Hospital do Coração (Hcor) que vai vir esse ano para a cirurgia cardíaca pediátrica a gente está pensando fazer com a pediátrica e não só com a cardíaca.