Redação Jornal do Tocantins
Ceila Menezes
Hoje, 70 anos depois que Asa Branca foi eternizada pelo Rei do Baião Luiz Gonzaga ainda na década de 1940, a música continua sendo sucesso, cantada por artistas consagrados. E o que mudou na realidade do homem sertanejo de lá pra cá? Silvio Nunes Pereira responde que pouca coisa ou quase nada, pois mais uma vez vê sua criação sendo castigada com a falta de água no sertão do Tocantins. “Cada ano que passa a coisa tá só piorando e muito do que estamos vendo aqui é ação do próprio homem”, desabafa, observando seu rebanho buscar comida em meio às cinzas e o chão preto deixados pelas queimadas que devastaram o que restava. Silvio mora na zona rural de Dianópolis, a 320 Km de Palmas.
Com 17 cabeças de gado, ele busca alternativas para não ver o que restou do rebanho no cercado morrer de fome e de sede. “A falta de água está castigando os bichos. E para não ver morrendo, a gente tira água no poço, busca na rua, espera a vinda do caminhão-pipa. E para dar de comer, a gente compra ração”, explicou, revelando que já perdeu uma de suas vacas.
A ração que Silvio comprou em parceria com os demais associados do Assentamento Vitória III, onde vive com a esposa, deve durar cerca de 30 dias. “Comprei uma tonelada, mas só dá pra um mês. Até lá, a gente conta com ajuda da Prefeitura e de Deus para não faltar água para os bichos”, afirmou.
A poucos quilômetros dali, mora Adalton Rodrigues da Silva, na região do Varjão, que com a falta d’água, perdeu três cabeças de gado e viu a barragem de sua propriedade secar. Com tristeza, ele acompanha a equipe da Prefeitura de Dianópolis que vistoria a zona rural da cidade para ver in loco os estragos causados pela seca. Ao chegar perto da carcaça de uma de suas vacas, o pequeno produtor se contrai de tristeza. “Ainda tentamos de tudo pra salvar o animal. Fizemos barraca com palhas, levamos água em bacia, colocamos na boca. Mas já não adiantava mais. É triste demais esperar pela água e saber que os córregos secaram e que a chuva não vem. Os bichos estão nessa situação e a gente não pode fazer nada”, desabafou.
Além da falta de água, as queimadas devastaram o que ainda restava de pastagens. Agora, os animais sofrem também com a falta do que comer. A paisagem cinza e o preto dos troncos de árvores, sob o sol escaldante, deixa o sertanejo quase sem esperança. “Cada ano que passa está só piorando, mas nós temos fé que isso vai mudar que a chuva vai chegar e os bichos vão ter o que beber e o que comer”, disse Adalton Silva, sentado na varanda de sua casa, olhando para a pastagem seca, esturricada com o gado longe, sempre à procura de comida, água e sombra, e não encontrando nenhum dos três.
além da falta de água, as queimadas ajudaram a piorar
a paisagem da
zona rural
de dianópolis, que ficou cinza e preta
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