O inquérito sobre a morte do ginecologista Pedro Caldas, 40 anos, deve ser concluído no início da próxima semana. De acordo com o delegado responsável pelo caso, Rodrigo Ferraz Prado Telles, para concluir o inquérito policial ele vai analisar dois laudos de exames periciais, um necroscópico e outro de imagens de vídeo, que foram feitas após o acidente. “Esse é um laudo de imagens posterior ao momento do acidente. São imagens que mostram a Iolanda no local. Elas foram encaminhadas para a delegacia e achei interessante alguns pontos, por isso pedi análise do Instituto de Criminalística. E para chegar a um entendimento eu vou precisar analisar todos as provas que tenho dentro dos autos”, explica.

Segundo o delegado, outro encaminhamento do inquérito, que deve ser feito ainda esta semana, é a oitiva de três testemunhas. Uma delas presenciou o acidente e as outras duas chegaram após o ocorrido e também faziam treinamento nas proximidades do local. “Por que eu quero ouvir essas pessoas? Porque isso é importante para eu verificar o estado emocional que a autora estava, isso vai contar na hora da investigação. Nos autos ela foi autuada por embriaguez e como ela não fez o teste do bafômetro, e hoje a nossa legislação permite que provas testemunhais sirvam para indicar se uma pessoa está sob efeito de álcoo, então preciso que essas testemunhas me contem se ela estava embriagada ou não. Depois disso vou juntar os laudos e concluir o relatório final do inquérito e encaminhar para o Judiciário”, informa.

Pedro Caldas, que ficou internado 34 dias na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) de um hospital particular de Palmas, teve morte cerebral confirmada no último sábado.

O médico sofreu traumatismo craniano no dia 12 de novembro ao ser atropelado por um veículo conduzido por Iolanda Costa Fregonesi, 22 anos. O carro da jovem, que estava sem habilitação, avançou em sua direção enquanto praticava corrida com um grupo de atletas, na marginal leste da TO-050, em Palmas. Ele foi socorrido e enviado para o Hospital Geral de Palmas (HGP), onde passou por uma cirurgia, em seguida foi transferido para a UTI de um hospital privado na Capital.

O acidente está sob investigação da Delegacia de Repressão aos Crimes de Trânsito. Ainda segundo o delegado responsável pelo caso, a partir da morte do médico, o processo envolvendo a condutora não se enquadra mais em lesão corporal, mas em homicídio. “Estamos verificando agora se a conduta dela se enquadra em homicídio culposo ou doloso, com dolo eventual, ou seja, assume o risco de provocar um acidente. Para chegar em um entendimento eu vou analisar todas as provas que eu tenho nos autos”, reforça.

De acordo com Telles, como a jovem estava sem Carteira Nacional de Habilitação (CNH), isso pode ser mais um agravante no inquérito da condutora.

Logo após o atropelamento, Iolanda foi presa em flagrante por embriaguez ao volante por prática de lesão corporal culposa na direção de veículo automotor e por dirigir em via pública sem a CHN. Na delegacia, a jovem permaneceu em silêncio diante dos questionamentos, mesmo assim foi presa. Porém, pagou fiança e foi liberada para responder o processo em liberdade.

Depois de um mês do acidente, a Justiça bloqueou bens que a jovem teria a receber de herança para garantir o pagamento de futuras indenizações, cujos processos neste sentido já foram impetrados pela família do médico.

Na decisão do bloqueio, o juiz Rodrigo da Silva Perez Araújo apontou que há provas suficientes de que a jovem cometeu infração. Por isso, determinou o arresto de quinhão hereditário (herança) no valor de até R$ 3 milhões.

Família

Um dos advogados da família de Pedro Caldas, Rodrigo Lustosa Victor, reforça que a classificação jurídica para esses fatos no momento cabe à autoridade policial e, posteriormente, ao Ministério Público Estadual. Mas de imediato, ele acredita que o acidente se enquadra em um homicídio doloso, quando há a intenção de matar. “Nós acreditamos que os elementos de prova já inseridos nos autos da investigação apontam para a existência do chamado dolo eventual, exatamente porque ela conduzia o carro em estado de embriaguez. Tudo indica isso. Era uma situação visível de perigo porque existia vários atletas na via, não houve por outro lado, nenhuma reação por parte dela. Ela simplesmente não reagiu à situação. Então nós acreditamos que com esse comportamento ela assumiu o risco de matar alguém, por todos os aspectos somados e outros mais que nos levam à convicção de que estamos diante de um homicídio doloso”, conclui.

Cremação

De acordo com o cunhado do médico, Diogo Borges Naves, o corpo de Pedro Caldas foi cremado ontem, no crematório Vale do Cerrado, em Goiânia (GO). “O que a gente espera é que a delegacia já se pronuncie e que o MPE apresente denúncia como homicídio doloso e diante disso que a Justiça seja feita por uma decisão do tribunal do júri popular”, enfatiza Naves.