A organização criminosa que fraudou o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) é a mesma que agiu em um vestibular de Medicina da Faculdade Morgana Potrich, realizado nos dias 15 e 16 de outubro em Mineiros, na Região Sudoeste do estado. O procurador da faculdade, Janúncio Dantas disse ao Popular que o certame foi aplicado pela empresa Consesp - Concursos, Residências Médicas, Avaliações e Pesquisas Ltda, de São Paulo, que é uma empresa terceirizada para a aplicação das provas do vestibular da instituição.

“As provas chegaram no dia do vestibular, em caixas lacradas. Todos os candidatos foram revistados e só puderam sair ao final da prova, todos juntos. Se houve algo, foi uma tentativa de fraude”, contou .

Para Janúncio Dantas, o que pode ter acontecido é a PF ter interceptado, através de grampos telefônicos, a ação da quadrilha referindo-se ao vestibular da instituição. “Digo isso porque, nos dias das provas nada irregular aconteceu”.

Ele nega que alguém tenha sido preso durante a aplicação do vestibular. A informação de que a quadrilha agiu no vestibular da faculdade de Mineiros veio oficialmente da Polícia Federal, que deflagrou no domingo, em Montes Belos (MG) a Operação Embuste. Nela, que teve como objetivo investigar fraudes no Enem, foram cumpridos 28 medidas judiciais, sendo quatro de prisão temporária, quatro de condução coercitiva, 15 de busca e apreensão e outros cinco de sequestro de bens.

Outro vestibular teria sido fraudado pelo grupo preso pela Polícia Federal, em Vitória da Conquista (BA), nos dias 22 e 23 de outubro. O modo de agir do grupo envolve alta tecnologia, com pontos eletrônicos e uma central telefônica moderna onde as provas eram realizadas e o gabarito repassado aos candidatos que contratavam a organização criminosa. No caso do Enem, candidatos pagaram R$ 180 mil para receber o gabarito das provas, segundo informações da Polícia Federal.

A empresa Consesp foi procurada por telefone e por e-mail, mas seus representantes não responderam aos questionamentos relacionados a possíveis problemas do vestibular aplicado na Faculdade Morgana Potrich, que ofereceu 67 vagas no curso, que teve concorrência de 11 alunos por vaga.

A assessoria de imprensa da PF em Brasília não repassou informações sobre a atuação da quadrilha no concurso realizado em Mineiros.

Já depois da deflagração da operação federal, um candidato de 34 anos foi preso fazendo a prova em Fortaleza (CE) usando equipamento eletrônico preso ao corpo e pontos de escuta nos ouvidos.

De acordo com a PF, os presos podem ser indiciados pelos crimes contra a fé pública, o patrimônio, a paz pública, dentre outros delitos, de acordo com a participação individual no esquema.

Operações

As operações Jogo Limpo e Embuste, deflagradas pela Polícia Federal (PF) no domingo, para desarticular uma organização criminosa que tentava fraudar o Enem, teve como base a análise de gabaritos de provas realizadas em anos anteriores. Foi a partir da análise que a PF, em parceria com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), que 22 pessoas suspeitas de participar da fraude contra o exame foram identificadas. As 22 fariam a prova novamente este ano.

A PF disse que a resolução das questões do Enem seria feita por meio de uma central telefônica via celular, mas sua descoberta fez com que o resultado do exame não fosse afetado. Em nota à imprensa, o Inep divulgou que a descoberta da tentativa de fraude “reforça a preocupação do MEC e do Inep em garantir a segurança”. Segundo a nota, nesta edição do certame foram incluídos dois novos procedimentos de segurança, que foram a coleta de dado biométrico e o uso de detector de metais em todos os participantes.