Somente na rede estadual de Educação, o Tocantins possui 447 alunos surdos ou com deficiência auditiva. Juntos, segundo o censo de 2017 da Secretaria Estadual da Educação, Juventude e Esporte (Seduc), eles estão matriculados no ensino regular nas escolas distribuídas em 89 municípios do Estado.

Uma dos lugares que trabalha com essa inclusão desses alunos é a Escola Estadual Novo Horizonte, localizada no Jardim Aureny IV, região Sul de Palmas. O projeto, “Libras na Matemática”, que iniciou em 2014 na unidade, foi uma iniciativa abraçada pelo professor Francisco da Paz, 56 anos.

Graduado em Matemática e atualmente cursando o Ensino Superior em Libras, Língua Brasileira de Sinais, o professor explica que a iniciativa começou ainda em 2009 dentro de sua própria casa.

Segundo ele, seu filho que tem problemas auditivos e por isso viu a necessidade de ajudar pessoas que carregavam as mesmas características, a partir disso surgiu a ideia. “Eu pensei em ensinar Libras para meu filho em casa e ele levou um amiguinho também para participar dos aprendizados, depois outro amigo, até que as aulas foram ganhando uma proporção maior do que eu esperava. Após isso, comecei a expandir o projeto na comunidade em uma sala adequada. Em 2014 vim para a escola, onde temos um suporte melhor para esse tipo de ensino”, relata.

Na sala do projeto, que tem ar-condicionado, música e muita dedicação, os alunos ouvintes e surdos participantes do projeto recebem reforço escolar em todas as disciplinas no turno contrário ao que estudam de segunda a sexta-feira. No sábado é o momento de integração e lazer, quando eles podem optar por uma ou várias das atividades esportivas oferecidas.

Conforme Paz, até o final do ano passado o projeto integrava o Mais Educação, um programa do governo federal para melhorar o ensino de Português e Matemática na educação pública, mas desde o começo de 2018 deixou de receber verba específica para esse fim. No entanto, graças ao seu esforço e o incentivo da escola, o projeto não fechou as portas.

O diretor da escola, Otalmy Brito, explica que o trabalho é altamente gratificante para toda comunidade e em especial para o próprio corpo interno da escola. “Os alunos que aprendem Libras têm mais facilidade para se comunicar com os colegas, então quando eles participam das aulas, acabam ajudando a gente com os alunos com problemas auditivos. Não queremos parar com essa iniciativa”, pontua.

De volta à sala de aula como estudante, o professor Paz é categórico as descrever sua experiência e seu objetivo. “A Língua Brasileira de Sinais está na minha vida e eu só vou parar quando eu morrer. Enquanto isso vou me capacitando e reciclando. Meu sonho é que as escolas coloquem Libras na grade curricular. Inclusive já fiz vários ofícios solicitando que o Estado e o município na grade. Acredito que irei ver esse sonho antes de morrer”, enfatiza.

Participantes

Aos 8 anos, o estudante Felipe Gabriel Roberto conta que sempre quis estudar Libras, segundo ele, foi algo que sempre despertou seu interesse. “Quando eu vejo alguma pessoa muda na rua, a minha vontade é de conversar com ela e entender um pouco sobre seu mundo”, afirma. Além de atender os alunos da própria escola, as crianças da região Sul de Palmas também podem participar. Sem verbas do poder público, o projeto está aberto para receber doações da população. Os interessados em colaborar podem comparecer diretamente à escola.