Com crises que duravam horas, a publicitária Adla Fayad, 33 anos, conta que passava até três dias trancada em um quarto escuro com dores de cabeça que pareciam não ter fim. Ela relata que não conseguia sentir cheiros, sons e até a iluminação trazia incômodo. Seu sofrimento era tão grande que chegou a atrapalhar o convívio social. “As dores prejudicavam a relação com minha família, atrapalhava meu trabalho, sem falar o quanto a dor por si só me incomodava. Quando a crise chega, dá muita vontade de chorar. Mas a gente não chora, porque sabe que vai piorar”, comenta.

Infelizmente o relato de Adla não é incomum entre os brasileiros. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a enxaqueca é a 10° doença mais incapacitante e acomete em torno de 15% da população mundial. No Brasil cerca de 30 milhões de pessoas sofrem do mal.

Estudos da Sociedade Internacional de Cefaleia e da Sociedade Brasileira de Cefaleia, a enxaqueca tende a se manifestar em pessoas de faixa dos 25 aos 45 anos. Após os 50, a taxa tende a diminuir, principalmente em mulheres. Quando se trata de crianças, ocorre em 3% a 10%, afetando igualmente ambos os sexos antes da puberdade. Após essa fase, o predomínio é no sexo feminino.

Hoje, Adla garante que consegue controlar a doença. Mas isso só foi possível depois do tratamento adequado e de ter adquirido hábitos que evitam as crises.

Dona Maria

Quem também sofre há muitos anos com a enxaqueca é a dona de casa Maria de Fátima Rosa, 54 anos. A senhora narra que já passou várias situações desconfortáveis por conta da dor de cabeça e em uma delas, até sofreu um desmaio. “Quando estou com crise mesmo, não consigo nem mesmo sentir cheiro ou barulho. Tudo incomoda e o que resolve mesmo, no meu caso, nem são os medicamentos, mas se fechar em um quarto escuro, silencioso e esperar a dor passar”, diz.

A dona de casa acredita que no seu caso é genético, pois sua mãe e irmã também têm o problema. “Esse mal é tão sério na minha família, que foi até passado para a minha filha mais velha. Ela também já sofreu muitas vezes com enxaqueca. Já tentamos diversos remédios caseiros, mas para gente o que resolve mesmo é ficar quieta e sem nenhum tipo de incomodo por perto”, acredita.

Não é normal

O neurologista sul-africano Andrew Blumenfeld, um dos maiores especialistas do tema no mundo, afirmou em uma entrevista sobre o tema à BBC Brasil, que não é normal ter enxaqueca e nem sempre as pessoas sabem que sofrem desse mal. “Um dia vivido com enxaqueca é pior do que um dia na vida de um paraplégico, uma pessoa que tem demência ou que tem psicose, afirmou o especialista à emissora. Blumenfeld observou ainda que há mais de cem tipos de dores de cabeça e todas elas são sintomas de algo que está ocorrendo no corpo. Essa tão falada enxaqueca, ainda segundo o neurologista, é considerada uma síndrome, que tem como principal característica a dor de cabeça, mas, além disso, tem outros detalhes que dá para precisar se tem ou não a doença.

Ele explica que a enxaqueca precisa atender os seguintes critérios: dor de um só lado do corpo, dor que lateja, dor que piora com os movimentos e dor que está numa escala moderada ou severa.

Diagnóstico

O neurologista deu um conselho para os médicos na hora de fazer o diagnóstico com os pacientes. Segundo ele, a maneira como o profissional faz a pergunta pode ser decisiva para a identificação da enxaqueca. “Se você pergunta a uma dona de casa ‘o que você faz quando tem a dor de cabeça?’, ela vai responder ‘continuo fazendo o que tenho de fazer’. Mas se perguntar o que ela precisa fazer, na hora da dor, para que tudo ficasse perfeito, ela pode responder: ‘deitaria na cama com as luzes apagadas e em silêncio’. Aí as pistas começam a aparecer”, finaliza.