Um curso de difícil acesso ao ingresso em universidades públicas e até particulares no País inteiro, além de ter custos com materiais e em alguns casos mensalidades bem altas, essa é a realidade para quem deseja se tornar médico no Brasil. Com chances para poucos, muitos jovens estudantes se aventuram a cursar medicina em países vizinhos da América do Sul e retornar ao Brasil com um diploma em mãos, visando iniciar carreira através do Programa Mais Médicos ou tentando passar no Exame de Revalidação de Diplomas Médicos Expedidos por Instituições de Educação Superior Estrangeiras (Revalida).

O curso no exterior varia entre R$ 500,00 e R$ 1.000,00 por mês, enquanto no Brasil a mensalidade em uma instituição particular pode custar mais de R$ 5 mil. Além desse valor, as famílias ainda precisam arcar com despesas de alojamento, alimentação e extras com o curso. Já a forma de ingresso também é bem mais fácil, e muitas universidades estrangeiras não exigem testes para que o interessado seja aluno.

Em 2010, a médica Anna Paulla de Abreu Costa, 26 anos, foi em busca do sonho. Ela, que já havia no currículo um curso de enfermagem iniciado e trancado e um ano de curso pré-vestibular, saiu de Miracema, a 78 km de Palmas, com destino a Santa Cruz de lá Sierra, Bolívia, para estudar medicina na Universidad Nacional Ecológica.

Após fazer a província, que é como se fosse um serviço rural, onde se trabalha em comunidades, em agosto do ano passado Anna Paula realizou a última etapa do curso: o examen de grado, que seria como uma prova de grau, para conseguir o diploma e também se inscreveu para o revalida. O resultado oficial está previsto para o próximo dia 27, mas ela já sabe que foi aprovada. “Foi a primeira vez que fiz o revalida! Que felicidade, misturada com emoção e orgulho de mim mesma!”, finaliza.

Já Byanca Karolyne Martins Franco, 24 anos, não perdeu muito tempo tentando outro curso ou passar em um vestibular para medicina no Brasil. Aos 17 anos, ela foi para a Bolívia após não passar nos vestibulares feitos no Tocantins e Rio Grande do Norte. Ela já concluiu o internato e agora é necessário que ela cumpra três meses de província. Após a conclusão, ela espera passar no revalida e atuar no Brasil.

Assim como Anna Paula e Byanca, milhares de jovens migram para países como Argentina e Paraguai também em busca de se tornarem médicos. Welton Tavares, 31 anos, está no segundo ano de medicina na Universidade Nacional de Rosário (UNR), na Argentina. “Eu vi oportunidade, meus amigos foram, me informaram como era e com isso interessei em ir, pesquisei e estou há dois anos. Não fiz no Brasil porque é muito caro e para entrar na faculdade federal ou particular é muito difícil”, afirma o estudante que é natural de Itacajá, a 295 km da Capital.

Formado em odontologia, Frednando Coelho Porto, 29 anos, abandonou a carreira após quatro anos atuando para se arriscar na medicina. “A odontologia sempre foi uma profissão que me deu muito prazer em realizar, mas ao sair da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), comecei a perceber que o campo para minha área de trabalho estava ficando muito restrito, e cada vez mais difícil de executar um trabalho com uma boa remuneração, talvez nem boa remuneração, mas algo digno do nosso trabalho”, diz. Ao chegar a essa conclusão, Porto embarcou para Buenos Aires, na Argentina, mas não se adaptou. Atualmente, ele cursa o terceiro ano na Cidade del Leste, no Paraguai, e mora em Foz do Iguaçu (PR).