O pica-pau-do-Parnaíba (Celeusobrieni), que também é conhecido como pica-pau-da-taboca, foi registrado recentemente pela primeira vez em um Parque Estadual do Cerrado tocantinense. O registro, realizado pelo biólogo Túlio Dornas, ocorreu no dia 27 de julho, na sede administrativa do Parque Estadual do Cantão, durante o inventário de aves na região de Caseara do Projeto Corredor Cantão, coordenado pela ONG Instituto Araguaia de Proteção Ambiental.

O pássaro foi redescoberto em 2006, depois de 80 anos do seu primeiro registro, em Uruçuí, Piauí, região do Rio Parnaíba. Considerada vulnerável de extinção, segundo avaliação do Ministério de Meio Ambiente, a espécie pode ser encontrada nos estados do Maranhão, Goiás, Mato Grosso, Pará e Tocantins, portanto é uma ave presente exclusivamente no Brasil. No Estado, o pica-pau-do-Parnaíba tem sido encontrado em áreas florestais mescladas à tabocais desde o Norte, em São Bento do Tocantins, até o Extremo-Sul do Estado, em Araguaçu e Talismã.

Porém, segundo Dornas, por ser uma ave especialista em bambus, de onde retira e ingere formigas, requer condições ecológicas e ambientais singulares para se manter, sendo, portanto, mais vulnerável às alterações na paisagem. Contudo, ele acredita que a perda e a fragmentação da vegetação nativa estariam colocando em risco a sobrevivência desta espécie. Ainda conforme o biólogo, desde sua redescoberta, centenas de registros da espécie foram feitos no Tocantins, quase sempre em propriedades privadas ou mesmo terras indígenas, mas nunca em Unidades de Conservação de Proteção Integral (UCPI).

Dornas destaca que a principal consequência deste registro é a possibilidade da espécie ter sua proteção legal fortalecida. Neste caso, o Parque Estadual do Cantão, uma das unidades de conservação mais importantes da transição entre os biomas Cerrado e Amazônia em todo Brasil. “Em contrapartida, a ocorrência do pássaro nesta unidade, enaltece ainda mais a importância do parque na sua função perpétua de conservação da biodiversidade do Cerrado e Amazônia, assim como da biodiversidade do Tocantins”, destaca.

Extinção

O pesquisador também acredita que algumas razões levaram o pica-pau-da-taboca entrar no ranking das espécies ameaçadas de extinção no país. Entre elas, a baixa população presumida dessa ave, que conforme estudos, a estimativa é que existem menos de 10.000 indivíduos distribuídos nos cinco estados onde ela pode ser encontrada. Outro fato, segundo o biólogo, seria a perda continuada do seu habitat, isso devido ao desmatamento constante, especialmente no Cerrado. “Além disso, as rotineiras e incontroláveis queimadas que destroem as matas e cerradões com tabocais onde a espécie sobrevive”, completa.

Questionado sobre o fato do pica-pau-do-Paranaíba ter dificuldades para se reproduzir, por isso também um dos motivos da extinção, o biólogo disse que os pesquisadores e ornitólogos não conhecem nada sobre a biologia reprodutiva desta espécie. “Este tema ainda necessita de mais estudos para saber se há alguma dificuldade reprodutiva da espécie. Presumimos que o pássaro faça ninhos em ocos de árvores grossas. Com o desmatamento desenfreado e os indicies altíssimos de queimadas, com isso, podemos imaginar uma redução no número de árvores ideais para reprodução”, opina.