Não me lembro de ter visto um clássico tão ruim entre Cruzeiro e Atlético. Otero foi eleito o craque do jogo. Deve ter sido por eliminação. Sobrou ele, que tentou fazer alguma coisa, embora não tenha feito nada. Fábio, que geralmente brilha, não teve trabalho. O grandalhão Di Santo, que, mais uma vez, não pegou na bola, o que é frequente nos centroavantes do futebol brasileiro, foi elogiado, durante a partida, por ser eficiente nas jogadas aéreas defensivas. Parei!

Abel Braga tem sido elogiado pela invencibilidade de dez jogos. O Cruzeiro ganhou três e empatou sete. Fez 16 pontos. Se tivesse ganhado seis e perdido quatro, teria 18 pontos. O time, que não faz gols, continua no mesmo lugar, correndo risco de ser rebaixado.

Após a goleada de 5 a 0 para o Flamengo, Renato Gaúcho, com sua mistura de descontração, prepotência e sabedoria, falou que garantia o Grêmio na Libertadores de 2020, porque tinha confiança em seus jogadores. Não é só por isso. Ele sabia da fragilidade dos adversários. O Grêmio já é o quarto colocado.

O fã-clube de Fernando Diniz, um técnico promissor, que quer transformá-lo em um gênio do futebol, está em silêncio após as duas derrotas no Morumbi. Do outro lado, sempre que o São Paulo perde, com qualquer treinador, até para um adversário do mesmo nível, como é o Athletico, a turma dos prepotentes acha que houve uma catástrofe. Os corvos já discutem a dispensa do treinador.

O São Paulo gastou muito dinheiro em contratações, mas não formou um ótimo time, pela troca constante de técnicos e por ter trazido jogadores que não valem tanto. Está posicionado entre o quarto e o oitavo lugares, como se esperava.

O Palmeiras gastou fortunas, mas tem uma equipe, individualmente, muito inferior à do Flamengo. Fora Weverton, Dudu e Felipe Melo, quando joga e não dá pontapé, os outros são bons, porém, comuns, no nível dos titulares de outras equipes.

Existe por parte de torcedores e da imprensa uma obsessão pelo trabalho dos treinadores, nas vitórias e nas derrotas. Quando o time ganha, a qualidade dos jogadores é diminuída para aumentar a dos técnicos, enquanto, nas derrotas, os atletas são supervalorizados para justificar as duras críticas aos treinadores.

Existem técnicos e times bons e ruins, com variados estilos, mais ofensivos ou mais defensivos. Treinadores bons não são apenas os que pensam como nós. Podemos aprender também com os que pensam de forma diferente.

O Flamengo continua dando aula sobre jogo coletivo, facilitado pela qualidade individual. Pena que a maioria dos treinadores não quer aprender. Acha que sabe tudo. A soberba é companheira da ignorância.

Repito, o Flamengo é diferente porque não joga a bola da intermediária para a área para contar com a sorte, não tem zagueiros colados à grande área, não tem dois volantes marcadores em linha, não tem um meia de ligação preso entre os zagueiros e os volantes adversários, não tem atacantes encostados, durante todo o jogo, à lateral nem tem um centroavante estático, à espera de uma bola. O Flamengo joga outro futebol.

Isso não significa que, para vencer, é necessário jogar como o Flamengo. Mas é mais prazeroso. Parafraseando o poeta Vinícius de Moraes, o jogo bem jogado é fundamental. O estilo vistoso e eficiente estimula os outros técnicos a fazerem o mesmo e os torcedores a gostarem mais de futebol e a irem mais aos estádios.