Alexandre Kalil, prefeito de Belo Horizonte, disse, quando era presidente do Atlético-MG, que se o Flamengo, pela força nacional, fosse bem administrado, ganharia tudo. Ninguém é imbatível, mas as conquistas têm muito a ver com o talento dos jogadores, do técnico, da ótima cota de TV, muito maior que a dos outros, e da eficiência administrativa, especialmente da gestão anterior, do presidente Eduardo Bandeira de Mello.

A diretoria atual, influenciada, muitas vezes, pela indicação de Jorge Jesus, foi competente nas contratações, uma grande deficiência dos outros clubes brasileiros, que gastam fortunas por jogadores que não valem tanto. O Corinthians contratou muito e não tem ninguém especial no meio-campo e no ataque. O prepotente São Paulo acha que só tem craques, o que muitos concordam, e sempre coloca a culpa no técnico. O time está na posição que deveria, pela qualidade do elenco.

Após os títulos da Libertadores e do Brasileiro, surgiram vários pedidos de convocação de jogadores do Flamengo. Querem até o espanhol Pablo Marí e o uruguaio Arrascaeta na seleção brasileira. Como há poucos titulares incontestáveis, alguns jogadores do Flamengo podem ser chamados, pois estão no nível de outros que têm sido convocados.

Porém, dificilmente os jogadores que brilham no Flamengo terão, rapidamente, atuações no mesmo nível, por causa da estratégia de jogo e do universo da seleção, que são bem diferentes. Os atletas só se destacam intensamente quando atuam em um forte conjunto e encontram seus lugares em campo, nos detalhes, de acordo com suas características técnicas e físicas. Ajudá-los a se descobrir é uma das funções principais dos treinadores.

No Flamengo, Gabigol não é um centroavante nem um atacante pelo lado. Atua na frente, entre o meio e a direita, com o corpo voltado para o centro, em direção ao gol, o que facilita no que é excepcional, a finalização. Bruno Henrique joga da esquerda para o meio, onde finaliza ou dá passes decisivos para o companheiro. Ele, a partir de um lado, e Gabigol, a partir do outro, se encontram no meio da área, onde formam uma excelente dupla.

Éverton Ribeiro e Arrascaeta, dois meias extremamente habilidosos e criativos, saem da direita e da esquerda para o centro e se encontram para trocar passes. Ninguém tem posição fixa.

Gerson não é volante nem meia. É um meio-campista, que joga de uma intermediária à outra. Esse tipo de jogador desapareceu, durante longo tempo, do futebol brasileiro, por causa da divisão que houve no meio-campo, entre o volante que marca e o meia que ataca, estratégia que persiste até hoje, na maioria dos times brasileiros.

Jorge Jesus tem sido excepcional no comando do Flamengo, o que não significa que sempre teve sucesso na carreira. Se o Flamengo não tivesse tantos ótimos jogadores, nem ele nem Guardiola formariam um grande time. Além disso, não há nenhuma certeza absoluta de que o Flamengo, com os mesmos jogadores e com o mesmo técnico vai brilhar, da mesma maneira ou mais, em 2020. Jorge Jesus não é mágico.

A relação entre Jorge Jesus e o Flamengo, além de profissional, é apaixonada, delirante. Fora algumas situações, como a paixão do torcedor com o clube, a paixão, com frequência, acaba, sem saber por qual razão. Outras vezes, se transforma em amor e/ou amizade, para sempre. Uma coisa é certa, o Flamengo e o futebol brasileiro nunca mais vão se esquecer de Jorge Jesus.