Camisa 10 do Goiás, o meia Marlone é protagonista de uma história com enredo de novela. De família adotiva e separado do irmão gêmeo na maternidade, o jogador fez do passado propulsor para, hoje, com 26 anos, levar a vida com responsabilidade e vivendo um dia de cada vez. Marlone deu uma entrevista de 35 minutos ao POPULAR e abriu o jogo sobre sua história de vida.

Tudo começou em abril de 1992, no municio de Augustinópolis, na região conhecida como Bico do Papagaio, no Tocantins, quando Deusa, de apenas 13 anos, deu à luz dois meninos. A gravidez não foi planejada e, por causa da idade e das dificuldades que vivia, a jovem optou por entregar as crianças para quem tivesse condições de criá-las. Entretanto, apenas um dos bebês foi adotado, o outro continuou com a família biológica.

O casal Jaldo e Eunice adotou um dos bebês e deram a ele o nome de Jonath Marlone Azevedo da Silva. Os pais de Deusa, apesar das dificuldades, optaram por criar o outro, que recebeu o nome de Marlos Azevedo dos Santos. Assim, Marlone e Marlos foram separados no dia do nascimento e criados separados, mas sempre souberam da existência um do outro. Enquanto Marlone foi criado em Augustinópolis, Marlos foi levado para o interior do Piauí.

“Meus pais nunca esconderam o que havia acontecido. Eu sempre falava para os meninos da minha cidade que tinha um irmão gêmeo, mas eles não acreditavam e ficavam zoando. Tinha muito desejo de provar que eu realmente tinha esse irmão, mesmo nem sabendo se ele realmente se parecia comigo, já que nunca tinha visto nenhuma foto”, contou Marlone.

Em 2004, o tão sonhado encontro ocorreu. A história envolvendo esse momento também parece capítulo de novela. Marlos, que prefere ser chamado de Marlon, foi visitar uma tia, que era irmã de Deusa (mãe biológica dos meninos) em um povoado, chamado Vinte Mil, perto de Augustinopolis. Marlone estava brincando de bola em uma escola da cidade quando um amigo chegou ofegante, de bicicleta, e foi correndo em sua direção.

“Ele parecia bem assustado. Foi até mim e falou: ‘Marlone, tem um menino no ponto de ônibus que é muito a sua cara, é branco e tem o cabelo loiro. Acho que pode ser seu irmão’. Fiquei surpreso e até duvidei, mas peguei a bicicleta dele e saí correndo em direção ao ponto de ônibus”, detalhou.

O jogador relatou que, ao chegar lá, uma van estava saindo, logo interrompida pelo menino que queria ver se o irmão estaria lá dentro. O motorista, então, atendeu ao pedido e, finalmente, os dois se viram. “Foi uma coisa planejada por Deus. Foi emocionante. Nós sempre tivemos muita vontade de que isso acontecesse”, disse o camisa 10 do Goiás. Apesar da emoção, os irmãos ficaram poucos dias juntos.

A paixão pela bola também foi algo que, mesmo separados, os dois irmãos desenvolveram. Ambos jogavam futebol desde a infância e tinham a carreira profissional como sonho. Em 2005, Marlone passou por uma peneira do Vasco, em Augustinopolis, e, em 2006, quando tinha quase 13 anos, se mudou para o Rio.

Pouco tempo depois, Marlon ficou sabendo o que ocorreu com o irmão e foi para Augustinópolis participar de campeonatos mais competitivos. Em 2010, o pai adotivo de Marlone, Jaldo, conseguiu um teste no Olaria (RJ) para Marlon, que passou e foi para a capital em 2011. “Assim que ele chegou, fomos morar juntos e resgatamos tudo que havíamos perdido. Hoje, estamos há oito anos juntos, convivendo e lutando para recuperar a convivência o que perdemos”, detalhou Marlone.

Em 2014, Marlone foi para o Cruzeiro e Marlon para o Madureira e, novamente, os irmãos começaram a trilhar caminhos diferentes, mas não perderam mais o contato. “Fazemos parte da vida um do outro, estamos sempre em contato, viajando juntos e vivendo o máximo possível perto”, relatou.

Foi em 2012 que Marlone finalmente conheceu sua mãe biológica, Deusa. Hoje, também mantém contato com ela. Segundo o jogador, não sente mágoa e nem raiva pelo passado. “Para ela, também não foi fácil. Sempre entendi isso.”

Hoje, Marlone é casado com a carioca Caroline Castro, de 24 anos, e é pai de duas meninas - Antonela, de 3 anos, e Angelina, de 1 ano e 4 meses. O jogador chegou ao Goiás por empréstimo do Corinthians até o fim do ano. Marlon, atualmente, defende a camisa do Sobradinho, de Brasília, e também atua como meio de campo.