A partir do mês de fevereiro, o Brasil começa um período decisivo para conseguir o objetivo de ser a sede da Copa do Mundo Feminina de 2023. Inspetores da Fifa vão desembarcar e percorrer o País para vistoriar estádios, hotéis e campos de treinos a fim de avaliar a candidatura. A experiência adquirida com os eventos dos últimos anos é um grande trunfo para os idealizadores do projeto, que é liderado pela CBF. O Brasil recebeu a Copa do Mundo de futebol de 2014 e a Olimpíada em 2016.

O sucesso da última Copa Feminina, realizada em 2019 na França, e o crescimento do futebol feminino fazem o Brasil sonhar com o torneio. Para 2023, a competição tem como grande novidade o aumento de participantes: 32 em vez de 24. A disputa para ser escolhido como sede tem ainda mais três candidaturas: Colômbia, Japão e a proposta conjunta da Austrália e da Nova Zelândia.

A definição sobre quem será sede da Copa do Mundo Feminina será anunciada em junho deste ano, durante o Congresso da Fifa na Etiópia. O Brasil coloca como estádios para o torneio oito arenas da Copa de 2014, inclusive algumas que são pouco utilizadas regularmente para jogos: Arena Pernambuco, Arena Amazônia e Mané Garrincha, em Brasília.

Vontade de sediar eventos
O Brasil tem como forte respaldo na candidatura ao Mundial a experiência acumulada em anos anteriores. Em menos de dez anos, o País recebeu a Copa da Confederações, a Copa do Mundo, os Jogos Olímpicos, a Copa América e o Mundial Sub-17. Nenhum outro país atraiu tantas competições esportivas recentemente.

A lista não deve parar por aí. A CBF sonha nos próximos anos com a Copa Feminina, assim como o Mundial de Clubes de 2025. “Tenho reiterado que é um objetivo da CBF que o Brasil seja candidato a receber todos os grandes eventos esportivos mundiais. Entendemos que temos o know how e os equipamentos para isso. Receber mais uma Copa do Mundo seria muito positivo para o País em vários aspectos”, disse ao Estado o presidente da CBF, Rogério Caboclo.

A candidatura
O esboço da proposta brasileira está resumido no caderno de intenções entregue à Fifa. São mais de cem páginas com informações detalhadas sobre cada uma das sedes, campos de treinamentos e cidades. Para cuidar dos preparativos, a CBF designou a diretoria a Diretoria de Governança e Conformidade da entidade.

Uma das principais mudanças está na escolha das sedes. Em vez das 12 cidades da Copa de 2014, a proposta é realizar o torneio em oito. “A gente sabe que a Fifa procura cada vez mais fazer eventos eficientes, com a utilização precisa de recursos. Procuramos apresentar uma candidatura que estivesse ajustada ao que a Fifa recomenda”, explicou o diretor de Governança e Conformidade da CBF, de André Megale.

Estrutura do país-sede
Todas as cidades ofertadas receberam também a Copa de 2014. A abertura está prevista para Brasília e a final no estádio do Maracanã, no Rio. O intuito é realizar a competição de 13 de julho até 13 de agosto. A CBF preparou ainda quatro opções diferentes de hospedagem e campos de treino em cada uma das cidades-sede e oferece 47 alternativas de locais para servirem como casa para as seleções.

Quanto vai custar?
A previsão da CBF é utilizar toda a estrutura já existente de estádios no Brasil, sem a necessidade de investimentos públicos. Obras pequenas e pontuais poderiam ser feitas, se necessárias. Como a competição será em menos sedes do que foi a Copa de 2014, o plano é conseguir diminuir as despesas e utilizar grande parte da mão-de-obra e do conhecimento de empresas e prestadores de serviço que já trabalharam em eventos anteriores.

“A gente sabe que a Fifa tem essa preocupação de não despender recursos desnecessários. Temos uma visão de priorizar escolhas técnicas para a candidatura, baseado muito na economia de recursos e na otimização de processos”, afirmou o diretor de Governança e Conformidade da CBF, de André Megale.

O Mundial Feminino no Brasil teria alguns lotes de ingressos com preços acessíveis. Para as partidas da fase de grupos (exceto a abertura), o valor da entrada mais barata seria em torno de R$ 40. Ao todo, a previsão é colocar à venda mais de 1 milhão de ingressos, com o preço de tíquete médio a R$ 330. Haveria ainda outros 92 mil bilhetes para pacotes VIPs.

Pelo livro de candidatura, a CBF revela ter patrocinadores dispostos a ajudar na organização do torneio. A previsão da entidade é investir cerca de R$ 130 milhões nos preparativos. Esse dinheiro seria usado nos preparativos dos locais de jogos, envelopamento de estádios e transporte das seleções. Já a receita estimada chegaria a quase R$ 300 milhões com fontes variadas, desde ingressos a ações de merchandising.

Segundo o presidente da CBF, Rogério Caboclo, um dos principais legados em receber a competição será o incentivo à modalidade no Brasil. “Tenho certeza que significará um enorme impulso ao desenvolvimento do futebol feminino brasileiro. Vai potencializar as iniciativas que estamos implementando nas diversas frentes para que o nosso futebol feminino cresça de forma consistente e duradoura”, disse. A CBF entregou recentemente o comando técnico da seleção feminina a Pia Sundhage, sueca que comandou o time dos EUA.

Como será a avaliação da Fifa
Os inspetores da Fifa começaram neste mês a visitar as quatro candidaturas para o Mundial de 2023. A entidade terá como critérios decisivos de avaliação a infraestrutura do evento, serviços, questões comerciais, sustentabilidade e direitos humanos. Para cada um desses itens, a entidade estabelece categorias mais detalhadas com o intuito de se chegar a uma nota final.

Essa nota será composta 70% pela infraestrutura e os outros 30% pelos aspectos comerciais. Os relatórios finais sobre cada sede serão publicados em maio. A decisão final será tomada em junho, durante o Congresso da Fifa. “Entre a candidatura e a decisão, teremos uma fase crítica e muito importante. Não poderemos ter nenhum tipo de conduta fora do permitido”, explicou o diretor da CBF André Megale.

Quem são os outros candidatos
Após oito candidaturas se interessarem em receber a Copa, apenas quatro continuam no páreo. A Fifa fez uma eliminação prévia e manteve o Brasil e outros três concorrentes à espera da resposta final. Como trunfo, o País de Marta, eleita seis vez a melhor jogadora do mundo, aposta na experiência recente em receber outros eventos esportivos. “Confiamos nos resultados que entregamos nas Copas do Mundo de 2014 e Sub-17 e na Copa América 2019 como demonstração para a Fifa da nossa capacidade de realização”, disse o presidente da CBF, Rogério Caboclo.

Como estará a seleção brasileira em 2023
Caso se garanta como sede da próxima Copa Feminina, o Brasil estará classificado automaticamente para a competição e com um grande desafio para cumprir. A equipe que disputou o último Mundial, na França, precisará renovar o elenco, já que estrelas como Marta e Cristiane estarão em 2023 com, respectivamente, 37 e 38 anos. Por isso, será preciso lapidar outros talentos. O trabalho de base é importante, assim como a realização de torneios nacionais.

A atual treinadora, a sueca Pia Sundhage, tem contrato com a CBF até 2021, com a possibilidade de renovação por mais dois anos. A equipe brasileira jamais conquistou a Copa Feminina e teve como melhor campanha o segundo lugar em 2007, na China.