O presidente do comitê organizador dos Jogos de Tóquio-2020, Yoshiro Mori, 83, renunciou ao cargo nesta sexta-feira (12) após fazer comentários machistas que causaram protestos internacionais.

"Minha declaração inadequada causou muito caos. Desejo deixar o cargo de presidente a partir de hoje", disse em reunião do conselho executivo de Tóquio em 2020, convocada para discutir seus comentários.

Ele afirmou que o mais importante agora é que a Olimpíada de Tóquio seja um sucesso.

As declarações sexistas foram dadas durante um encontro com o Comitê Olímpico Japonês aberto à imprensa no dia 3.

De acordo com o jornal japonês Asahi Shimbun, um dos maiores diários do país, Mori reclamou que reuniões com mulheres são muito longas, ao responder a uma pergunta sobre o plano do comitê de aumentar o número de mulheres no seu conselho para 40% do total.

"Em conselhos com muitas mulheres, as reuniões levam muito tempo", disse, rindo, segundo o Asahi Shimbun. "As mulheres têm um forte sentido de competição. Se uma pessoa levanta a mão, outras provavelmente pensam: também preciso dizer algo. É por isso que todo o mundo fala."

"Se você aumenta o número de membros executivos femininos, e se seu tempo de palavra não estiver limitado em certa medida, terá dificuldade para terminar, o que é irritante", acrescentou Mori, ex-primeiro-ministro do Japão (2000-2001). "É preciso regular o tempo de uso da palavra até certo ponto, ou então nunca seremos capazes de terminar."

A renúncia alguns meses antes do início dos Jogos pode corroer ainda mais a confiança na capacidade dos organizadores de realizar o evento durante uma pandemia de coronavírus.

A controvérsia de Mori causou "sérios danos à reputação" das Olimpíadas de Tóquio, disse uma fonte envolvida nas Olimpíadas.

A fonte, que pediu anonimato devido à delicadeza do assunto, disse que muitos funcionários querem uma mulher para substituir Mori.

A mídia local disse que a ministra das Olimpíadas, Seiko Hashimoto, uma mulher que representou o Japão nas Olimpíadas de verão e inverno, é considerada uma possível candidata.

A controvérsia se transformou em um momento de forte simbolismo na luta pela igualdade de gênero no Japão. Políticos mais velhos descartaram as declarações como uma simples gafe, enquanto uma geração mais nova de líderes pressionou por ação, e as empresas patrocinadoras do evento viram sua retórica sobre diversidade submetida a teste.

Uma recente pesquisa de opinião pública conduzida pela rede de televisão TBS demonstrou que 60% dos japoneses queriam a saída de Mori.

Os patrocinadores também se pronunciaram. Em uma de suas raras declarações públicas, divulgada durante o anúncio dos resultados da Toyota na quarta-feira (10), Akio Toyoda, o presidente-executivo da montadora de automóveis, disse que "estamos decepcionados com os recentes comentários do presidente do Comitê Organizador da Olimpíada de Tóquio, que contrariam os valores que a Toyota respeita e apoia".

Um dos patrocinadores convocou uma reunião de seu conselho sobre uma possível retirada do apoio aos Jogos, depois das declarações de Mori, mas optou por manter o contrato por conta do trabalho que já foi

realizado, disse uma pessoa informada sobre as conversações.

O banco de investimento Nomura declarou que "embora ele tenha se desculpado, os comentários de Mori foram lastimáveis".

Panasonic, Fujitsu, Japan Airlines, Mizuho Bank, Meiji Holdings, Sumitomo Mitsui Banking Corporation e Asics deram declarações ao Financial Times nas quais reiteraram seu compromisso para com a diversidade ou criticaram o pronunciamento de Mori.