O Campeonato Brasileiro Feminino começa neste sábado (8) com a estreia da Ferroviária, atual campeã, contratações importantes, mais atletas com registro profissional na carteira de trabalho e maior visibilidade. Os jogos serão exibidos pela Band na TV aberta e pelo Twitter, um jogo por rodada. As demais partidas terão transmissão pela CBF TV, canal de streaming no site Mycujoo.As duas técnicas da Série A do torneio são Tatiele Silveira, na Ferroviária, atual campeã brasileira, e Patrícia Gusmão, no Grêmio. No ano passado, o cenário era o mesmo, também com duas treinadoras: Emily Lima (Santos) e a mesma Tatiele no time de Araraquara. Emily agora treina a seleção feminina do Equador.O panorama internacional é diferente. Das 24 seleções que disputaram a Copa do Mundo do ano passado, por exemplo, nove tinham uma mulher no comando. A seleção brasileira contratou uma mulher - a sueca Pia Sundhage - após o torneio. Ela foi admitida para substituir Oswaldo Alvarez, o Vadão. Antes dele, a equipe foi comandada pela própria Emily, entre 2016 e 2017.Patrícia Gusmão afirma que a elite feminina poderia ter mais treinadoras. "O número é baixo, mas confio no trabalho das que estão surgindo. Quem sabe no próximo ano teremos mais mulheres na elite", diz a treinadora de 41 anos que possui a licença B da CBF. Por outro lado, a treinadora do Grêmio reconhece a contribuição masculina. "Aprendi muito com profissionais homens. Cada um tem sua contribuição. Todos podem trabalhar dentro do futebol feminino", diz Gusmão.Para Ana Alice, zagueira do Grêmio, as diferenças entre homens e mulheres estão principalmente no contato diário. "O fato de nossa treinadora ser uma ex-jogadora facilita bastante nosso contato. Ela tem paciência de saber lidar com cada jogadora. Ela sabe quando não estamos bem, como cobrar e lidar com as diferentes formas de pensar de cada uma. Resumindo, as treinadoras são mais abertas ao diálogo", opina a atleta.A falta de técnicas está inserida em um contexto mais amplo: existem poucas profissionais nas comissões técnicas. Nos quatro grandes de São Paulo, elas são minoria. O São Paulo possui uma mulher na equipe feminina - ela atua na assessoria de imprensa. Corinthians e Santos têm praticamente a metade do total de profissionais.Exceção, a Ferroviária possui oito mulheres, entre elas psicóloga, preparadora de goleiras, supervisora, roupeira e a própria técnica. O departamento tem 11 profissionais. Tatiele afirma que não é preciso ser mulher para uma boa gestão, mas é importante incluir gestoras num departamento prioritariamente feminino."A comissão não precisa ser 100% feminina, porque os homens também agregam seus valores, como na parte prática e a psicológica. Mas as mulheres também precisam de seu espaço", opina a profissional de 37 anos que já completou a Licença A da CBF. "Deveria ter pelo menos 50% de mulheres para balancear as ideias, o sentimento e a maneira de lidar com o grupo", completa.Carol Melo, coordenadora de futebol da Ferroviária, aposta que o futebol feminino ainda criará mais chances para as gestoras. "Um clube como a Ferroviária, que tem em seu DNA a formação, acaba abrindo as portas para que essas profissionais mostrem sua competência", explica. "A modalidade vai abrir oportunidade para mais mulheres", prevê.