A única atleta feminina do Irã a conquistar uma medalha Olímpica, Kimia Alizadeh, de 21 anos, anunciou no fim de semana que estava desertando em razão da "hipocrisia, mentiras, injustiça e bajulação" e por estar, segundo ela, sendo usada como uma "marionete" pelo regime iraniano.

Alizadeh anunciou sua decisão em um post no Instagram acompanhado de uma foto nos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro, em 2016, onde ela conquistou uma medalha de bronze no tae kwon do.

"Eles me levaram para onde quiseram", disse ela. "O que quer que eles mandavam, eu usava. Cada sentença ordenada eu repetia."

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

با سلام آغاز کنم، با خداحافظی یا تسلیت؟ سلام مردم مظلوم ایران، خداحافظ مردم نجیب ایران، تسلیت به شما مردم همیشه داغدار ایران. شما مرا چقدر می‌شناسید؟ فقط آنطور که در مسابقات، در تلویزیون، یا در حضور مقامات دیده‌اید. اجازه دهید حالا آزادانه، هویت سانسور شده‌ام را معرفی کنم. می‌گویند کیمیا پس از این چیزی نخواهد شد. خودم از این هم فراتر می‌روم و می‌گویم قبل از این هم چیزی نبوده‌ام: «من کیمیا علیزاده، نه تاریخسازم، نه قهرمانم، نه پرچمدار کاروان ایران» من یکی از میلیون‌ها زن سرکوب شده در ایرانم که سال‌هاست هر طور خواستند بازی‌ام دادند. هر کجا خواستند بردند. هر چه گفتند پوشیدم. هر جمله‌ای دستور دادند تکرار کردم. هر زمان صلاح دیدند، مصادره‌ام کردند. مدال‌هایم را پای حجاب اجباری گذاشتند و به مدیریت و درایت خودشان نسبت دادند. من برایشان مهم نبودم. هیچکداممان برایشان مهم نیستیم، ما ابزاریم. فقط آن مدال‌های فلزی اهمیت دارد تا به هر قیمتی که خودشان نرخ گذاشتند از ما بخرند و بهره‌برداری سیاسی کنند، اما همزمان برای تحقیرت، می‌گویند: فضیلت زن این نیست که پاهایش را دراز کند! من صبح‌ها هم از خواب بیدار می‌شوم پاهایم ناخودآگاه مثل پنکه می‌چرخد و به در و دیوار می‌گیرد. آنوقت چگونه می‌توانستم مترسکی باشم که می‌خواستند از من بسازند؟ در برنامه زنده تلویزیون، سوال‌هایی پرسیدند که دقیقاً بخاطر همان سوال دعوتم کرده بودند. حالا که نیستم می‌گویند تن به ذلت داده‌ام. آقای ساعی! من آمدم تا مثل شما نباشم و در مسیری که شما پیش رفتید قدم برندارم. من در صورت تقلید بخشی از رفتارهای شما، بیش از شما می‌توانستم به ثروت و قدرت برسم. من به اینها پشت کردم. من یک انسانم و می‌خواهم بر مدار انسانیت باقی بمانم. در ذهن‌های مردسالار و زن‌ستیزتان، همیشه فکر می‌کردید کیمیا زن است و زبان ندارد! روح آزرده من در کانال‌های آلوده اقتصادی و لابی‌های تنگ سیاسی شما نمی‌گنجد. من جز تکواندو، امنیت و زندگی شاد و سالم درخواست دیگری از دنیا ندارم. مردم نازنین و داغدار ایران، من نمی‌خواستم از پله‌های ترقی که بر پایه فساد و دروغ بنا شده بالا بروم. کسی به اروپا دعوتم نکرده و در باغ سبز به رویم باز نشده. اما رنج و سختی غربت را بجان می‌خرم چون نمی‌خواستم پای سفره ریاکاری، دروغ، بی عدالتی و چاپلوسی بنشینم. این تصمیم از کسب طلای المپیک هم سخت‌تر است، اما هر کجا باشم فرزند ایران زمین باقی می‌مانم. پشت به دلگرمی شما می‌دهم و جز اعتماد شما در راه سختی که قدم گذاشته‌ام، خواسته دیگری ندارم.

Uma publicação compartilhada por 𝓚𝓲𝓶𝓲𝓪 𝓐𝓵𝓲𝔃𝓪𝓭𝓮𝓱🌟 (@kimiya.alizade) em

Seus comentários foram feitos em um momento de alta tensão no país após autoridades iranianas anunciarem no fim de semana que as forças do país derrubaram acidentalmente um avião de passageiros perto de Teerã, matando os 176 a bordo. A admissão de culpa gerou revolta e desencadeou uma série de protestos no país. 

Irã e EUA estão envolvidos em uma nova etapa de conflito desde que um drone americano matou o general Qassim Suleimani, um poderoso comandante militar iraniano, em Bagdá. Teerã respondeu atacando com mísseis bases no Iraque que abrigavam tropas americanas. 

Ainda que o comunicado de Alizadeh não tenha se referido diretamente ao momento de tensão geopolítica envolvendo o país, ela mencionou "o oprimido povo do Irã" e e as restritivas políticas públicas de conduta e aparência para as mulheres, especialmente a obrigatoriedade do véu. 

"Meu espírito conturbado não se encaixa nos seus canais econômicos sujos e nos lobbies políticos", escreveu ela. "Não tenho outro desejo, exceto tae kwon do, segurança e uma vida feliz e saudável."

Alizadeh não disse em qual país estava procurando asilo. Mas a agência de notícias semioficial Isna do Irã informou que Alizadeh havia se mudado para a Holanda e observou que ela estava ausente do treinamento havia vários dias antes de divulgar sua declaração.

A agência de notícias iraniana também informou que Alizadeh planejava competir na Olimpíada de Tóquio, mas observou que ela não representaria o Irã.

Fotos compartilhadas nas redes sociais por Jaleh Yekta, uma fotógrafa iraniana radicada em Eindhoven, uma cidade no sul da Holanda, parece mostrar Alizadeh e seu noivo, Hamed Madanchi, participando de um memorial às vítimas do acidente de avião em Teerã. Na foto, Alizadeh fica ao lado de velas, flores e fotos dos mortos no acidente.

Mimoun El Boujjoufi, um treinador de tae kwon do em Eindhoven, disse à emissora holandesa NOS que havia recebido um pedido cerca de um mês atrás de Alizadeh para treinar com ele.

"Ela estava de férias na Europa, mas decidiu não voltar ao Irã com seu parceiro", disse El Boujjoufi à emissora. “Claro que ela é bem-vinda conosco. Conhecemos suas qualidades. Ela é um trunfo para o tae kwon do na Holanda. ”

Um porta-voz do Ministério da Migração da Holanda disse que o escritório não comentaria pedidos de asilo individuais.

Alizadeh tornou-se uma heroína nacional após sua vitória olímpica aos 18 anos, e muitos no Irã a viam como um símbolo para incentivar as meninas a participar de esportes, apesar das políticas opressivas do país para mulheres.

O presidente da Federação de Tae Kwon Do do Irã, Seyed Mohammad Puladgar, disse em comunicado que sua organização e o Comitê Olímpico "fizeram todos os esforços para apoiar" Alizadeh, e disse que a representação da situação dela pela mídia estrangeira era "simplesmente falsa, injusta e falso".

'Sofrimento deles cresce a cada dia'
O anúncio de Alizadeh ocorreu quatro meses depois que Saeid Mollaei, uma das maiores estrelas do judô do Irã, desertou para a Alemanha. Durante o Campeonato Mundial de judô do ano passado, as autoridades iranianas pressionaram Mollaei a desistir ou perder intencionalmente sua luta na semifinal para evitar ser derrotado na final contra um rival israelense.

Atletas iranianos são proibidos de competir contra israelenses.

"Muitos de nossos atletas são forçados a lidar com esses assuntos - e o sofrimento deles cresce a cada dia", disse Mollaei ao jornal alemão Deutsche Welle em setembro. "Muitos atletas deixaram seu país e deixaram suas vidas pessoais para trás para perseguir seus sonhos."

Alizadeh disse que embarcou em um "caminho difícil", mas "não queria se sentar à mesa da hipocrisia, mentiras, injustiça e bajulação".

"Essa decisão é ainda mais difícil do que ganhar o ouro olímpico", escreveu Alizadeh, "mas continuo sendo filha do Irã onde quer que esteja".