O comércio varejista fechou o mês de fevereiro com alta de 1,2% no volume de negócios, segundo dados da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC). Os números  divulgados nessa terça-feira (07) ainda não refletem a crise do coronavírus, que provocou o fechamento dos comércios em vários estados do País no mês de março.

A alta foi puxada pelo setor de hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (1,5%), tecidos, vestuário e calçados (1,6%) e artigos de uso pessoal e doméstico (1,5%). O desempenho surpreendeu o mercado, que esperava queda de 0,5%.

Cenário pós-crise
O resultado positivo em fevereiro não afasta as expectativas de forte desaceleração para os próximos meses. De acordo com os especialistas ouvidos pelo E-Investidor, o impacto do coronavírus atingirá os três principais fatores vinculados ao desempenho do setor: emprego, renda e confiança do consumidor. 

“Será um ano difícil, principalmente para o pequeno e médio varejista, que já está tendo que fazer demissões”, explicou Luiz Claudio Mello, diretor da consultoria 360Varejo.

Dentre os segmentos, o varejo alimentar e farmacêutico deve ser o único a fechar 2020 com boa performance. Na outra ponta, o varejo de serviços e, principalmente, o varejo “mole”, de roupas e sapatos, podem ter um futuro nebuloso pela frente. 

“Esse segmento vende o almoço para pagar a janta, não sei como esses negócios vão sobreviver em 2020”, afirmou Ana Paula Tozzi, especialista em varejo da AGR Consultoria. 

Além de não ter caixa para arcar com despesas fixas por mais de um mês sem vender, os pequenos lojistas de vestuário – que correspondem a uma fatia de 80% do varejo mole –  também sofrem com dificuldades de acesso ao crédito. 

“É um varejo desestruturado e informal, e para ter acesso a financiamentos é necessário uma organização financeira mínima”, diz Ana Paula. “As discussões para segurar esse segmento são sempre de adiar impostos, adiar aluguel, mas não sei se os negócios vão se recuperar na mesma velocidade que devem fazer os pagamentos”, afirmou a especialista.

E-commerce resiste
Para Flávia Meirelles, analista da Ágora Investimentos, as empresas que sairão mais fortes da crise serão as que têm, além de caixa robusto, operação forte em e-commerce, como o Carrefour, Lojas Americanas e Magazine Luiza. “É claro que o comércio eletrônico não vai compensar a queda de faturamento nas lojas físicas, mas as empresas que têm presença on-line, devem ser mais resilientes”, disse.

Essa também é a recomendação para quem quer começar a investir em ativos relacionados ao varejo. “Busque empresas com caixa forte e que já possuem operações no comércio eletrônico, além de companhias de produtos essenciais, como supermercados e farmácias”, disse a analista.

Para o investidor que já estava ‘comprado’ em ações de empresas varejistas que foram mais impactadas pela crise, o importante é não se desesperar e esperar a bolsa se recuperar. “A tendência é que o desempenho das companhias volte a ser positivo, só não sabemos a que ritmo isso vai acontecer”, explicou Meirelles.

De acordo com Tozzi, a aceleração do processo digital das empresas foi justamente um dos únicos pontos positivos da crise. “Está todo mundo correndo atrás. O varejista que não tinha loja online, teve sua receita reduzida a zero com o fechamento do comércio físico.”

Recuperação
Segundo os especialistas, a retomada do varejo brasileiro deve ser lenta e começar a ser sentida somente no ano que vem. “Mesmo que as lojas reabram, têm muitas pessoas desempregadas, ou seja, menos dispostas a gastar”, explicou Meirelles, da Ágora Investimentos.

Essa também é a preocupação de Mello, diretor da consultoria 360Varejo. “A crise pode afetar toda a cadeia do varejo”, afirmou.