A agência de classificação de risco Standard & Poors rebaixou nesta terça-feira (24) a nota de crédito da Samarco, alegando riscos de calote da companhia após o rompimento das barragens de rejeitos em Mariana.

Os títulos da dívida da mineradora, controlada pela Vale e pela BHP, estão sendo negociados por menos da metade do pico atingido em 2014, em um sinal de que os credores também têm dúvidas com relação ao futuro da empresa após a tragédia.

"A ação de rebaixamento reflete o aumento nos riscos de liquidez da empresa porque o prazo para retomar sua produção de pelotas atualmente é incerto", afirmou a S&P, em nota.

A agência teme que a Samarco descumpra, já no ano que vem, compromissos assumidos com credores (chamados de covenants), o que implicaria em resgate antecipado de parte de sua dívida.

Em seu balanço de 2014, a empresa explica que, entre os compromissos, está manter o indicador de dívida líquida e Ebitda em 3 vezes ou, em alguns casos, 4 vezes. No final de 2014, estava em 2,1 vezes.

A S&P diz que a suspensão das atividades terá impacto nos indicadores porque reduz a geração de caixa. A dívida total da Samarco, segundo o balanço, é de R$ 11,6 bilhões, metade em títulos e metade em financiamentos à exportação.

"Nesse cenário, assumimos que a empresa descumprirá seus covenants em 2016, o que poderia deflagrar acelerações de dívida", conclui a S&P.

A nota de crédito da dívida estrangeira da empresa foi rebaixada de BB+ para BB-, com perspectiva negativa.

Nesta terça (24), os títulos com vencimento em 2022 eram negociados a US$ 0,46, queda de 45% com relação ao patamar de antes do acidente e de 53,5% com relação ao maior valor registrado, de US$ 0,99, em novembro de 2014.

"Os credores estão esperando pelo pior", diz o diretor de operações da gestora de recursos Mirae, Pablo Spyer. "Há uma preocupação com relação à capacidade da empresa segurar essa bomba."

Como a Samarco não tem ações em bolsa, os títulos da dívida são o principal indicador do humor do mercado com relação à companhia.

Os credores são, em sua maioria, investidores institucionais estrangeiros, como os bancos UBS e Credit Suisse e o fundo Blackrock.

Os títulos com vencimento em 2022 são os mais negociados, mas há também papéis com vencimento em 2023 e 2024.

Nos primeiros dias após o rompimento das barragens, o valor dos papéis despencou da casa dos US$ 0,85 para abaixo de US$ 0,60.

Chegou a se recuperar, mas voltou a cair nos últimos dias, com a percepção de que o custo de recuperação das áreas atingidas pode ser maior do que o esperado inicialmente.

"Ainda é difícil mensurar a extensão dos danos para o futuro da empresa, até porque há interesse do município que ela volte a operar. Se fosse nos Estados Unidos, estaria fechada", diz o analista Pedro Galdi, do site Whatscall.

Segundo avaliação da S&P, a Samarco deve fechar o ano com R$ 3 bilhões em caixa, mas pode ter problemas de liquidez, uma vez que os primeiros compromissos assumidos após a tragédia já somam R$ 1,3 bilhão.

Além disso, tem R$ 190 milhões em pagamentos de dívidas e R$ 250 milhões em impostos.

ALTERNATIVAS
Em teleconferência com analistas na semana passada, a Vale admitiu que o seguro de responsabilidade civil da Samarco não cobre sequer as multas já emitidas pelo Ibama, no valor de R$ 250 milhões.

Segundo o diretor financeiro da Vale, Luciano Siani, a apólice cobre bem os prejuízos pela parada de produção e por danos nas minas, mas é pequena no que diz respeito a danos a terceiros ou ao meio ambiente.

Embora garantam que o foco neste momento é a mitigação dos danos causados pela tragédia, os controladores da Samarco já estudam alternativas para convencer as autoridades a liberar as operações da companhia.

Uma delas é a tecnologia de tratamento do minério a seco ou o depósito de rejeitos na cava da mina de Germano.

"Precisamos convencer a sociedade de que podemos operar de formar segura e que podemos limpar os danos. Este é o primeiro passo a ser dado", afirmou Siani.