O pesquisador Zander Navarro, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), foi demitido nesta segunda-feira, 8, após questionar os rumos da instituição de pesquisa e o presidente da estatal, Maurício Lopes. Ao Estadão/Broadcast, Navarro classificou a decisão como "arbitrária" e disse ter constituído advogado para pedir sua reintegração ao cargo. Ele estava na Embrapa desde 2011.

Os primeiros questionamentos públicos de Navarro foram feitos no artigo "Por favor, Embrapa: acorde!", publicado na última sexta-feira, 5, no Estado, no qual o pesquisador critica a fragmentação das pesquisas, a falta de foco e de estratégia na Embrapa. 

Navarro classifica a missão da empresa de "entregar valor à sociedade" como "uma vaga afirmação de inocentes noções" e "uma fuga da realidade", e pede ao presidente da empresa, Maurício Antônio Lopes, para "esclarecer à sociedade a inquietante pergunta: afinal, para que serve mesmo a Embrapa, uma das raras estatais totalmente dependentes do Tesouro?".

Navarro questionou a substituição de dois terços dos pesquisadores em concursos recentes e indagou "como justificar que uma gigantesca e cara empresa pública, sustentada por toda a sociedade, trabalhe cada vez mais e quase que exclusivamente para os ricos segmentos do empresariado rural?" e finalizou: "Existe enorme resistência da direção em promover as mudanças urgentes e necessárias".

Em um comunicado encaminhado aos gestores da estatal e obtido pelo Estadão/Broadcast, o presidente da Embrapa afirma que o artigo de Navarro "tipifica falta gravíssima à luz das normas de comportamento e de conduta da Empresa". Lopes avalia que o texto prejudica, junto ao Ministério do Planejamento, o amplo processo de remodelação em curso na Embrapa nos últimos dois anos.

"Afirmações irresponsáveis, sem nenhum fundamento, contidas no artigo, podem jogar por água abaixo todo o esforço que já dura dois anos, e está prestes a ser finalizado. Assim, eu gostaria de informar a todos que a diretoria executiva tomará todas as medidas cabíveis, à luz das nossas normas e procedimentos, para que este tipo de comportamento, irresponsável e destrutivo, seja definitivamente erradicado da nossa Empresa", relata Lopes.

Em uma carta, também encaminhada aos gestores, Navarro respondeu ao presidente da Embrapa reafirmando e ampliando as críticas já feitas no artigo. O pesquisador disse que há um anseio dos funcionários pela refundação da Embrapa.

Diante da repercussão negativa após a demissão, o presidente da estatal divulgou um último comunicado interno, no qual atribuiu a decisão à diretoria executiva pelo fato de o pesquisador "ignorar sistematicamente os códigos de ética e de conduta da Empresa". Essa também foi a resposta da assessoria da Embrapa aos questionamentos feitos pelo Estadão/Broadcast sobre a demissão. Sobre o artigo de Navarro, a estatal informou que não faria comentários além do esclarecimento anterior já feito.

Questionado sobre a demissão polêmica e as críticas feitas por Navarro, o ministro Blairo Maggi, da Agricultura, pasta à qual a Embrapa é ligada, afirmou que o assunto é interno da estatal e que não vai se pronunciar.

Mudança
"Estou fazendo a mudança dos meus papéis e me deram hoje (terça-feira) para deixar a sala após uma demissão sumária", disse o pesquisador Zander Navarro, por telefone, antes de deixar a unidade da Embrapa em Brasília (DF) depois de ser demitido. "Fui demitido da Embrapa por emitir minha opinião, mas já constitui um advogado, porque é um ato de violência não poder ter opinião, ainda mais em uma empresa de pesquisa, de ciência, onde se supõe haver questionamentos."

Segundo Navarro, como os servidores da empresa de pesquisa não são submetidos ao regime das estatais, mas à legislação trabalhista como qualquer empresa privada, a possibilidade de demissões por decisão de superiores gera grande temor dos funcionários. 

Ele foi chamado na segunda-feira ao departamento de recursos humanos da empresa, recebeu a carta de demissão, com, segundo ele, o argumento de que "repetidamente" tem sido indisciplinado e que o artigo do Estado "causou danos à empresa e infringe o código de ética". O pesquisador reafirmou que recorrerá à Justiça para ser reintegrado. "Vou pedir a reintegração e tenho forte esperança em voltar", concluiu.