Santiago Chamorro saiu do Brasil em meio a uma crise econômica e retornou em outra, mas tenta manter o foco no futuro. Em sua volta à presidência da General Motors na América do Sul, o executivo colombiano anunciou nesta quarta (22) a retomada da produção em dois turnos e diz acreditar em crescimento no próximo ano, apesar dos problemas com o fornecimento de peças.

A fábrica de São Caetano do Sul (Grande São Paulo), onde é feito o utilitário esportivo Chevrolet Tracker, terá a produção dobrada a partir de segunda-feira (27). Na unidade de Gravataí (RS), que monta o compacto Onix, o segundo turno será retomado no dia 4 de outubro.

A planta de São José dos Campos (interior de São Paulo), que faz a picape média S10, já vinha operando em dois períodos. As vendas desse modelo têm sido impulsionadas pelo agronegócio.

Funcionários que estavam em layoff (suspensão temporária de contrato de trabalho) retornarão gradativamente às atividades.

"Acreditamos no crescimento na América do Sul no ano que vem, nossos prognósticos são de 4,4 milhões de unidades vendidas na região e, fundamentalmente, esse crescimento virá do Brasil", diz Chamorro, que ainda está em Detroit (EUA). Ele chegará ao país no início de outubro.

Após cinco anos nos EUA, o executivo ainda está se inteirando sobre o cenário político e econômico atual. Ele não fez comentários sobre a atuação do governo Jair Bolsonaro (sem partido) em questões ligadas à indústria.

Chamorro ingressou na GM em 1993 e assumiu a presidência da montadora no Brasil em agosto de 2013. Três anos depois, foi transferido para os EUA e se tornou vice-presidente global de produtos conectados.

Seu retorno ao país ocorre após a saída de Carlos Zarlenga, que surpreendeu o mercado em agosto. Em nota, a fabricante afirmou que o ex-presidente decidiu deixar a GM para buscar outras oportunidades.

Apesar de chegar trazendo notícias positivas, Chamorro -que agora acumula a presidência da GM na América do Sul- encontra a fabricante em um de seus piores momentos na região.

Com a escassez de semicondutores, a produção do Chevrolet Onix ficou interrompida por cerca de seis meses. A empresa viu as filas de espera crescerem, e o carro mais vendido desde 2015 despencou no ranking de emplacamentos.

"Ficamos próximos de nossos clientes, nos comunicamos com eles de forma individual", diz o executivo. "A questão dos semicondutores não é um problema particular da GM, mas global."

"O objetivo do momento não é retomar a liderança, mas o que vamos fazer é trabalhar muito, otimizar a produção sabendo que têm clientes esperando do outro lado", diz o executivo.

E haja trabalho. A montadora tem revisto processos fabris e cortado custos em diferentes setores para retomar a rentabilidade. A empresa passou por momentos difíceis antes ainda da pandemia de Covid-19. Em 2019, a permanência no Brasil chegou a ser questionada pela matriz diante da baixa lucratividade.

Contudo, Chamorro afirma que os fundamentos da GM são muito fortes na América do Sul. "Temos uma presença fabril importantíssima, temos uma posição muito forte na região e mecanismos para sermos autossustentáveis."

A empresa passa por um ciclo de R$ 10 bilhões em investimentos, que inclui o desenvolvimento da nova picape Montana, que irá concorrer com a Fiat Toro.

Um dos objetivos do presidente da GM é implementar novos negócios na região, com foco em serviços conectados. Para isso, ele vai usar a experiência que acumulou em Detroit.

A eletrificação também está nos planos da empresa, com lançamentos globais que devem chegar ao Brasil. Hoje a marca comercializa o Bolt, modelo que acaba de ser remodelado e é oferecido por R$ 317 mil no país.