O leilão do trecho da Ferrovia Norte-Sul de Porto Nacional (TO) a Estrela D’Oeste (SP) está previsto para o primeiro trimestre de 2018. Mas ainda não está completo, há obras em andamento e o movimento nos trilhos pouco se parece com o que ocorre no tramo norte e com a projeção do potencial prometido para a região. Na parte que passa por Goiás, inaugurada em 2014, só ocorreram até hoje dois transportes de cargas e um de locomotivas. Para a Valec, que tem a concessão, há demanda. 

Em Goiânia, para uma palestra no Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Goiás (Crea-GO), o presidente da estatal, Mario Mondolfo, disse nesta segunda-feira (30) ao O POPULAR que o potencial é grande e que “cabe à iniciativa privada, que vai operar a ferrovia, buscar as cargas e fazer com que a ela seja plenamente utilizada”. Ele rebate a crítica de que o trecho que vai a leilão – com investimentos em torno de R$ 2,76 bilhões – foi superestimado. A afirmação foi feita inclusive pelo presidente-executivo da companhia Rumo, Júlio Fontana Neto. 

“Se olhar só aqui em Goiás, a região de Rio Verde é um tremendo polo de agronegócio, tem um potencial enorme para transporte de grãos. Depois, tem uma região próxima a Campinorte que tem potencial de milhões de toneladas de grãos. Se for mais ao Norte, ainda na região de encontro da Fiol (Ferrovia de Integração Oeste Leste) com a Norte-Sul, tem a região que hoje é chamada de Matopiba, que só não cresce mais por falta de infraestrutura”, defende Mondolfo ao citar que além do agronegócio há os minérios. Com contrato de 50 mil toneladas, manganês é transportado pela ferrovia a partir de Gurupi (TO) para o Porto de Itaqui (MA). 

Sobre o que trava o funcionamento, ele reforça a tese de que a modelagem pode atrapalhar “e a utilização da ferrovia tem de ser muito bem pensada para que isso não crie problemas no futuro”. “O modelo da concessão está sendo estudado pela ANTT e ela deve prover os diversos segmentos com direitos de passagem de modo que os operadores de cada segmento possam adentrar no outro segmento sem ter qualquer tipo de ônus.” Como a ferrovia tem trechos sob concessão de empresas diferentes, isso gera atualmente incertezas sobre a garantia do direito de passagem. 

Acesso

Para o presidente da Valec, o maior problema no segmento é o acesso ao Porto de Santos (SP). Isso porque depende de como será a negociação após a renovação da concessão da Malha Paulista. “A concessionária tem a função de colocar o material rodante, fazer toda a operação da ferrovia e, como ela ganha por direito de passagem e frete, ela vai ter interesse em procurar implementar as cargas. O poder público tem uma condição um pouco limitada para fazer isso.” 

Ainda em obras, o trecho entre Anápolis e Estrela D’Oeste (SP) está previsto para 2018, segundo ele, e a Valec ainda construirá três pátios (Estrala D’Oeste, São Simão e Santa Helena). Quem arrematar a concessão, ainda poderá fazer outros. “A Norte-Sul é a coluna vertebral do sistema ferroviário brasileiro, ela vai permitir a saída para diversos portos”, diz. 

Ao menos uma empresa estrangeira, a russa RZD, já manifestou publicamente o interesse no leilão da Norte-Sul e estuda o potencial econômico da malha, inclusive o de Goiás.