A assinatura do contrato de concessão dos tramos central e sul da Ferrovia Norte-Sul (FSN) com a Rumo foi celebrado em julho com a presença do presidente Jair Bolsonaro (PSL) e do governador Ronaldo Caiado (DEM) em Anápolis. Na ocasião, a expectativa era de que após cinco anos de espera finalmente o transporte de carga pudesse ser realizado de forma frequente e a partir deste ano. Mas os planos podem não se concretizar.

Isso porque a empresa que arrematou o trecho de 1.537 quilômetros por R$ 2,7 bilhões faz uma vistoria em todo o trecho, que vai de Porto Nacional (TO) a Estrela D’Oeste (SP). Análise detalhada para saber quais os materiais podem ser aproveitados, quais não e verificar se é preciso fazer alguma obra. Se detectado algum problema na estrutura, não haverá o esperado início imediato do transporte.

O tramo central, de Anápolis para o Tocantins, é considerado pelo governo federal como concluído, operacional e disponível para o transporte ferroviário comercial de cargas. Tem autorização de abertura de tráfego e licença de operação. Só que o trabalho de vistoria é considerado pela Rumo como de prevenção e a empresa costuma fazer avaliações em suas operações.

Somado a isso, está o fato de que a qualidade do material utilizado na FNS já foi questionado por auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU). Brita de má qualidade por quilômetros da malha é um dos problemas e que foi informado pelo governo antes do leilão da FSN às interessadas na subconcessão. Assim, isso não pode levar a um pedido de reequilíbrio econômico-financeiro do contrato.

Fatos novos, por outro lado, podem deixar a brecha de questionamento pela empresa. Porque pedido de revisão de valores pode ocorrer quando a responsabilidade for atribuída ao poder concedente. Outra possibilidade, só que levantada por especialistas, pode ser o governo federal ter de desembolsar para realizar ajustes na malha.

Para o presidente da Frente Nacional pela Volta das Ferrovias (Ferrofrente), José Manoel Ferreira Gonçalves, faltou cuidado do governo federal e o processo foi apressado. “A empresa poderá querer reduzir valor de outorga dizendo que há um trilho ruim e diminuir seu prejuízo. O que é um absurdo”, avalia ao defender que empresas estavam cientes das condições da ferrovia que ficou parada por cinco anos depois de pronta.

Prazo

Apesar da expectativa de que em novembro deste ano o transporte pudesse ser retomado a partir de Goiás, a Rumo tem um prazo mais longo para iniciar as operações. Segundo as regras contratuais, a concessionária tem dois anos para concluir intervenções, o que inclui terminar o tramo sul – que possui 95% das obras concluídas –, e iniciar as operações em 2021.

Enquanto é feita vistoria, é possível ver um trem passar pela Norte-Sul em Goiás, conforme flagrado pela reportagem. Apesar da esperança que a movimentação causa, é apenas um transporte de trilhos para manutenção da linha na operação da VLI no Tocantins e no Maranhão. A operação já era realizada antes da subconcessão para a Rumo. A carga é de um material beneficiado no Estaleiro de Soldas, em Pedro Leopoldo (MG), que chega até a FNS por meio da conexão com a malha ferroviária em Anápolis.

Para ver mais do que isso, ainda será preciso pelo menos terminar os ajustes que a empresa faz no trecho. A grande expectativa de empresários, especialmente de Anápolis, é para quando o tramo sul ficar pronto. “É o trecho que vai ter realmente volume de carga”, analisa o especialista em logística Edson Tavares sobre a saída para São Paulo.

Com demanda para os dois sentidos, ele pontua que o preço deve ficar atrativo para o frete aos poucos e conforme aumenta o volume de interessados. O início deve ser comandado pelo agronegócio e commodities.

Enquanto as tratativas para o leilão da FNS ocorria, outro transporte ferroviário foi destravado e aumenta as expectativas de empresários goianos para que de fato fique atrativo transportar pelos trilhos. A VLI retomou as operações de contêineres no fluxo entre Paulínia (SP) e Anápolis em maio pela Ferrovia Centro-Atlântica (FCA). Estava paralisado desde novembro de 2017.

A movimentação média, segundo a empresa, tem sido de 120 contêineres por mês e atende a clientes do setor de bens de consumo. A companhia informou que segue em contato com o mercado para ampliar o volume e avalia possibilidades no fluxo inverso com cargas originadas em Anápolis, cidade que ganhará ainda mais destaque quando a FNS passar a realizar transporte de cargas.