Após sete anos à frente da Federação das Indústrias do Estado do Tocantins (Fieto), Roberto Pires foi reeleito para mais quatro anos no comando da entidade. Embora garanta que muito já foi feito pelo setor, Pires acredita que a indústria ainda busca caminhos melhores. “Temos que transformar os insumos do agronegócio, que é a vocação natural do Estado”, diz, ao lembrar que pretende focar na indústria de transformação.

Sobre os polêmicos incentivos fiscais, o presidente da Fieto é firme e não acredita em mudança sem diálogo. Para ele, os incentivos são bons, mas engessados. “Propusemos que o Bico do Papagaio e o Sudeste tenham incentivos especiais.”

Na análise de Pires, a infraestrutura do Estado tem melhorado ao longo dos anos, mas é preciso ficar atento ao cenário que se desenha. Como exemplo, ele cita a Ferrovia Norte-Sul. Ele acredita que políticas públicas são necessárias para aproveitar melhor o modal. “Só ficar vendo o trem passar não gera emprego, não melhora a renda, a qualidade de vida.”

A cerimônia de posse do presidente reeleito está marcada para hoje, às 20 horas, no Crystal Hall, em Palmas e deve contar com a presença do atual presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson de Andrade, que será homenageado. Entretanto, antes da festa Pires falou com exclusividade ao Jornal do Tocantins sobre a avaliação do último mandato e os novos projetos.

Depois de sete anos à frente da Fieto, por que continuar?

Na verdade a minha reeleição é um consenso do nosso conselho. O que me motiva é saber que avançamos muito nesses últimos sete anos e eu acredito que o nosso trabalho ainda pode ser importante para a federação por mais quatro anos. Nós temos um alinhamento com a Confederação Nacional da Indústria, de forma que acho que o sistema ganha com a minha permanência.

Quais foram os principais avanços nesses sete anos?

Me preocupei muito em reestruturar a nossa infraestrutura. Reestruturamos todos os nossos laboratórios, as escolas do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), construímos escolas do Serviço Social da Indústria (Sesi). Dobramos nossa capacidade de atendimento. Tínhamos capacidade para sete mil pessoas, hoje subimos para 15 mil pessoas. Na região Central, que é onde está a Capital, estávamos desprovidos de um ambiente adequado para nossas unidades. Vamos entregar em março três escolas, um Centro de Tecnologia de Educação no Plano Diretor, um Centro de Formação em Taquaralto e outro em Paraíso. Nos próximos quatro anos, o foco é uma infraestrutura adequada para o Sesi também.

Ao longo desse período à frente da Fieto, houve algum projeto que o senhor desejou fazer e não conseguiu?

Não. As demandas que nós propusemos foram todas alcançadas. Acho que o Senai está bem atendido agora, mas não podíamos fazer tudo ao mesmo tempo, então elegemos prioridades. Eu tenho vontade de construir e deixar um legado para o Sesi, por exemplo. O Sesi representa educação e saúde, segurança do trabalho, qualidade de vida para os trabalhadores. É importante focar essa gestão.

E qual foi o principal gargalo enfrentado pela indústria no seu último mandato?

No Brasil convivemos com alguns gargalos. Acredito que a carga tributária seja um deles, mas temos a burocracia também. São dificuldades que não são privilégio só do Tocantins, acontece no Brasil todo. A indústria no Brasil vem reduzindo a participação no Produto Interno Bruto (PIB). Na década de 50 e 60 a participação era de 30%, hoje está com menos de 10%. Aqui no Estado há um fato curioso. A indústria cresceu 8% ao ano de 2002 a 2012. Diferente do que aconteceu no Brasil, que está desindustrializando. Acho que ainda não pegamos o viés certo. Nossa indústria é 60% da construção civil e só 14% de transformação. Acho que o viés é a indústria de transformação. Temos que transformar os insumos do agronegócio, que é a vocação natural do Estado. Este é outro ponto em que pretendo apostar.

E quais são os principais desafios para 2016?

O principal desafio, como acabei de comentar, são as três escolas que estamos entregando. Ampliando a capacidade em 2,5 mil vagas por dia. É um desafio muito grande no momento que o País vive. Estamos ampliando ainda mais a nossa oferta. Entendemos que temos que estar presentes como instituição. Quando o País e o Estado retomarem o crescimento, vamos estar com a mão de obra pronta. É dessa forma que cumprimos o nosso papel.

A Carta da Indústria – elaborada em 2015 - destaca a fragilidade econômica, política e corrupção como focos de desconfiança nos empresários. Qual será a sua abordagem, a partir de agora, para reduzir os impactos destes pontos negativos?

Já temos uma negociação com o governo do Estado em relação aos incentivos fiscais. No Tocantins existem incentivos fiscais que são interessantes. No entanto, fizemos um estudo e verificamos que os incentivos, independentemente do tipo de indústria, são os mesmos para qualquer região do Estado. Estamos propondo para o governo que faça um diferencial nos incentivos para industrializar o Estado não só na margem da rodovia, ferrovia e hidrovia, que estão centralizados. A ideia é descentralizar esse crescimento. Por exemplo, propusemos que o Bico do Papagaio e o Sudeste tenham incentivos especiais. Caso contrário, apenas os eixos de escoamento terão acesso à industrialização.

A falta de incentivos fiscais eficazes e que atendam as demandas das grandes empresas é uma reclamação antiga da Fieto. Essa continuará sendo uma bandeira do senhor?

Acredito que a ampliação dos incentivos teria um impacto imediato na industrialização do nosso Estado. O Tocantins tem 1,5 milhão de habitantes e o poder de consumo muito pequeno. Temos que transformar o insumo aqui e depois vender nos grandes centros. Creio que a ampliação dos incentivos fiscais seguramente alavancaria o segmento industrial. Estamos muito otimistas com o Tocantins devido à malha de escoamento que está para ser implantada. Recentemente o governo Federal anunciou que deve resolver o problema do Pedral Lourenço, para viabilizar a navegação na hidrovia do Rio Tocantins. Sabemos que a hidrovia é um modal de escoamento muito barato. Tem muita coisa acontecendo que vai deixar o Tocantins em evidência devido a localização geográfica e pelo potencial de logística.

Outra reclamação recorrente é o sistema tributário, tanto do País quanto aqui no Estado. Com uma previsão de uma economia ainda mais frágil neste ano, os impostos se tornam um peso a mais para as indústrias?

Não deixa fazer com que a nossa competitividade diminua. No Brasil o que acontece é o seguinte, cobra-se uma das maiores cargas tributárias do mundo e grande parte disso não é reinvestido. Onde se paga um tributo alto existe um retorno grande na infraestrutura, de saúde, de educação, coisa que não acontece no Brasil. Existe uma carga tributária alta e ainda é preciso investir em segurança e educação. Esse é o gargalo não só no Tocantins, mas no Brasil todo.

O Tocantins se destaca pela posição geográfica no Brasil, o que facilita a logística. A infraestrutura que o Estado oferece é suficiente para escoar a produção e atrair investidores?

A infraestrutura tem melhorado, mas ainda carece de melhorias. Por exemplo, a Ferrovia Norte-Sul. É preciso políticas públicas que transformem o Tocantins em um eixo de desenvolvimento e não apenas um eixo viário. Só ficar vendo o trem passar não gera emprego, não melhora a renda, a qualidade de vida. Pelo menos de 49% dos empregos formais dos tocantinenses estão ancorados na máquina pública.

As entidades do Sistema S têm sofrido com cortes de verbas do governo federal. Isso é um problema? As indústrias e os trabalhadores serão prejudicados?

O que foi falado é que iriam cortar 30% do nosso orçamento vindo do governo. Tivemos que assumir esse desfalque. Agora temos que nos adequar, claro, com um orçamento menor. Não estamos pessimistas, tanto que estamos ampliando. Vamos otimizar sem diminuir a quantidade e a qualidade dos nossos serviços.

Com essa otimização, existe algum serviço que pode perder mais?

Eu considero que nenhum serviço vá perder. Vamos ter que otimizar. Teremos que trabalhar mais com menos.