O setor hoteleiro se prepara para a retomada das atividades com a adoção de uma série de medidas de segurança visando à contenção da proliferação do novo coronavírus. De acordo com estudo da consultoria Hotel Invest, 64% dos hotéis brasileiros fecharam temporariamente as portas desde março. A parcela que se manteve aberta ficou no vermelho, pois a taxa de ocupação despencou abaixo de 10%. Apesar de a pandemia ainda estar em aceleração no País, 57% dos hotéis que ficaram parados pretendem reabrir em junho e julho.Para atrair o consumidor, as companhias hoteleiras estão primeiro focando na higiene. Líder do setor no País, a rede francesa Accor, dona de marcas como Ibis e Mercure, já reabriu cerca de um terço de seus hotéis. Por segurança, oferece no máximo 60% dos quartos ao mercado, em sistema de rotação, dando um “descanso” mínimo de 24 horas antes de reservar uma mesma unidade.EUA:Desde a terça-feira, dia 26 de maio, visitantes brasileiros estão proibidos de entrar nos Estados Unidos, como anunciou o governo americano. A mesma medida já havia sido tomada em relação à Europa e à China.Nos aeroportosMarcações no chão lembram da necessidade do distanciamento social nas filas de segurança.Passageiros vão passar a escanear seus próprios cartões de embarque e depois mostrá-los para os agentes de segurança - nesse processo, os passageiros podem usar máscaras, que devem ser retiradas se o agente pedir.Passa a ser permitido levar cerca de 350 ml de higienizador para mãos na bagagem de mão. O máximo antes era de aproximadamente 100 ml.União Europeia:A Agência Europeia para Segurança da Aviação (Aesa), órgão regulador, e o Centro Prevenção e Controle de Doenças divulgaram diretrizes para voos na União Europeia. Entre as medidas, estão:Uso obrigatório de máscara para maiores de 6 anos;Restrições a bagagens de mão;Redução de serviço de bordo;Proibição de venda de produtos nos voos;Instalação de barreiras de acrílico em check-ins e áreas de segurança.Alemanha:Com as restrições a voos sendo reduzidas na Europa, a Associação Alemã de Aeroportos lançou guia de recomendações. A princípio, recomenda-se que os terminais funcionem com algo entre 20% a 50% de capacidade. Confira outras medidas:Passageiros precisam usar máscaras em todos os ambientes dos aeroportos;Terminais têm de garantir mais balcões ou totens de check-in, além de mais ônibus para transporte de passageiros até o avião;Nas filas, é necessário que passageiros mantenham distância de 1,5 metro uns dos outros.Espanha:Visitantes estrangeiros vão poder entrar na Espanha para a temporada de verão a partir de julho. O turismo nacional será retomado antes, já no fim de junho. Poucos voos estão sendo realizados e os viajantes, tendo de passar por quarentena. Espera-se que a partir de julho já não haja necessidade de fazer isolamento de 14 dias. Vários hotéis foram liberados para abrir em meados de maio, mas só devem funcionar de fato com a chegada dos turistas.Portugal:O governo ainda não definiu uma data, mas afirmou que os visitantes serão bem-vindos para a temporada de verão. Haverá controles sanitários, mas não quarentena, sendo o Ministério do Turismo. Algumas regiões, como Madeira, já avisaram que estarão abertas a turistas a partir de 1º de julho, com apresentação de teste de covid-19 negativo ou exame feito na chegada, pago pelas autoridades locais. No Algarve, vários hotéis já se encontram abertos e as praias estarão liberadas em junho.Reino Unido:O governo anunciou que, com a previsão de aumento na circulação de pessoas, vai implementar em breve medidas extras nos aeroportos. Veja quais:Visitantes internacionais precisam fazer um auto-isolamento de 14 dias, sob pena de pagar 1 mil libras de multa;Viajantes têm de fornecer contato e informação sobre onde ficarão acomodados. Se não tiverem, pagarão multa de 100 libras;Quem não disser onde se hospedará, ficará em uma acomodação determinada pelo governo;Visitantes vão serão instados a baixar o aplicativo da NHS, que permite contato e localização.Coreia do Sul:Visitantes estrangeiros podem entrar, desde que cumpram quarentena por 14 dias.Taiwan:Está permitindo a entrada de alguns visitantes a negócios, sujeitando-os às regras de quarentena.Hong Kong:Aeroportos começam a reabrir parcialmente em 1º de junho, com medidas reforçadas contra o novo coronavírus. Veja algumas:Instalação de máquinas de desinfecção de corpo inteiro para passageiros e funcionários, antes de entrarem no terminal do Aeroporto Internacional de Hong Kong;Quem chegar de um voo vai precisar passar por teste de coronavírus antes de ser liberado para entrar em Hong Kong. Os que tiverem resultado positivo, serão encaminhados diretamente para a quarentena.Nova Zelândia:Quase todos os estrangeiros estão proibidos de entrar no país.Neozelandeses que retornam do exterior são colocados em quarentena por 14 dias em hotéis monitorados.Como a demanda está muito baixa – e não deve se recuperar de forma significativa nos próximos meses –, manter parte da oferta inativa pode ser uma forma de baixar custos. “Hoje, a ocupação média dos hotéis que estão abertos está entre 15% e 25%”, diz Carlos Bernardo, diretor regional de hotéis econômicos e de médio padrão da Accor.Embora o movimento ainda seja insuficiente para cobrir os custos da operação, o protocolo de reabertura vai ser acelerado. “Temos 300 gerentes, no total, e 120 são de hotéis operados por franquias. Mas todos estão recebendo o mesmo treinamento”, diz o executivo. Dos 300 hotéis da rede Accor no País, 103 estão em funcionamento. A partir desta segunda-feira, dia 1.º de junho, a companhia pretende aceitar hóspedes em outras 23 propriedades.Assim como outras marcas, a Accor foi buscar certificação externa para comunicar ao cliente que está fazendo todos os esforços para evitar a contaminação. A Bureau Veritas, na esteira da covid-19, criou a certificação Safeguard (Distância Segura), que inclui regras de distanciamento social e limpeza. Para garantir que as medidas estão sendo cumpridas, a consultoria faz visitas sem aviso às unidades hoteleiras – em caso de descumprimento, o selo é retirado.Também com a maioria dos hotéis fechados no Brasil, a rede Blue Tree traça planos para quando for permitido receber hóspedes novamente. Em vez de bufês de comida, a ideia é oferecer serviços de quarto em embalagens de marmitas. Outra prática será fazer intervalos de 48 horas entre a ocupação dos apartamentos, para que haja tempo suficiente para desinfecção. “Os hospitais aprendiam hospitalidade com a hotelaria. Agora, teremos de trazer os cuidados sanitários dos hospitais para dentro dos hotéis”, diz Chieko Aoki, presidente da rede.Ainda sem data prevista para o retorno da operação, o Fairmont Copacabana, hotel de luxo no Rio de Janeiro, também se organiza para as novas necessidades do cenário. “Estamos avaliando, por exemplo, estabelecer um limite de pessoas para as academias, com horário de revezamento e com separação e limpeza de equipamentos, além de regras de distanciamento e higienização nos restaurantes e bares”, afirma Michael Nagy, diretor de Marketing e Vendas do Fairmont. “Uma das ideias também é oferecer para os clientes kits com máscaras e álcool gel que possam ser levados sempre na bolsa.”O Estadão procurou várias redes hoteleiras sobre o protocolo de higiene para reabertura das operações. Entre as medidas já adotadas estão: esterilização de sapatos na entrada, totens de atendimento virtual na recepção, instalação de proteção de acrílico nos momentos de interação presencial, fechamento de restaurantes, distribuição de álcool em gel e máscaras. Nos quartos, a limpeza ganhou protocolos de esterilização, mas não ocorre mais todos os dias. Assim, há menos “entra-e-sai” de funcionários no ambiente.RECUPERAÇÃO LENTAA pesquisa da Hotel Invest – feita em parceria com a Omnibees, a STR, e o Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil (FOHB) – prevê queda de até 70% da demanda no acumulado de 2020, em relação ao ano passado. A perspectiva pessimista se justifica pela queda acentuada do setor aéreo (que alimenta o turismo de negócios e hoje opera a 10% de sua capacidade) e do cancelamento em série de grandes eventos, shows e convenções.“Mesmo com muitos eventos tendo sido remarcados para o segundo semestre, a evolução da pandemia não está clara. Portanto, nada impede novos adiamentos ou cancelamentos”, diz Pedro Cypriano, sócio da Hotel Invest. De maneira geral, espera-se que a demanda retorne primeiro nos empreendimentos de baixo custo – a expectativa é de que esses hotéis retomem o equilíbrio financeiro a partir de setembro ou outubro. Para o alto padrão e os resorts, uma situação mais saudável não virá antes de 2021.Operar sem prejuízo não será fácil. De um lado, fechar restaurantes e bloquear parte das instalações ajuda a reduzir o custo em uma época em que se sabe que a demanda está baixa. De outro, os protocolos de limpeza mais exigentes ampliam gastos. Em um cenário normal, a ocupação mínima necessária para que um hotel de baixo custo atinja o equilíbrio financeiro é de 37%. Agora, o desafio é conseguir operar com 25% ou 30% da capacidade sem perder dinheiro, diz Cypriano.Para Orlando de Sousa, presidente do Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil, haverá uma inevitável redução da oferta de hotéis, especialmente fora das capitais, e também uma redefinição de algumas propriedades. “Os apart-hotéis, que hoje atuam de forma híbrida, podem ser convertidos em edifícios residenciais puros”, explica.A corda, inevitavelmente, deve arrebentar do lado mais fraco – nos hotéis independentes e familiares, afirma Sousa. “As grandes redes têm caixa para passar esses meses de turbulência, que foram vistos lá fora e também vão ser percebidos aqui. Mas o pequeno não tem caixa nem condições de esperar a volta da demanda. E esses hotéis, que fecharam temporariamente, não vão mais ser reabertos.”PROTOCOLOS NO TRANSPORTE AÉREOQuanto às viagens aéreas, as preparações para a retomada estão mais avançadas, uma vez que o serviço continua funcionando em meio à pandemia, mesmo com o número de voos reduzido. Na semana passada, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicaram um protocolo com novas medidas sanitárias para empresas aéreas e aeroportos, com o intuito de preparar o setor aéreo para o momento de retomada da demanda pelo transporte. Entre as diretrizes, estão o uso de máscara por passageiros e funcionários, a organização do embarque e do desembarque por filas para evitar aglomerações e também a suspensão de serviço de bordo nos voos nacionais.“Vamos adotar o que é orientado pelas autoridades sanitárias. A retomada vai acontecer de acordo com a demanda, quando as pessoas voltarem a se sentir seguras para viajar e quando os destinos puderem recebê-las”, afirma Eduardo Sanovicz, presidente da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear).Uma prática que deve se tornar padrão para viagens aéreas no pós-pandemia é a chegada com antecedência ao aeroporto. “Todos os processos, como raio-x, precisam de distanciamento. Tudo acaba ficando mais lento e é preciso mais tempo para fazer um embarque mais tranquilo”, afirma Marcelo Bento Ribeiro, diretor de Alianças e Relações Institucionais da companhia aérea Azul.Além disso, ao redor do mundo, tem sido bastante debatida a necessidade de deixar a poltrona do meio vazia entre passageiros no avião: para voar na Malásia e na Indonésia, por exemplo, a aeronave precisa levar até 50% da capacidade. Essa, no entanto, não é uma medida prevista pelas empresas aéreas no Brasil. “Não estamos discutindo a redução de passageiros nos voos. As aeronaves contam com uma filtragem que renova o ar dos aviões a cada três minutos, e há a diretriz de uso de máscaras pelos passageiros e funcionários”, diz Sanovicz, da Abear.AJUDA TECNOLÓGICAEm todo esse processo de adaptação tanto empresas aéreas quanto hotéis acreditam que a tecnologia será uma grande aliada para evitar o contato físico durante o serviço. “O check-in digital vai ser fundamental nos hotéis, para evitar o contato com funcionários no balcão. Já temos essa ferramenta, vamos reforçar para os clientes a necessidade de usá-la, e estamos trabalhando no desenvolvimento de um sistema online de check-out”, diz Chieko Aoki, presidente da rede Blue Tree.No centro de toda essa estrutura estará o turista — e são as demandas e comportamentos desse cliente pós-pandemia que o setor tenta decifrar. “Talvez as pessoas queiram vir para o Rio de Janeiro não para ficar na praia, mas na piscina do hotel curtindo a vista, sabendo que estão em um lugar seguro, sendo cuidadas”, imagina Nagy, do Fairmont. “As pessoas vão querer uma garantia mínima de segurança.”