A invasão da Ucrânia por tropas russas pode trazer efeitos a outros países, principalmente no que diz respeito aos impactos econômicos. No caso do Brasil, em especial no Tocantins, o aumento dos custos de produção poderá ser um alerta no que diz respeito ao agronegócio, importações e exportações. O economista Waldecy Rodrigues enfatiza que esse é um tema complexo de consequências imprevisíveis. “A princípio tende para um aumento de preços dos insumos, ligados a petróleo e gás, como por exemplo os fertilizantes. Por outro lado, a junção disso com a crise econômica vindo da Covid-19, pode agravar ainda mais crises de abastecimento em cadeias produtivas globais”, explicou. E se os brasileiros já estão reclamando que a alimentação está cada vez mais cara, o aumento do dólar e a crise no mercado do petróleo também devem pressionar ainda mais, os valores cobrados pelos alimentos. “É possível sim, principalmente pelo aumento dos preços dos insumos agropecuário , dos combustíveis e do gás”, acrescentou o economista. Mesmo o Brasil estando longe desse cenário de guerra e conflitos, será que uma possível quebra de fornecimento poderia atingir em cheio o agronegócio no estado? “A Rússia é uma grande economia , certamente causará um impacto no fluxo de comércio internacional. Mas, certamente haverá uma adequação dos fluxos de comércio em outras direções se necessário for. Deste lado, não prevejo um impacto tão forte assim”, explicou Waldecy Rodrigues. No cenário da exportação, destaca-se por exemplo, que Araguaína, na região norte do Tocantins, envia carne bovina para a Rússia. O Serviço de Fiscalização Veterinária e Fitossanitária da Rússia autorizou em 2019, a exportação de carne bovina pela unidade da Minerva em Araguaína. Na época foi anunciado pela companhia, que a planta teria capacidade para abater 800 cabeças de gado por dia. Assim, passaria a ter três unidades autorizadas a exportar carne para o país mais extenso do mundo, com capacidade total de 4.300 cabeças por dia. A reportagem procurou a empresa para saber sobre os possíveis impactos que esses conflitos poderiam trazer no caso de uma possível quebra de fornecimento, mas a mesma não quis comentar sobre o assunto. Crise no desabastecimento O diretor de captação e investimentos da Seagro (Secretaria da Agircultura,Pecuaria e Aquicultura), Corombert Leão, explica que a crise de desabastecimento em alimentos está relacionada à duração do conflito e não simplesmente ao fato. Segundo o especialista, se for uma guerra que se estenda, ela pode envolver outros países, o que poderia ter uma valorização maior do produto. "Independente da crise hoje com a Ucrânia, nós temos dois pontos que levaram a alta dos produtos: no início dos anos 2020, nós tivemos o desabastecimento de peças e eletrônicos que servem para nossas máquinas agrícolas, computadores e assim por diante, gerando um problema sério para a agricultura e para o Brasil. No final de 2020, nós já tivemos um desabastecimento de alguns países que sofreram com as condições climáticas e agora agravando na Argentina, Paraguai, Uruguai, o que coloca o Brasil como um dos poucos exportadores de alimentos. Então a crise da Ucrânia deverá interferir muito menos do que o desabastecimento gerado pelas secas no sul, pelo El Nino e La Nina. Essa guerra eu colocaria como um problema mais relacionado ao tempo da guerra, do que a guerra em si”, explicou. O diretor da Seagro também lembra que o agro brasileiro demanda 80 % dos fertilizantes de outros países, como Rússia, Ucrânia, Canadá, Iraque e Irã. "Então já temos um problema de desabastecimento de fertilizantes há muito tempo. A guerra não vai se agravar em termos de fornecimento. Outras moléculas para os defensivos e protetores das plantas também têm faltado, encarecendo ainda mais os produtos químicos utilizados na agricultura. Também não será a guerra que vai interferir na oferta desses produtos e nos preços praticados. Hoje o agro se encontra em um momento muito ruim, difícil com os altos custos”, finalizou Corombert Leão.