O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que o novo coronavírus pode reduzir o Produto Interno Bruto (PIB) do País para uma queda de 0,1 a 1 ponto porcentual em um cenário leve a grave, respectivamente. O comentário foi feito, segundo fontes, em uma reunião realizada na noite desta quarta-feira com lideranças do Congresso.Guedes disse que se o impacto vírus for de cinco a sete meses, a economia do País “recupera e volta”. Ele pediu a aprovação rápida da agenda econômica e sugeriu rediscutir o Orçamento da saúde. Para ele, a doença é grave, mas o Brasil tem capacidade para crescer.O ministro defendeu ainda descentralizar recursos e a aprovação do pacto federativo para agilizar a ação de Estados e prefeituras no combate ao vírus. Ele destacou o diálogo entre governo e Legislativo sobre reforma tributária e a PEC emergencial (que permite, entre outras coisas, reduzir salários de servidores públicos). Guedes disse, durante a reunião, que o Brasil tem “espaço monetário (para reduzir os juros básicos e incrementar o crédito), mas não tem espaço fiscal”, ainda segundo parlamentares.O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), também presente ao encontro, cobrou de Guedes respostas para o curto prazo e disse que o Congresso vai continuar apoiando reformas. Vários deputados cobraram Guedes para respostas a curto prazo para empresas que poderão ser afetadas pelo coronavírus. Maia cobrou sobre as empresas de aviação. Para o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e é preciso observar o impacto do avanço do novo coronavirus sobre o PIB de serviços, que responde por mais de dois terços da renda gerada no País. Segundo fontes presentes na reunião, Campos Neto disse que é "importante olhar quando as pessoas param de viajar". Ele lembrou ainda que o PIB de serviços "é afetado de forma diferente" e tem "recuperação mais lenta". Guedes disse que se houver impacto forte da crise sobre o PIB de serviços, isso levará o governo a "reagir soltando recursos especiais", segundo apurou o Estadão/Broadcast. O ministro, porém, fez questão de ressaltar que os bancos públicos já "dispararam" linhas de crédito para assegurar capital de giro a pequenas e médias empresas."Grande (empresa) se vira, pequenas e médias é que sofrem. Não queremos que eles percam capital de giro e colapsem a economia de serviços. Tem que ter crédito, sustentação, estamos trabalhando (nisso)", afirmou.Guedes disse que o impacto econômico vai depender de como os agentes reagirem e que esse é um cenário ainda incerto. "Não sabemos ainda como sera reação", disse. "Se continuarmos nossas formas de vida, a economia resiste um pouco mais, e a contaminação aumenta. Se mudarmos nosso comportamento, contaminação desce, mas economia afunda junto", acrescentou."Se impacto for muito forte teremos que entrar com esse tipo de medida (estímulos)", disse Guedes.CríticasA fala do ministro desagradou lideranças parlamentares. Alguns congressistas acabaram saindo mais cedo para demonstrar o descontentamento. De acordo com um deputado, Guedes repetiu trechos de discursos anteriores, mas não apresentou uma perspectiva clara sobre os impactos do covid-19 na economia, nem mostrou um plano emergencial para o País.Um senador que acompanhou a reunião disse que o ministro da Economia quis dar uma "aula de história" a deputados e senadores. Além disso, Guedes insinuou que os deputados e senadores não deveriam tumultuar o ambiente político, o que gerou burburinhos e azedou de vez o clima. Parlamentares consideram que é o presidente Jair Bolsonaro o principal responsável por provocar ruídos na relação entre Executivo e Legislativo.Outro motivo de incômodo foi o otimismo de Guedes em relação ao cenário econômico baseado na aprovação das reformas defendidas pelo governo, independente do novo contexto do cenário internacional. Outro questionamento é que o Palácio do Planalto ainda não enviou matérias relevantes, como a reforma administrativa, ao Congresso.Ao deixar o encontro, o senador Eduardo Braga (MDB-AM) elogiou a apresentação do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, mas afirmou que o governo ainda não apresentou uma agenda emergencial na área econômica para dar amparo a essas ações.Braga defende que será preciso ter esse planejamento para curto, médio e longo prazo. "A reunião de hoje teve como objetivo estabelecer a gravidade da situação. Demonstra a gravidade do momento que estamos vivendo", declarou.O líder da Rede no Senado, Randolfe Rodrigues (AP), disse que "a agenda econômica não é prioridade". Ele demonstrou insatisfação com o fato de o ministro não ter, segundo ele, anunciado nada de concreto na reunião sobre o coronavirus com os congressistas."O único que anunciou algo de concreto, deu detalhes, foi o ministro (da Saúde, Luiz Henrique) Mandetta", disse. Segundo o líder, Mandetta traçou cenário de contágio em espiral a partir da semana que vem. "Minha convicção é que prioridade agora não é agenda econômica. Temos que tomar medidas necessárias, agora não há governo ou oposição", afirmou.Randolfe defendeu que o Congresso desista do projeto que dá poder ao relator do Orçamento para direcionar R$ 15 bilhões e pediu a destinação total desses recursos para a saúde. "Ministro Mandetta disse que efeito sobre sistema de saúde pode ser devastador", afirmou o líder.